Brigitte Helm, A Deusa Eterna De Yoshiwara!!!

Brigitte Helm, A Deusa Eterna De Yoshiwara!!!
Brigitte Helm, A Deusa Eterna De Yoshiwara!!!

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Resenha de Filme - O Físico

O Físico. Loucas Aventuras De Um Médico Inglês No Oriente Médio.
Um bom filme histórico em circuito. “O Físico”, infelizmente, começa com uma tremenda barbeiragem na tradução. O título original do filme é “The Physician”, que significa “O Médico”. E a nossa tradução ficou “O Físico”, quando físico em inglês é “Physical”. Pegou muito mal. Teve gente perguntando na fila do cinema se era filme sobre o físico Stephen Hawking, provavelmente em tom de gozação. Mas voltemos ao filme. Ele é baseado no romance de Noah Gordon e conta a história de um rapaz inglês, Rob Cole (interpretado por Tom Payne) que vive em Londres no século 11 e que perdeu a sua mãe por causa de uma doença conhecida como “doença do lado”. Rob irá viver com um barbeiro (interpretado por Stellan Skarsgard), que também ganha a vida vendendo supostos remédios milagrosos. Devemos nos lembrar do contexto da Europa Medieval, onde a medicina e as condições de higiene eram muito pouco desenvolvidas. Um dia, o barbeiro contraiu catarata e ficou nas mãos de médicos judeus, fazendo uma pequena operação que trouxe-lhe de volta a visão. Muito curioso, Rob, que já era um estudioso da medicina, perguntou como aqueles médicos conseguiram acesso a uma ciência médica tão desenvolvida. Eles então lhe disseram que aprenderam o que sabiam numa cidade do Oriente Médio e que um dos melhores professores era Ibn Sina (interpretado pelo sempre excelente e magistral Ben Kingsley). Rob então iniciará uma viagem para o Oriente Médio, ávido por ser aluno de Ibn Sina. Mas essa empreitada será muito perigosa, já que Rob é cristão e poderá sofrer perseguições dos muçulmanos. Por isso, ele irá disfarçado de judeu, povo mais aceito pelos árabes. Nosso protagonista, inclusive, terá que fazer uma circuncisão a sangue frio para seu disfarce convencer.
O filme aborda um tema muito interessante, que é o desenvolvimento tecnológico e as condições de vida na Europa Medieval, em detrimento de um nível tecnológico bem maior no mundo muçulmano do Oriente Médio. Enfatizar essas diferenças nos ajuda a eliminar certos preconceitos com relação aos muçulmanos. Era muito interessante perceber a escola de Ibn Sina, com direito a muitos livros e a citações de gregos antigos. Mas, mesmo com todo o desenvolvimento científico, a componente religiosa se fazia presente. Se Rob queria dissecar cadáveres, Ibn Sina dizia que isso era pecado nas três religiões reveladas (a muçulmana, a cristã e a judaica). A componente religiosa acaba, infelizmente, abrindo um precedente para alimentar alguns preconceitos. Se o filme parecia um bom exemplo de expressão de uma visão culturalista, ela cai por terra ao reproduzir certos estereótipos que o Ocidente produz sobre o Oriente. A Escola é no Oriente Médio e tem professores árabes muçulmanos como Ibn Sina? Sim. Mas a maioria dos estudantes é composta de judeus. Ainda, há um grupo de Imãs e Mulás que vê a visão científica da escola como uma afronta a Alá. Ainda, há uma tribo fundamentalista que quer invadir a cidade para instituir uma ditadura teocrática e derrubar o governo do Xá que persegue esse fundamentalismo religioso. Qualquer semelhança com o Irã do contexto da Revolução Islâmica de 1979 NÃO é mera coincidência. Ou seja, mesmo que a escola seja de origem árabe, a maioria judaica de alunos parece querer nos dizer que esse povo teria mais relações com um conhecimento científico do que os muçulmanos, retratados como fundamentalistas. O árabe que lutava contra esse fundamentalismo era justamente o Xá, assim como o Xá do Irâ, Reza Pahlevi, que lutava contra a Revolução Islâmica e era aliado dos Estados Unidos. Assim, infelizmente esse filme reproduz o estereótipo do judeu civilizado e do muçulmano bárbaro e intransigente, quando tinha em mãos uma oportunidade única de lançar mão de um enfoque mais culturalista que ajuda a questionar preconceitos.

