Brigitte Helm, A Deusa Eterna De Yoshiwara!!!

Brigitte Helm, A Deusa Eterna De Yoshiwara!!!
Brigitte Helm, A Deusa Eterna De Yoshiwara!!!

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Resenha de Filme - O Homem Irracional.

O Homem Irracional. Woody Allen Em Filosofia E Suspense.
Woody Allen cumpre seu cronograma particular de uma média de um filme por ano e reaparece com a película intitulada “O Homem Irracional”, estrelada por Joaquin Phoenix e Emma Stone. E Allen nos traz uma história altamente reflexiva, como ele sempre está acostumado a fazer. Mas sempre com um enredo altamente original e instigante, numa prova de que a sua capacidade de contar histórias é mais infinita do que nunca.
Vemos aqui a história de Abe Lucas (interpretado por Joaquin Phoenix), um professor de filosofia que vai lecionar na Universidade de uma pequena cidade americana. A personalidade de Abe é extremamente sombria e depressiva, onde ele não vê mais qualquer sentido na vida e nos textos que lê ou escreve. A visão de mundo soturna do novo professor vai despertar muita curiosidade na comunidade acadêmica, especialmente na professora Rita (Parker Posey), uma ninfomaníaca às portas da meia idade e da jovem aluna Jill (interpretada por Emma Stone) que, ao mesmo tempo em que se apaixona por ele, admira sua inteligência e vê com muita curiosidade as opiniões do professor. Mas Abe não se emenda e continua em sua trajetória melancólica. Até que um dia, quando está com Jill num restaurante, Abe escuta junto com a moça uma conversa de um grupo de amigos na mesa ao lado. Essa conversa (que não será dita aqui em virtude dos “spoilers”) vai despertar uma chama de vida em Abe, mas da forma mais esdrúxula e contraditória possível. O professor de filosofia agora tem um novo objetivo na vida e ele vai se sentir revigorado, a ponto de levar um caso com a professora e a aluna simultaneamente. Mas o objetivo que o professor tem a cumprir (e cumprirá) vai lhe trazer muitas dores de cabeça e a tomada de atitudes bem drásticas, levando a um desfecho surpreendente.
Esse novo filme de Woody Allen não prima muito pelo humor. Os poucos lampejos de riso na história foram mais em virtude de um humor negro. Temos aqui uma trama onde o gênero suspense mostra um pouco mais a sua cara, principalmente na segunda metade da película. Mas não sem se levar a discussões filosóficas. Abe criticava os filósofos como Kant, que dizia que um mundo ideal não deveria ter mentiras. Mas você denunciaria onde estava escondida a família de Anne Frank se os nazistas te perguntassem? Essa é uma questão filosófica instigante onde Abe argumentava que um mundo fantasioso no qual os filósofos forjavam seus pensamentos era bem diferente do mundo real. E aí, para Abe, como professor de filosofia, essa percepção de um mundo abstrato das teorias filosóficas em contrapartida ao mundo real era o que o colocava em crise existencial. Ao escutar a conversa na mesa vizinha do bar, Abe criou para si um objetivo de vida bem mais pragmático que os devaneios filosóficos, mas tal objetivo implicava numa séria questão moral, questão essa que colocou seu relacionamento com Jill em crise. Será que um excesso de pragmatismo sem os freios filosóficos e morais de um mundo abstrato também não é algo nocivo? É essa a reflexão que a história quer propor. Mas tudo isso com um fio de suspense, um quê de romance policial numa película que começou com discussões filosóficas, passou pelo drama e chegou ao suspense do final. A capacidade de Allen de transitar pelos gêneros sem deixar de colocar questões altamente reflexivas e que não têm uma resposta única é realmente impressionante.

Dessa forma, podemos dizer novamente que um filme de Allen estreando é um programa obrigatório, pois é garantia certa de genialidade do roteiro. Você realmente deve parar tudo o que está fazendo ou reprogramar sua agenda de filmes a serem vistos para encaixar o novo Allen nos seus planos. Se Emma Stone é a nova queridinha do diretor, vamos ver se Joaquim Phoenix entra no clube e aparece nos próximos filmes de Allen, assim como já aconteceu com outros atores como Scarlet Johanson ou Alec Baldwyn. O mais importante é prestigiar mais essa nova e boa produção desse inesgotável diretor e roteirista americano. 

