Boi
Neon. O Estilista da Vaquejada.
Um curioso filme
brasileiro nas telas. “Boi Neon”, escrito e dirigido por Gabriel Mascaro, mais
uma vez tem como cenário o Nordeste Brasileiro. Só que, desta vez, temos
arroubos de corte e costura. É um filme que mistura duas coisas tão díspares
quanto uma vaquejada e a arte de produzir roupas.
Vemos aqui a história
de Iremar (interpretado por Juliano Cazarré) e Galega (interpretada por Maeve
Jinkings). Eles têm uns boizinhos e viajam pelo agreste fazendo shows de vaquejada.
Eles precisam passar pela dura rotina de cuidar dos bois e de continuar a
viajar por aí de caminhão, com os boizinhos e tudo. Mas Iremar tem um estranho hábito: pega restos
de manequins em lixões, desenha roupas em corpos de mulheres nuas em revistas
(para o desespero dos peões), tira medidas da Galega com fitas métricas. O
motivo? Iremar quer ser estilista! Isso mesmo o que você ouviu! E aí, o nosso
protagonista faz roupas para a Galega, que faz números sensuais com uma
estranha máscara de égua na cabeça. O grande sonho de Iremar, um verdadeiro
autodidata, era trabalhar no Pólo de Confecções do Agreste e largar aquela vida
cercado por bois e muita bosta.
Que história “sui
generis”, não? O filme tem a curiosidade de mostrar como é a rotina de cuidar
dos boizinhos, com cenas até certo ponto angustiantes, onde os bichinhos
pareciam sofrer (um bezerro, por exemplo, era marcado com ferro quente, e bosta
de vaca era colocada em cima da queimadura para que ela não infeccionasse).
Confesso que não fiquei para os créditos finais para ver aquela famosa frase:
“nenhum animal foi maltratado na produção deste filme”. Mas os bois pareciam
não gostar muito de certas coisas que se faziam com eles. A própria vaquejada
era em si um espetáculo deprimente, pois dois homens montados a cavalo cercavam
um boi correndo e um deles puxava o rabo do pobre bicho, levando-o ao chão.
Você pode até falar que isso é da cultura local, etc., mas que o bicho que
tomava o tombo não estava nem um pouquinho contente, ah isso não estava não.
Houve algumas cenas de
sexo bem tórridas, como se elas fossem um alívio para dura rotina dos
personagens. Numa delas, a moça estava grávida, com um enorme barrigão.
Confesso que foi o primeiro filme em que eu vi essa situação e é mais uma
curiosidade peculiar que aparece nessa película.
Os atores estiveram
bem, sobretudo Juliano Cazarré, que conseguia igualmente ser um “cabra” duro do
sertão mas também mostrar momentos de delicadeza e humanidade, ao abraçar a
filha de Galega, Cacá, que não conhecia o seu pai e carecia de uma figura
paterna. Aliás, essa menina (a atriz Alyne Santana) foi uma grata surpresa no
filme, tendo um papel de destaque e atuando muito bem, sobretudo quando ela
implicava com os peões. Maeve Jenkings também desempenhou bem o seu papel,
tendo que dividir as responsabilidades de líder da trupe, de dançarina e de
mãe, numa tripla jornada de trabalho. Ah, e ainda tinham os bois, que ela
tratava junto com os outros peões. Um ator que estava ali escondidinho, fazendo
um papel secundário, foi Vinícius de Oliveira, que ficou famoso como o
menininho Josué do filme “Central do Brasil”, de Walter Salles. Ele
interpretava o papel de Júnior, um dos peões.
Ah, sim, e por que o
título, “Boi Neon”? É porque, durante as apresentações noturnas de vaquejada,
os boizinhos eram cobertos por um pó fluorescente, para que seus tombos
ficassem, digamos, mais cinematográficos e pirotécnicos. Foi muito “legal” ver
um boi fluorescente verde levando um tombo dos vaqueiros.
Uma parte interessante
foi o desfecho, daqueles que eu já falei aqui que aconteceu em outros filmes,
ou seja, um desfecho com uma tremenda cara de anticlímax, aqueles desfechos em
que a gente se pergunta: “Ué, já acabou?”. Parece que a intenção aqui foi
realçar que a rotina permaneceria tocada e interminável.
Assim, “Boi Neon” é
mais uma curiosa e interessante película brasileira, que une dois temas que são
muito distintos um do outro (vaquejadas e corte e costura), além de possuir uma
boa interpretação de atores e de exibir uma dura rotina de um grupo de pessoas
que viaja pelo Nordeste vivendo de entretenimento. E não deixe de ver o trailer
após as fotos.
Cartaz do filme
Iremar tinha um sonho
Ele queria ser estilista
Cacá, que acompanhava a trupe
Uma menininha carente de pai...
Uma mulher à frente da trupe...
Boizinhos e sonhos...
Lembram do Vinícius de Oliveira?
Festival de Veneza, 2015. Ao centro, o diretor Gabriel Mascaro.
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