De qualquer forma, o filme atrai muito a atenção, pois mostra ideias presentes no Oriente Médio do século 11 que só desabrochariam na Europa renascentista do século 14. É uma história que vale a pena ser assistida, mesmo que carregada de alguns preconceitos.

 
Cartaz do Filme. Erro de tradução...


Ainda na Europa, Rob (de azul) quer se desenvolver como médico.


Em viagem pelo deserto para chegar ao Oriente Médio.


Ibn Sina, o grande mestre.

Rob cuida da amada nas violentas epidemias

Conhecendo o poderoso Xá.


Fazendo cirurgia no Xá.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Resenha de Filme - Drácula, A História Nunca Contada

Drácula, A História Nunca Contada. Senhor Feudal Com Poderes Absolutos.
Mais um Drácula na tela. Esse talvez seja um dos personagens da cultura mundial que jamais saem de moda. Já teve Drácula de tudo quanto é jeito. Dessa vez, foram enfocadas as supostas origens do vampiro, ou seja, como nosso conde Vlad (interpretado por Luke Evans) ficou com seus poderes sobrenaturais. Tudo isso dentro de um contexto de guerra contra os turcos, que submetiam a Transilvânia. A terra do leste europeu era obrigada a fornecer meninos para serem soldados do exército turco, sendo que o próprio Vlad, o filho do governante da Transilvânia, passou por esta experiência, sendo o mais violento e assassino de todos, a ponto de ser conhecido como “O Empalador”. Vlad consegue retornar à sua terra natal e ser líder do seu povo, mantendo relações “amistosas” com os turcos (o povo da Transilvânia era obrigado a pagar tributos para os turcos). Até que, um belo dia, os turcos insistem na história de levar crianças da Transilvânia novamente para serem seus soldados, inclusive o filho de Vlad. O que os turcos não sabiam é que uma criatura demoníaca e poderosa (interpretada por Charles Dance) vivia numa caverna no alto da Montanha do Dente Quebrado. Vlad, ao explorar sua caverna, perdeu dois de seus soldados. O líder da Transilvânia irá retornar lá para ter uma conversa com o estranho ser, numa tentativa de conseguir seus poderes. E aí, nosso vampiro é criado para fazer uma violenta guerra contra os turcos, com direito a muitas porradas, dentadas e morcegos para todo o lado. Mas o pacto entre Vlad e a criatura sinistra é um jogo que se mostra uma verdadeira faca de dois gumes.
Qual é a grande atração do filme? Realmente foi uma grande ideia voltar às origens do vampiro e sua época de nobre na Europa Oriental. E ainda: contextualizar uma guerra com os turcos como o motivo pelo qual ele se tornou uma criatura sinistra da noite. Esse período da vida de Drácula sempre foi meio nebuloso, onde uma violência explícita e gratuita era totalmente injustificada (a questão dos empalamentos, por exemplo). A trama do filme busca colocar uma ordem e coerência nesse contexto. A roupagem de épico histórico chamou muito a atenção. Mas não podemos nos esquecer de que, quando falamos de Drácula, falamos de um filme de terror. E essa película o é. Bastante até. Há partes bem sinistras no filme, onde a violência rege as ações. Há vampiros queimando com a luz do sol e o contato com a prata. Há os famosos dentões. E há uma morcegada sem fim, toda virtual, mas que não te deixa indiferente com suas nuvens para lá de elaboradas e pitorescas.

Dessa forma, esse novo Drácula não parece ter cometido alguns absurdos como ocorreu em outros filmes que buscam colocar novos elementos em histórias já conhecidas, casos de filmes como “João e Maria, Caçadores de Bruxas” e “Abrahan Lincoln, Caçador de Vampiros” (só o título desse último já dói na consciência). O mais interessante é que o filme deixou um gancho para uma continuação. Pode dar em outros filmes, como pode dar em nada. Tudo isso depende do desempenho deste primeiro. Pode ser que seja promissor. Vamos aguardar. 