Cartaz do filme

Abe, um professor que não mais vê sentido na vida e filosofia

Aulas de filosofia. Questões vazias...

Abe desperta a curiosidade de Rita...

...e Jill.

Uma conversa no restaurante transformou a vida de Abe,

Corpos deformados na sala dos espelhos de um parque de diversões. Prenúncios de crise de relacionamento???

Nas filmagens, com Allen.

Allen com Stone e Posey em Cannes. Ele sempre se sentiu muito desconfortável nisso...


domingo, 30 de agosto de 2015

Resenha de Filme - O Planeta dos Macacos (1968)

Planeta Dos Macacos. O Início De Uma Saga.
Neste mês de agosto de 2015, o Cineclube Sci-Fi exibiu no Planetário da Gávea um clássico da ficção científica. “Planeta dos Macacos” (“Planet of the Apes”), produzido em 1968, é um filme inspirado no livro de Pierre Boulle e provocou tanto sucesso que isso rendeu várias continuações no cinema, sem falar das histórias em quadrinhos, livros e até “remakes” mais recentes. Contando com atores de peso como Charlton Heston, Roddy McDowall e Kim Hunter, essa película tem o grande mérito de ser mais uma daquelas histórias que nos convida à reflexão. E o faz de modo muito inquietante.
Vemos aqui a saga de quatro astronautas que fazem uma viagem em direção à um sistema planetário na constelação de Órion. Seguindo o modelo do paradoxo dos gêmeos da Teoria da Relatividade de Einstein, o tempo passa mais lentamente para quem viaja a velocidades próximas à da luz, fazendo com que quando os astronautas tivessem chegado ao seu destino, dois mil anos já tivessem se passado na Terra. Esses quatro escolhidos (três homens e uma mulher) levariam a raça humana para outro recanto do Universo. Mas a coisa deu errado e a mulher morreu, pois sua câmara de hibernação se rompeu. Os três astronautas caíram num planeta a princípio muito inóspito, com a paisagem altamente desértica. Mas logo eles descobririam uma região de vegetação e de seres humanos vivendo como se estivessem lá no paleolítico da pré-história, ou seja, somente coletando frutas nas árvores, além de não falarem uma palavra. Qual não foi a surpresa deles quando apareceram vários macacos que raciocinavam, falavam e atacavam os humanos para mantê-los presos como animais selvagens? Na violenta perseguição dos macacos aos humanos, um dos astronautas acabou morrendo, outro desapareceu e um terceiro, George Taylor (interpretado por Heston) acabou sendo capturado. Como ele havia sido alvejado no pescoço, não conseguia falar e foi encarado como um humano como qualquer outro, considerado selvagem. Mas ele se comunicava por sinais com a cientista Zira (interpretada por Kim Hunter), que tinha uma visão mais complacente com os humanos, juntamente com seu marido Cornelius (interpretado por MacDowell). Entretanto, eles eram malvistos pelo Dr. Zaius (interpretado por Maurice Evans), que via os humanos com muito preconceito, já que escrituras sagradas antigas diziam que o ser humano era tudo de ruim na face do planeta. Taylor tentará fugir e, quando é recapturado, fala e raciocina, para espanto de todos.
O filme suscita muitas discussões. Como é dito na própria película, a teoria da evolução das espécies é meio que colocada “de cabeça para baixo”. E aí, os humanos são colocados num patamar de inferioridade como eles o fazem com os animais. Não é à toa que Pierre Boulle teve a ideia de escrever a história do filme ao visitar o zoológico e pensar como seria se fossem os humanos presos nas jaulas ao invés dos animais. A forma como os macacos tratavam os humanos tem muito da forma como os humanos tratam os demais animais. Mas a coisa vai além, já que, na situação do filme, tanto macacos como humanos (no caso especial de Taylor) são seres pensantes e que possuem cultura. Assim, há um caso bem evidente de preconceito e intolerância contra o outro, tão condenado pela antropologia cultural. É