Para
O Outro Lado. Os Fantasminhas Camaradas.
Kiyoshi Kurosawa, que
não tem nada a ver com o lendário Akira Kurosawa, lança seu novo filme. “Para o
Outro Lado” é uma co-produção francesa e japonesa, que mais uma vez nos dá a
oportunidade de tomar contato com a cultura oriental. É um filme que discute
questões profundas de reflexões sobre a vida e a morte. Um filme singelo,
delicado e sereno.
Vemos aqui a história
de Mizuki (interpretada por Eri Fukatsu), uma mulher que vive solitária em seu
lar. Ela era viúva e, um belo dia, do nada, seu marido Yusuke (interpretado por
Tadanobu Asano) reaparece depois de três anos. O homem disse que estava morto e
pertencia a um outro mundo. Ele retornou para levar a mulher a uma viagem. O
objetivo dessa jornada será conhecer pessoas que foram importantes para a vida
de Yusuke. O detalhe é que, dentre todas essas pessoas que o casal irá visitar,
nem sempre sabemos quem está vivo ou morto, e Mizuki irá descobrir justamente
isso aos poucos, numa experiência que irá mudar completamente a sua vida.
Esse filme possui uma
fronteira muito tênue entre o onírico e o real. Por mais de uma vez,
presenciamos situações em que Mizuki conversa com seu marido para, em seguida,
ela acordar de seu sonho, mas encontra novamente o marido em sua sala. Num
momento, Mizuki está numa casa com Yusuke e um de seus amigos, e, noutro
momento, encontramos a moça nessa mesma casa em ruínas. A primeira impressão é
a de que estamos vivenciando um enorme devaneio de Mizuki, mas em outro
momento, toda essa impressão desaparece e ela aparentemente vive situações bem
reais. E assim. a película vai se desenrolando. A própria Mizuki tomará contato
com outros “fantasmas” além do marido: o velhinho que entrega jornais, a
menininha que toca piano, o pai que não aceitou seu marido. O mais curioso é
que, nesses contatos com a morte, Mizuki pôde presenciar várias experiências e
memórias de vida, fazendo com que a vida e a morte interagissem mutuamente,
tornando-se uma coisa só. É a mesma sensação que você tem quando passeia num
cemitério: um lugar que é a representação mais latente da morte no fundo é um
agregado de pequenos monumentos que contam histórias de vida. Essa mesma
celebração da vida na morte aparece na própria viagem promovida por Yusuke, que
acaba assumindo vários atores sociais: numa cidade, ele auxiliava um entregador
de jornal; noutra, trabalhava num restaurante; ele poderia também ser dentista
numa terceira cidade; e um prolífico professor numa pequena comunidade de
interior. Uma quantidade enorme de experiências de vida para um fantasma, não?
Como se não bastasse a
oportunidade de fazermos uma reflexão que interage elementos aparentemente tão
dicotômicos quanto a vida e a morte, ainda tivemos o que o melhor do cinema
japonês tem: sua fotografia imbatível, seu estilo contido e sereno de
interpretação, a delicadeza em cada gesto e imagem. É um cinema que sabe nos
fazer relaxar para colocar, nas melhores condições possíveis, a nossa cabeça
para refletir sobre os ensinamentos que são transmitidos pela tela. Muito me
impressionou o personagem Yusuke, que tinha um senso de humor um pouco maior
que a média que vemos no cinema japonês de arte. O fantasminha camarada estava
sempre sorridente, rindo ao falar com sua esposa, obviamente de forma bem
contida, mas ainda assim bem-humorada. Essa foi uma interessante característica
desse filme.
Assim, “Para o Outro
Lado” é um filme altamente recomendável, pois nos traz novamente a serenidade
da cultura japonesa e uma reflexão que interage vida e morte, onírico e real. Um
filme em que os mortos sobrevivem nas memórias. E não deixe de ver o trailer
depois das fotos.
Cartaz do filme
Mizuki, uma mulher solitária
Um marido que volta depois de três anos
O casal começará uma viagem inesquecível
Cenários que insinuam o onírico
Fotografia insuperável!!!
O fantasminha camarada, em meio a aparições e sumiços
O diretor Kiyoshi Kurosawa
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