Um dos cartazes do filme. Sinistraço!!!!!


Vlad terá que proteger seu povo...


Vlad terá que proteger sua esposa


Vlad terá que proteger seu filho.



Para isso, fará um pacto maligno.


Ele hesita, mas...


A necessidade faz o monstro!!!!




segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Resenha de Filme - A Gardênia Azul.

A Gardênia Azul. Um Filme “Noir” De Fritz Lang Com Tempero Expressionista.
Falemos de Fritz Lang, o grande diretor austríaco realizador de “Metrópolis”. Sua carreira se estendeu ao longo do século 20, começando na Alemanha e pontuada pelo expressionismo alemão, onde filmes como “Os Nibelungos”, “A Morte Cansada” e “Metrópolis” (embora com algumas controvérsias) são considerados ícones do movimento expressionista. A censura, o nazismo e a proposta feita por Hitler e Goebbels de ser o responsável pelo cinema nazista empurraram Lang para fora da Alemanha e da Europa, em direção aos Estados Unidos. Em Hollywood, a Meca do cinema, fez filmes “noir”, mas também de outros gêneros que incluíam o faroeste e até comédias românticas. No campo do cinema “noir”, especificamente, as heranças expressionistas estão bem presentes, como podemos ver no ótimo filme “A Gardênia Azul”. Vemos aqui a história de três telefonistas que dividem um apartamento. Uma delas, Norah (interpretada pela bela Anne Baxter) tem um namorado que é um soldado que está na guerra da Coreia (o filme foi realizado em 1953). A moça apaixonada receberá uma carta de seu amado. E aí, virá a decepção. O soldado foi ferido e tratado por uma enfermeira japonesa, por quem se apaixonou. Isso deixou nossa Norah transtornada. O telefone do apartamento toca. Do outro lado da linha, um homem procura uma de suas amigas para marcar um encontro. Norah se passa pela amiga e então combina um encontro num bar. Esse homem é Harry (interpretado por Raymond Burr), um mulherengo incorrigível que faz desenhos de mulheres nuas para calendários, usando os seus casos como modelos em seu apartamento. Harry vai embebedar Norah e a moça se torna uma presa fácil. No apartamento, Harry investe contra Norah, que resiste. Ela não se lembra do que aconteceu. Só sabe que acorda com Harry morto ao seu lado. Desesperada, foge e deixa uma gardênia azul que Harry havia lhe dado. No dia seguinte, a polícia encontra a flor no local do crime e a imprensa passa a chamar a assassina desconhecida de “A Gardênia Azul”. A polícia sabia que era uma assassina, pois Norah foi vista com Harry por uma velhinha que vendeu a inusitada flor para eles no restaurante para que o mulherengo presenteasse a moça e a seduzisse ainda mais. A vida de Norah se tornará, então, uma agonia só, pois ela é uma fugitiva procurada pela polícia e imprensa, que publica toda uma história em volta do homicídio.
Quais são as duas características principais do filme? Como já foi citado aqui, o filme “noir” e o expressionismo. O gênero “noir” veio da França e surgiu em novelas policiais ambientadas geralmente à noite (“noir” em francês, significa escuro, preto). Tal contexto é ideal para se usar contrastes claro/escuro no cinema preto e branco. E o cinema “noir” abusa destes contrastes. Vemos, no filme de Lang, várias passagens de uso do contraste claro/escuro, principalmente na sequência em que Norah se encontra com o jornalista Casey Mayo (interpretado por Richard Conte), que promete ajudá-la escrevendo uma história que a defenda. O escritório iluminado pelo letreiro da rua que acende e apaga propicia várias situações de iluminação usadas de forma expressiva, assim como fazia o cinema do expressionismo alemão, que usava igualmente de forma expressiva o claro/escuro, herança do teatro de Max Reinhardt. Aproveitando o gancho, outra característica marcante do filme é a questão da alucinação. Norah, no seu momento de embriaguez, tem alucinações quando Harry é morto. A moça aparece caída no chão, com a imagem sofrendo deformações alusivas às alucinações dela. Assim, a imagem se deforma de acordo com o estado interior do personagem, assim como vemos na pintura “O Grito”, de Edward Munch, considerado um “precursor” do expressionismo. É curioso notar também as referências no filme a outras culturas, sobretudo as asiáticas, pois o “drink” que Harry usa para embebedar Norah faz referência aos mares azuis da Polinésia. Devemos nos lembrar que Lang fez viagens ao Oriente em sua juventude e que as culturas consideradas na época “primitivas” pelos europeus serviram de inspiração aos artistas expressionistas.