assombroso perceber que esse filme nunca foi tão atual. A cultura dos macacos misturava ciência e religião da forma mais promíscua, ou seja, rezando pela cartilha do etnocentrismo e do preconceito. O mais curioso é que Taylor, uma espécie de rebelde e revoltado com o mundo, topou fazer essa viagem porque ele estava totalmente descrente da raça humana e irá encontrar uma civilização de macacos que pensa igualzinho a ele, mas a ponto de repudiar a raça humana com extrema violência e intolerância e a aplicar processos por heresia para o casal Cornelius e Zira, macacos simpatizantes dos humanos, ao bom estilo dos Tribunais de Inquisição e Santo Ofício da Idade Moderna, que queimava quem discordasse dos dogmas estabelecidos (vale dizer que não somente católicos condenaram pessoas à fogueira, mas protestantes também, num momento em que a Europa passava por uma situação de intolerância total).
E por que as escrituras sagradas antigas condenavam tanto os humanos? Aí entra o elemento reflexivo mais importante do filme. Quando Taylor conquista sua liberdade, levando a bela Nova (interpretada por Linda Harrison) em seu cavalo para começar uma nova vida, eles cavalgam pela praia. E aí, temos a famosa cena em que Taylor encontra a metade de cima da Estátua da Liberdade fincada na areia, e Taylor desce do cavalo e ajoelha-se na areia para amaldiçoar a humanidade, que enfim tinha conseguido destruir o mundo com a hecatombe nuclear (os tempos da Guerra Fria, sempre eles!). Assim, se num primeiro momento toda a intolerância e preconceito dos macacos para com os humanos era algo que nos incomodava, agora que sabemos que na verdade Taylor estava no Planeta Terra de dois mil anos no futuro e que a tragédia nuclear havia acontecido, somos obrigados a dar o braço a torcer e a concordar em parte que “o macaco tá certo”, lembrando o bordão do programa de tv humorístico “O Planeta dos Homens”, que tinha os macacos Charles e Sócrates. Assim, as sagradas escrituras foram escritas pelos macacos seiscentos anos depois da destruição provocada pelos humanos e nossa espécie foi severamente condenada pela besteira que fizemos.
Assim, o primeiro “Planeta dos Macacos” é um filme que tem uma grande importância, pois ele nos fala de preconceito, intolerância, etnocentrismo, mas também relativiza a questão quando nos faz um alerta de quais rumos a espécie humana quer dar para nosso planeta.
Após a exibição do filme, houve duas palestras. A primeira, feita pela antropóloga Eliana Granado, foi altamente pertinente para a análise do filme, já que ela justamente falou sobre as questões acima abordadas, como a oposição entre preconceito e tolerância, a importância de se respeitar o outro, a ideia de que não há cultura superior ou inferior, mas sim culturas diferentes, etc. Para ilustrar suas argumentações, ela utilizou suas experiências de trabalho de campo com culturas indígenas e denunciou situações seriíssimas de genocídio e etnocídio ocorridas nos tempos atuais, além da insatisfatória política do governo para preservar a integridade das várias etnias indígenas, cada vez mais ameaçadas. O outro convidado palestrante foi Saulo Adami, um dos maiores especialistas em Planeta dos Macacos do país. Fã da saga desde criança, ele cedo começou a colher todo o tipo de informações sobre o filme, chegando a contatos com artistas, produtores e maquiadores que participaram do filme nos Estados Unidos. Sua pesquisa é tão respeitada que ele já foi convidado para dar palestras até no exterior. Saulo conversou com o público sobre suas experiências e contatos, além de ter passado pela experiência de ele mesmo ter sido maquiado e caracterizado como um macaco, além de bilhetes, fotos autografadas e outros itens que chegam a 1800. Essa edição do Cineclube Sci-Fi ainda contou com uma sessão de autógrafos dos livros dos dois palestrantes.

