45
Anos. Fantasmas Do Passado.
A atriz inglesa Charlotte
Rampling é tudo de bom. Sua elegância seja interpretando em inglês ou francês,
como ocorre na maioria de seus filmes, é inquestionável. É o tipo de atriz que
te chama para ir ao cinema. Você nem sabe o enredo do filme, mas só de saber
que ela está lá na película, faz você ir assisti-la. E, dessa vez, não foi
diferente, já que ela era a atração principal de seu novo filme, “45 Anos”, já
há várias semanas em cartaz e com a pequena sala do Estação Botafogo 3 lotada.
Mesmo que o filme estivesse em apenas uma sessão, é notável como a elegante
senhora ainda atrai público, a sua maioria composta de idosos, mas também com
alguns jovens. E nunca é demais lembrar que esse filme ganhou dois ursos de prata em Berlim, de melhor atriz e ator.
No que consiste a trama
desse filme produzido na Inglaterra e dirigido por Andrew Haigh, adaptado de um
conto de David Constantine? Rampling interpreta Kate Mercer, uma senhora que
leva uma vida pacata com seu marido, Geoff Mercer (interpretado por Tom
Courtenay). Um belo dia, Geoff recebe uma carta em alemão dizendo que o corpo
de sua antiga namorada, Katia, foi encontrado congelado nos Alpes Suíços. Há
cerca de cinquenta anos, Geoff e sua namorada escalavam os Alpes quando a moça
caiu numa fenda na rocha e desapareceu. O seu corpo congelou imediatamente e
ficou preservado, enquanto Geoff envelheceu.
A descoberta do corpo intacto de um antigo amor depois de tanto tempo
encucou Geoff, que começou a se comportar de forma muito estranha. Ele voltou a
fumar, passou a ler livros diferentes, escutar músicas diferentes, e tudo isso
remetia a Katia, para desespero de Kate que, num primeiro momento, aceitou
passivamente a situação, mas não conseguiu lidar com a seguida obsessão do
marido, revolvendo um passado que afetou diretamente a relação do idoso casal.
É um filme daqueles que
nos faz refletir, e muito, sobre a natureza dos relacionamentos humanos. Uma
prova de que antigas feridas, aparentemente cicatrizadas com o tempo, podem
abrir de uma hora para a outra e afetar nossas vidas violentamente. É um filme
para aqueles que dizem que o tempo cura tudo. Há quem diga que, se isso fosse
verdade, relógios seriam vendidos em farmácias. Nossas experiências e traumas
ficam lá adormecidos no íntimo de nossos inconscientes, podendo ser despertados
a qualquer momento. Nós nunca nos livramos de nossas dores. O problema é o que
faremos para lidarmos com elas e tocarmos nossas vidas adiante. Até porque
existem pessoas que estão à nossa volta e que podem sofrer impactos de nossas
dores interiores. Foi exatamente o caso apresentado no filme.
Dependendo de como
lidamos com essas dores, podemos ter dois desfechos. O filme optou por algo,
digamos, menos complexo, ou seja, a questão da angústia e do sofrimento poderia
ter sido bem mais trabalhada. Mas, apesar de uma saída mais simplória, sempre
fica a pergunta: até que ponto as cicatrizes ficam abertas ou fechadas? Até que
ponto a dor, que com certeza está lá, consegue ser suportável? O filme ficaria
bem mais interessante com essas pulgas lá atrás na orelha. Entretanto, ainda
foi um filme de Charlotte Rampling. Assim, “45 Anos” é um filme com um bom tema
polêmico, um desfecho um tanto simplório, mas com uma atriz excepcional. Vá,
reflita, não espere muito e, se você gosta de Charlotte Rampling, deleite-se
com a diva. Ah, e não se esqueça de ver o trailer do filme após as fotos.
Cartaz do filme
Um casal vivendo um existência tranquila...
Mas uma carta mudará a rotina...
O marido começa a se comportar estranhamente...
Leituras diferentes...
Preocupação
Reflexões
Em Berlim, com o diretor Andrew Haigh
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