Apesar de todas as evidências apontarem para Norah, ela não é a assassina. Outra amante de Harry invade o apartamento enquanto Norah está inconsciente e mata o mulherengo. Homicídios à parte, “Gardênia Azul” é um grande filme de Lang, justamente por suas influências expressionistas na composição de imagens e com um instigante roteiro policial cheio de suspense, principalmente quando fazia menção aos estados de nervos de Norah, que se achava perseguida pelas forças policiais.


Cartaz do Filme


Norah, uma linda mulher atormentada.


Atraída por Harry de forma sorrateira.


Sendo atacada por Harry, que será assassinado.


Desesperada, Norah não sabe o que fazer ao ler as notícias nos jornais.

Para provar sua inocência, a moça contará com a ajuda de Casey Mayo, um jornalista. 

domingo, 26 de outubro de 2014

Resenha de Filme - Um Novo Dueto

Um Novo Dueto. A Pianista E o Eletricista Xaropes.
Outro filme francês. Uma história de amor, como gosta o povo da Marselhesa. Mas uma historinha um tanto xarope, chatinha até. Essa é a impressão de “Um Novo Dueto”, cujo título original é “Uma Outra Vida”. A coisa não empolga muito, mas tenhamos boa vontade.
Vemos aqui a vida da pianista Aurore (interpretada por Jasmine Trinca). A moça tem uma rotina de muitos ensaios e apresentações até que, num momento, a estafa a derruba em pleno palco. Tudo isso seguido pela morte do pai. Com tantos traumas, Aurore se recolhe por dois anos e passa a viver na casa do pai, a contragosto do irmão Paul (interpretado por Stéphane Freiss), uma espécie de agente da moça que quer que ela volte logo a sua rotina de apresentações. Aurore irá conhecer um eletricista, Jean (interpretado por Joeystarr, que nome de artista pornô!). Logo, a moça irá ficar perdidamente apaixonada por sua nova amizade, sendo correspondida. Entretanto, há sempre um probleminha nessas histórias de amor. Jean é casado com uma mulher que, diga-se, é um espetáculo! Muito mais linda que a protagonista! Seu nome é Dolores (interpretada pela estonteante Virginie Ledoyen). Até agora, eu não entendi como ele trocou aquele monumento todo por aquela pianista sem sal! Essa esposa será o elemento mais interessante deste triângulo amoroso cheio de idas, vindas, conflitos e fatalidades.
O filme tem uma cadência lenta, típica dos dramas amorosos. Mas, em alguns momentos, a trama abusa da lentidão, tornando a exibição cinematográfica simplesmente um saco. Entretanto, como em tudo na vida existe um lado bom e um lado ruim, e não procuro só espinafrar os filmes, mesmo quando eles não são lá muita coisa, vamos enfocar os aspectos positivos. Esse triângulo amoroso levanta questões interessantes. Até onde você tem coragem suficiente para amar? Ou seja, no seu desejo por amar e ser feliz, como você magoa e esquece a mágoa que provocou em outra pessoa que te amava? É preciso ser corajoso para buscar a felicidade, magoar o outro e sair sem qualquer peso na consciência. O filme também abordou a questão do amor inter-racial (a pianista era branca, de um alto estrato social, e o eletricista era negro, de uma condição social menor). Mas essa questão racial não é mencionada em momento nenhum da história, seguindo a linha dos defensores da tese de que o racismo só acabará quando ninguém mais notar a cor da pele das pessoas e isso passar despercebido. A diferença social, entretanto, é mencionada pelo próprio eletricista, que considera sua tarefa menor que a da pianista que, com o tempo e as pressões do irmão, voltará a sair em longas turnês internacionais. Um relacionamento aguentará essas longas ausências? Resposta no “écran”.