Como podemos ver, a edição de agosto do Cineclube Sci-Fi bombou. Um ótimo filme, excelentes palestrantes, bom debate, e uma sessão de autógrafos de quebra. Trazer de volta o bom cineclubismo com discussões de alto nível após as exibições só nos faz desejar que esse evento, que já está no terceiro ano no Planetário da Gávea, ainda tenha muito fôlego e continue por bastante tempo. Se você ainda não conhece, apareça no próximo, que será anunciado na página do Conselho Jedi do Rio de Janeiro.

Cartaz do filme


Zira e Cornelius. Simpatizantes dos humanos.

Taylor contará com a ajuda do casal de cientistas...


Elite, com seu preconceito, se fecha totalmente a novas formas de pensar...

Pontepretano assumidíssimo!!! Isso é que é estar com a macaca!!!

Mas Taylor preferiu recomeçar a humanidade com Nova...

Charles...

... e Sócrates. O Macaco tá certo!!!





sábado, 29 de agosto de 2015

Resenha de Filme - A Dama Dourada

A Dama Dourada. A Incrível Saga De Uma Pintura.
Mais uma vez, o tema da Segunda Guerra Mundial volta às telonas. Dessa vez, no bom filme “A Dama Dourada”, estrelado por Helen Mirren e Ryan Reynolds, com a boa participação de Daniel Brühl e uma pontinha para lá de charmosa de Jonathan Pryce. Um filme que trata de memórias esquecidas. Um filme que busca uma reparação.
Vemos aqui a história de Maria Altmann (interpretada por Helen Mirren), uma judia sobrevivente da Segunda Guerra Mundial que, em seus tempos de juventude, tinha em sua casa um quadro de Gustav Klimt, “O Retrato de Adele Broch Bauer”, que por sinal era a tia de Maria e foi pintado na própria casa da família na Áustria. Os parentes de Maria eram amantes das artes e tinham muitas pinturas em casa. Com a invasão dos nazistas à Áustria, a casa de Maria foi invadida e todas as obras de arte foram roubadas. Muitos anos depois, os retratos pintados por Klimt que estavam na casa de Maria estão num museu na Áustria, como patrimônio do país. O “Retrato de Adele Broch Bauer” foi renomeado como “A Dama Dourada” para encobrir o roubo feito pelos nazistas. E aí, em pleno ano de 1998, Maria quer reaver os quadros da família. Mas os austríacos não darão o braço a torcer, já que “A Dama Dourada” é considerada a Mona Lisa da Áustria. Para ajudá-la na recuperação das pinturas, Maria vai contar com a ajuda de um jovem advogado inexperiente, Randy Schoenberg (interpretado por Ryan Reynolds), por um acaso neto do famoso compositor Arnold Schoenberg. Os dois viajarão à Áustria para buscar reaver os quadros. E lá irão contar com a ajuda do austríaco Hubertus Czernin (interpretado por Daniel Brühl), envergonhado com o passado nazista de seu país.
Esse filme toca num assunto delicado já mencionado no filme “Caçadores de Obras-Primas”: o roubo, por parte dos nazistas, de obras de arte quando do momento da guerra. A saga de Maria Altmann pela restituição de seu patrimônio particular, com a ajuda de Randy Schoenberg, mostra como a questão do antissemitismo ainda é bem viva nos países teutônicos, já que os austríacos eram irredutíveis quanto à uma negociação com Maria Altmann, e podíamos ver até alguns comentários racistas contra Maria nas ruas. O filme também fazia “flash-backs” que se remetiam aos tempos de juventude de Maria e toda a perseguição dos nazistas naquela época. Outro detalhe interessante da película foi presenciarmos todos os meandros dos processos judiciais e as estratégias que Schoenberg tinha que elaborar para buscar os melhores caminhos para sua cliente ter êxito na conquista das pinturas. Todos os atores estavam ótimos. Helen Mirren fez uma Maria forte, mas com lampejos de fragilidade. Ryan Reynolds fez um advogado determinado, mas com lampejos de insegurança. Ambos os protagonistas fizeram papéis de heróis bem humanos, com momentos de força e vacilação. Daniel Brühl excelente como sempre, um ator germânico que é uma excelente surpresa, que tanto sucesso fez interpretando Nikki Lauda em “Rush”. Só é de se lamentar que ele tenha trabalhado mais como um ator coadjuvante. Mas o bom ator faz qualquer papel. E Brühl mais uma vez deu conta do recado. Jonathan Pryce fez uma pontinha, mas cheia de charme, como o divertido juiz da Suprema Corte, que sempre descontraía um ambiente tenso com piadas oportunas durante as sessões da corte.

Assim, “A Dama Dourada” é um excelente filme baseado numa história real, que conta com excelentes atores, fala de arte e denuncia o roubo da mesma por parte dos nazistas, lembrando que ainda existem muitas obras de arte roubadas e não restituídas aos seus verdadeiros donos. Um filme altamente recomendável.


Cartaz do filme


A incrível história de uma pintura.


Maria e sua tia Adele, que serviu de modelo para o quadro.


Maria foge da Áustria com seu marido


Randy e Maria tentando reparar o passado


Muitas pesquisas em arquivos.


Randy, Maria e Hubertus. Muitos momentos de tensão



E, também, de vitórias.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Resenha de Filme - O Último Cine Drive-In

O Último Cine Drive-In. Mais Uma Declaração De Amor Ao Cinema.
Mais um bom filme brasileiro nas telonas. “O Último Cine Drive-In” é um daqueles filmes onde o cinema faz uma declaração de amor ao próprio cinema, bem ao estilo de pérolas como “Cinema Paradiso”, “Splendor” ou “Cine Majestic”. Dessa vez, a película dirigida por Iberê Carvalho e estrelada por Othon Bastos, uma lenda viva do cinema brasileiro, vai novamente falar do hábito de se frequentar o cinema, mas com um atrativo a mais: fala-se, agora, de um cinema drive-in, daqueles que somente tinham sessões noturnas ao ar livre, onde as pessoas iam de carro para assistir aos filmes. O filme se passa em Brasília, bem ao lado do Estádio Mané Garrincha, onde há um cinema drive-in. Pela história da película, aquele é o último drive-in do país, comandado por Almeida (interpretado por Othon Bastos), que tem a ajuda de Paula (interpretada por Fernanda Rocha), a operadora cinematográfica e responsável pela lanchonete, e Zé (interpretado por Chico Sant’Anna), que fica na portaria. A ex-mulher de Almeida, Fátima (interpretada por Rita Assemany) está com uma doença terminal, o que faz com que o filho dos dois, Marlon Brando (interpretado por Breno Nina) retorne à Brasília. Depois de ouvir a mãe falar da saudade dos velhos tempos do cinema, que era muito frequentado, Brando decide tirar a mãe do hospital para assistir a uma última sessão de cinema do drive-in, que fechará suas portas devido à falta de público. Assim, Brando e Almeida correrão contra o tempo para fazer uma última sessão para Fátima.
Um roteiro altamente previsível, mas sempre cativante, ainda mais porque rende homenagens a paixão primária de todo cinéfilo, materializado aqui no personagem Almeida, que quer manter o sonho do drive-in vivo. Mas os tempos são outros e o cinema será fechado por ser altamente deficitário. O mais irônico é que Almeida tem um amigo que tem salas de cinema digitais e está bem de vida, enquanto que nosso protagonista dirige uma Kombi velha e caindo aos pedaços, símbolo da decadência dos tempos do celuloide de 35 mm. Assim, o filme dá a entender que a paixão pelo cinema não acabou de fato, mas o que acabou foram as antigas formas de você amar o cinema, onde o drive-in ainda era uma prática corriqueira, ao lado do bom e velho 35 mm. A parte mais tocante da história é presenciarmos Fátima se lembrando dos velhos tempos de funcionamento do cinema a céu aberto e de todo o espetáculo que ocorria não somente na tela, mas também na audiência, onde um estacionamento lotado de carros era uma atração à parte.

Dessa forma, “O Último Cine Drive-In” é um filme que homenageia uma sétima arte já esquecida e distante no passado, totalmente destoante da sétima arte que estamos acostumados a ver nos cinemas de shopping. Uma sétima arte que nos dá saudade e traz lágrimas aos olhos. Lágrimas que só os amantes do cinema compreendem.

Cartaz do filme

Almeida. Levando um cinema aos trancos e barrancos

Marlon Brando. Retornando para o antigo cinema e para o antigo pai por causa da mãe doente.

A velha kombi só pega empurrando

Pai e filho angustiados com o destino da mãe

Fátima e Marlon. Lembranças dos bons tempos do drive-in

Sessão de Gala...

Paula inicia a última sessão.

Equipe do filme...

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Resenha de Filme - Numa Escola de Havana