Questões raciais e sociais. Questões cósmicas sobre o relacionamento a dois. Andamento muito lento. Um certo quê de melancolia no casal protagonista. Essas são as características básicas de “Um Novo Dueto”. Recomendável? Até pode ser. Mas, decididamente, esgote todas as possibilidades melhores antes. E não são poucas. O nosso estimado cinema francês nunca foi tão água-com-açúcar. Ou melhor, água com adoçante...

Cartaz do Filme



Uma pianista melancólica.



Um eletricista melancólico.



Uma esposa e tanto!!!!



Um irmão mais preocupado com a carreira da irmã.



Um relacionamento sem sal.




Mais um triângulo amoroso tortuoso.


sábado, 25 de outubro de 2014

Resenha de Filme - Attila Marcel

Attila Marcel. Traumas E Cogumelos.
Um excelente filme francês na área. Do mesmo realizador de “As Bicicletas de Belleville”, o diretor Sylvain Chomet, “Attila Marcel” é um filme de artistas de carne e osso, não menos atraente que a grande animação de alguns anos atrás. Vemos uma história sobre a fragilidade da condição humana. E de como podemos enfrentar tal fragilidade com a ajuda de pessoas muito especiais que cruzam as nossas vidas por alguns momentos e, em seguida, simplesmente desaparecem.
A trama centra-se no jovem Paul (interpretado por Guillaume Gouix), que sofreu um trauma terrível na infância: viu a morte dos pais aos dois anos de idade. Em virtude disso, sofreu um bloqueio que lhe tirou a capacidade de falar. Órfão, foi amparado por duas tias professoras de piano que lhe ensinaram o ofício e cantarolavam numa alegria que beirava um comportamento ansioso e tresloucado. O rapaz, extremamente protegido, era reservado e tímido, como não podia ser de outro jeito. Vivendo num pequeno edifício cercado de figuras muito peculiares, entre elas um cego exímio afinador de pianos, Paul tinha como atividade tocar piano nas aulas de dança promovidas pelas tias para ganhar dinheiro. Até que, um dia, seu amigo cego, que subia as escadas (e afinava até as colunas de ferro do corrimão!) deixou um compacto de vinil cair no chão. Paul pega o disquinho e entra no apartamento em que o cego adentrou. Lá, presencia um cachorrão surdo e um verdadeiro jardim no piso da sala. É o apartamento de Madame Proust (interpretada por Anne Le Ny), uma riponga budista que, em troca de dinheiro, oferece um chá de cogumelos para os clientes que trazem consigo lembranças de seu passado (uma foto, uma carta, um disco, etc.). O chá tem a propriedade mágica de fazer o cliente vivenciar a experiência do passado associada à lembrança que ele trouxe. E, assim, faz-se o milagre de Paul voltar a conviver com os pais durante a sua infância. Paul também vai desenvolver um relacionamento fofo e tocante com a porra louca Madame Proust, vista com preconceito pela maioria dos moradores do prédio.
A história realmente é muito boa e terna. Vemos como Paul vai saindo de seu casulo, de sua disciplina rígida ao piano, e vai se descobrindo, se entendendo, a cada sessão de chá. Madame Proust é fundamental nisso, pois o caos e a visão de mundo aberta e alegre da budista vão impregnando Paul que, pouco a pouco sai de seu estado arredio e descobre o amor numa violoncelista chinesa também tímida, mas bem mais atiradinha que ele. O único problema do filme é um certo preconceito justamente contra os chineses, onde os amigos franceses das tias de Paul criticam uma invasão chinesa à França. Pegou mal, mesmo que a coisa tenha sido exposta com um certo humor.

Dessa forma, “Attila Marcel” é um filme altamente recomendável. Diversão garantida, com direito a um drama bem comovente contado em comédia. Mescla de gêneros. O filme é mais do que promete o “trailer”. A esta altura você, caro leitor, deve estar se perguntado: e quem é Attila Marcel ao final de contas? E Paul? Vai falar ou não? Essas perguntas eu deixo para ti, meu amigo. As respostas estão num cinema pertinho de você.  Ah! E não saiam da sala ao final. Tem cenas pós créditos!!!!


Cartaz do filme.


Paul e as tias. Excesso de proteção.


Uma criatura ansiosa e tímida.


Descobrindo um novo mundo.


Vai um chazinho aí?


Madame Proust e seu ukelelê.


Uma nova e terna amizade surge.


Doidão com o chá.


Alucinações do chá.


Visão da mãe. Alucinações do passado.


Descobrindo o amor.



Quem será esse distinto cavalheiro?

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Resenha de Filme - Trash, a Esperança vem do Lixo.

Trash, A Esperança Vem Do Lixo. Não É De Se jogar Fora...
Um filme que aborda a triste realidade de nosso país, com tudo de ruim que já conhecemos: um oceano de corrupção, miséria exacerbada, violência policial, injustiças de todo o tipo. Num contexto tão familiar para nós, será contada uma história com lances para lá de inusitados. Um thriller de ação que até prende a nossa atenção, mas que tem realmente algumas coisas que não dá para engolir.
Vemos aqui a trama de um homem chamado José Ângelo (interpretado pelo sempre excelente Wagner Moura), que foge da polícia com uma carteira na mão. Antes de ser capturado, José joga a carteira fora do alto de um condomínio e ela cairá na caçamba de um caminhão de lixo a caminho de um aterro sanitário. A carteira vai parar na mão de três menores. Há dinheiro, mas há uma chave. A polícia se encaminha para o lixão, comandada pelo cruel Frederico (interpretado pelo também ótimo ator Selton Mello), que descobrirá que a carteira está na posse dos três meninos. Começará, então, uma feroz perseguição aos garotos, que passarão por muitos riscos e perigos enquanto vão desvendando o mistério da carteira.
O filme tem o bom trunfo de contar com um grande elenco. Além de Wagner Moura e Selton Mello, vemos a presença de Nelson Xavier, José Dumont (apesar de ter sido cometido o sacrilégio de colocá-lo numa ponta, pois esse ator tem talento demais para ser encarado apenas como um reprodutor de estereótipos nordestinos), Stepan Nercessian e as presenças internacionais de Rooney Mara e Martin Sheen. Com um cast dessa magnitude, você já se sente atraído a ir ao cinema para ver o filme. Esperava-se que a trama acompanhasse o bom elenco. Mas não foi o caso aqui. O filme poderia ter tido um roteiro melhor, pois a ideia era boa. Mas há alguns problemas como situações inverossímeis demais até para uma licença poética exacerbada. Outro problema é um certo quê estereotipado do olhar estrangeiro sobre o Brasil, onde se mostra o supra-sumo de tudo o que temos de ruim. Sabemos que nosso país é cheio de problemas, mas sentimos um olhar não de terceiro mundo, mas de oitavo. Todos os defeitos são mostrados da pior maneira possível, sem dó nem piedade. É também de se lamentar que o elenco estrangeiro pareça ter sido menos aproveitado do que a gente deseja. Sempre é legal ver o Martin Sheen e a gente quer mais Martin Sheen. Mas tem um momento do filme em que ele simplesmente desaparece, só reaparecendo ao final. A mesma impressão se dá com Wagner Moura. A história poderia ter sido contada de outra forma para garantir uma maior presença desse excelente ator.

Embora o filme pareça ter esses problemas, “Trash” não é de todo ruim. É verdade que poderia ter sido bem melhor, mas ainda é uma história que dá para curtir. Talvez se o elenco não fosse tão estelar e eficaz, os problemas do filme ficariam mais evidentes e desagradáveis aos olhos. Dessa forma, não espere muito de “Trash”. Mas, se você gosta dos atores citados acima, se você não liga que um filme de ação e suspense seja um pouco óbvio, vá ver sem medo.

 
Cartaz do Filme.


Wagner Moura poderia ter sido mais bem aproveitado.


Selton Mello, um bom vilão.