Numa Escola de Havana. Como Lá, Como Aqui?
Mais uma interessante produção cubana chega à nossas telas. “Numa Escola de Havana” é mais um filme que questiona o regime cubano, usando agora como pano de fundo o ambiente escolar. Ou seja, mais um filme que aborda o “sacerdócio” do ofício de professor, para alguns, ou apenas uma profissão que deve ser vista como tal para outros. Ainda assim, é uma interessante radiografia da sociedade cubana de hoje, mesmo que haja uma constelação de licenças poéticas, como sempre ocorre no cinema.
Vemos aqui a história da professora Carmela (interpretada por Alina Rodriguez), uma veterana em sua profissão, muito respeitada por todos, sendo que, inclusive, ela ajudou na formação de alguns de seus colegas de profissão mais jovens. Ela tem um neto doente e vai visitá-lo no hospital, que fica num bairro distante de sua casa e da escola onde ela trabalha. De volta para sua casa depois da visita, ela é acometida de um enfarte e é substituída por uma professora mais nova, para desespero do jovem aluno Chala (interpretado por Armando Valdes Freire), um menino problema típico e que somente respeita Carmela. Com a velha professora fora de combate, o menino se envolve em sérios problemas de disciplina e vai para uma escola que é uma espécie de pequeno reformatório para alunos delinquentes. Quando Carmela volta à ativa, ela não se conforma com a situação de Chala e o retira do tal reformatório, trazendo-o de volta para a antiga escola e tomando conta do menino. Obviamente, as instâncias educacionais superiores não vão se conformar com essa atitude independente de Carmela, mas há todo o problema dela ser uma excelente profissional com muitos anos de carreira e puxar seu tapete não será uma coisa fácil.
É um filme comovente sobre a professora militante e seu aluno “caso perdido” que ela vai recuperar com afetuosidade e amor, mas algo completamente inverossímil para o mundo real. Quem é profissional da área sabe que é uma tremenda furada querer fazer o papel de pai e mãe de aluno. Misturar emocional com profissional numa carreira como a de professor pode (e muito provavelmente será) fatal para o docente. Carmela é o exemplo do que não se pode fazer numa profissão como essa, apesar de todo o romantismo da coisa, que o cinema, graças aos céus, ainda nos permite tal devaneio.
Mas a película não é apenas uma licença poética sobre o ofício de professor. A situação de rebeldia de Chala também é analisada e ela é bem concordante com o que vemos na vida real. Boa parte da indisciplina dos alunos vem de uma desestruturação familiar latente, que era justamente o caso de nosso aluno protagonista, que tinha uma mãe prostituta e drogada, onde o filho mais sustentava a progenitora do que o contrário. O menino, inclusive tinha um ofício que desperta mais uma reflexão. Ele cuidava de cachorros para rinhas. E uma menina pela qual ele estava apaixonado não queria nada com ele justamente por seu ofício, o que faz Chala repensar novas formas de se ganhar dinheiro. À propósito, a menininha por quem Chala estava apaixonado, Yeni (interpretada por Amaly Junco), é outra personagem curiosa, já que ela não podia ter uma matrícula regularizada, pois seu pai era de outra região de Cuba e, pelas regras, ele vivia “ilegalmente” na região de Havana. Chala tinha outro amiguinho cujo pai estava na cadeia por ser opositor do regime. Esses elementos, mais alguns outros que eu não direi aqui (chega de “spoilers”!) nos mostram as críticas que os cineastas cubanos parecem que agora podem fazer ao regime, como já tínhamos visto no filme “Retorno à Ítaca”, recentemente resenhado aqui.

Dessa forma, “Numa Escola de Havana” é mais um filme que nos dá a oportunidade de ter uma ideia do que ocorre na Cuba contemporânea e que tem mais liberdade de criticar os procedimentos do governo para com a sociedade. Um filme comovente, mas reflexivo.

Cartaz do filme

Chala e a mãe. Menino problema

Carmela e o "sacerdócio"...

Autoridades não aceitam o comportamento de Carmela

Chala cria pombos e cachorros para sobreviver...


segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Resenha de Filme - Jimmy's Hall