Lixão como pano de fundo.


Rooney Mara como a professora Olivia.


Um marcante Nelson Xavier.


José Dumont não pode fazer ponta!!!!


Martin Sheen e os protagonistas. Da esquerda para a direita: Eduardo Luís, Rickson Tevez e Gabriel Weinstein.


segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Resenha de Filme - O Homem Mais Procurado

O Homem Mais Procurado. Antiterrorismo É Jeito, Não É Força.
O bom filme “O Homem Mais Procurado” tem uma marca: é um dos últimos trabalhos  de Philip Seymour Hoffman, um excelente ator que nos deixou muito prematuramente e faz falta, principalmente quando o vemos aqui contracenando com outros grandes atores como Willem Dafoe, Robin Wright, Daniel Brühl, que lamentavelmente faz uma ponta, e Rachel McAdams. Vemos um baita elenco e uma baita história, baseada no romance de John Le Carré, especialista em espionagem.
A trama se passa na Alemanha, mais especificamente na cidade de Hamburgo onde, no ano de 2001, foram tramados os atentados do 11 de setembro. Desde então, a Inteligência Alemã faz um monitoramento sistemático de qualquer atividade suspeita. Mas essa atividade de espionagem é muito atribulada, com vários grupos em conflito. A equipe liderada por Günther Bachmann (Hoffman) procura fazer um serviço de inteligência sem alardes, onde, em primeiro lugar, corre-se atrás dos chamados “peixes pequenos”, persuadindo-os a colaborar não usando violentas torturas, mas com muita conversa para, então, ir se chegando aos peixes mais graúdos. O problema é que todo esse processo demandava muito tempo, o que incomodava a divisão antiterrorista alemã e, principalmente, os americanos, que trabalhavam conjuntamente, e pensavam mais, nas palavras do Sr. Spock, de “Jornada nas Estrelas”, numa diplomacia de cowboy. O alvo de Günther era Abdullah (interpretado por Homayoun Ershadi), um aparente pacifista muçulmano que suspeita-se que dê dinheiro para a Al-Qaeda. Para isso, será utilizado um refugiado checheno como isca, Karpov (interpretado por Grigoriy Dobrygin), filho de um general russo que recebeu uma herança e quer se desfazer de seu dinheiro. Mas Karpov será protegido pela advogada Annabel Richter (McAdams) e pelo banqueiro Brue (Dafoe). Assim, Günther e seu staff começam uma corrida contra o tempo para capturar Karpov, pressionados pelos americanos e seus superiores.
O filme realmente é empolgante e prende a atenção o tempo todo dada a excelente trama e elenco. Obviamente, essa ideia de um grupo antiterrorista “bonzinho” não cola muito, dadas as circunstâncias belicosas em que o mundo mergulhou após os atentados de 11 de setembro. De qualquer forma, a ficção nos dá uma boa sugestão de como proceder com esse problema. Ao se fazer um serviço de inteligência eficiente, sem o uso de violências, torturas ou prisões muito repentinas, o objetivo dessa forma de investigação é não perder o fio da meada e chegar aos terroristas geralmente perigosos. Esse enfoque busca criticar com veemência a política americana antiterrorista, altamente truculenta e violenta. Se alguns filmes americanos, sobretudo as obras de ficção baseadas na morte de Osama Bin Laden, exaltaram essa política truculenta americana, “O Homem Mais Procurado” nos mostra que tais práticas violentas são, pelo contrário, ineficientes.

Uma boa obra de espionagem que critica com força a política antiterrorista americana. Tudo isso amparado por um excelente elenco e pelo fato de que podemos matar um pouquinho as saudades de Philip Seymour Hoffman. “O Homem Mais Procurado” é, definitivamente, um programa imperdível. Cinema que faz pensar, que faz indignar. Que mostra como a realidade pode ser algo muito frustrante. Cinema que dá boas ideias.


 
Cartaz do Filme 



Günther. Buscando novas estratégias de antiterrorismo.


Relação conturbada com Martha, a americana.


Brue e Richter. Envolvidos na trama de espionagem.


Dois monstros sagrados do cinema contemporâneo