Jimmy’s Hall. Luta Pela Justiça Em Época De Depressão.
O consagrado diretor Ken Loach (de filmes como “Uma Canção Para Carla” e “Meu Nome É Joe”) traz para nós mais uma interessante e tocante película. “Jimmy’s Hall” é um filme que fala de uma Irlanda rural sacudida por um espírito de guerra civil e pela crise econômica provocada pela Grande Depressão de 1929. Um filme que fala de uma injustiça esmagadora e de um grupo que luta pela justiça. Uma história real que nos faz pensar.
Vemos aqui a história do líder comunitário James Gralton (interpretado por Barry Ward), da pequena cidade de Leitrim, que teve que se refugiar nos Estados Unidos por dez anos, depois de sofrer perseguições da elite local, liderada pelo padre católico Sheridan (interpretado por Jim Northon). Gralton mantinha um salão onde a comunidade tinha aulas de pintura, recitais de poesia, leitura de livros, etc., o que divertia a todos do pequeno povoado, mas, ao mesmo tempo, instruía a população. De claras tendências marxistas, Gralton retorna em 1932 a sua cidade natal, depois de dez anos, e quer manter apenas uma vida pacata. Mas a juventude local, que conhecia as histórias do antigo salão, mais seus velhos amigos, os convencerão de reativar o antigo espaço cultural da comunidade, para o desespero do padre Sheridan e das elites direitistas e ultranacionalistas locais.
O filme aborda vários aspectos. O mais claro deles é um claro conflito esquerda-direita, onde a elite local de grandes proprietários surrupia terras dos mais pobres, havendo uma  luta por reforma agrária na região. Mas há, também, a questão da guerra civil entre os partidários da independência da Irlanda (formados por grupos ultranacionalistas de direita de base católica, onde o IRA já era bem atuante) e os partidários da manutenção da administração da Inglaterra. Os líderes direitistas atribuíam o líder comunitário marxista Gralton ao domínio inglês e aos estrangeirismos americanos de músicas negras e pecaminosas como o Jazz, trazidas pelo líder popular quando do seu autoexílio nos Estados Unidos. Assim, a disputa entre as elites direitistas e os grupos proletários assume várias vertentes nesse microcosmos do interior da Irlanda. Curiosa é a postura do padre Sheridan, anticomunista convicto e um obsessivo opositor de Gralton mas, simultaneamente, admirador e respeitador velado do líder comunitário, reconhecendo nele sua fé cristã, e chegando ao ponto de fazer alguns devaneios em que ele ensaia algumas semelhanças entre o comunismo e o cristianismo, além de, assim como o líder esquerdista, também comprar um gramofone e escutar cantoras negras de jazz, apesar de condená-las veementemente por seu conteúdo “pecaminoso” em seus sermões. Fica claro aqui que, embora haja dureza no padre, ele a praticava como representante de uma instituição, a Igreja Católica, mas, como figura humana, ele era altamente reticente com relação a seus procedimentos, e uma mostra disso foi que ele ficou abalado quando Gralton, no confessionário, disse ao padre que ele tinha mais ódio que amor no seu coração.

Assim, “Jimmy’s Hall” é um filme que fala de luta por justiça num meio altamente complexo e turbulento, apesar de prosaico. Um filme que mistura conflitos entre esquerda e direita, reforma agrária e guerra civil numa luta por independência, gerando vários rótulos e matizes. Uma dolorosa e reflexiva história real que nos mostra que o que se aprende não é arrancado de nós, apesar de toda a repressão de elites retrógradas. Um filme indispensável.

Cartaz do filme


Gralton, um antigo líder comunitário

Padre Sheridan, um anticomunista convicto

 A juventude local não tinha onde se divertir.

Reativando o antigo salão

Trazendo um gramofone e a cultura americana do jazz

... mas não esquecia a cultura local...

Mas, como sempre, alegria de pobre dura pouco...

... e a opressão das elites é implacável...

Qual será o futuro dessa comunidade???





terça-feira, 18 de agosto de 2015

Resenha de Filme - Tudo Por Amor Ao Cinema

Tudo Por Amor Ao Cinema. Uma Bonita Homenagem.
Um bom documentário brasileiro passa quase que despercebido em nossas telonas. E um documentário que fala justamente do Cinema Brasileiro e um de seus maiores expoentes: Cosme Alves Netto. Mas, por que essa personalidade foi tão importante para o nosso cinema? Por pertencer àquele grupo que não exatamente gosta de cinema, mas sim ama  a sétima arte, Cosme, de uma rica família de Manaus, renuncia à riqueza para se dedicar à busca das películas que o haviam impressionado tanto. Se deslocando para o Rio de Janeiro, ele vai participar de cineclubes e, logo, logo, será curador da Cinemateca do MAM, fazendo um esforço hercúleo para montar seu acervo cinematográfico. Cosme por vezes era criticado por não preservar o acervo, e sim exibi-lo para muitas pessoas o que, segundo alguns, deteriorava as cópias. Reza a lenda que ele exibiu no Paissandu uma cópia em nitrato de prata de “Alô, Alô Carnaval”, depois de décadas de ostracismo e a cópia teria ficado destruída, embora amigos próximos de Cosme digam veementemente que isso não aconteceu. Para conseguir muitos filmes para o acervo da Cinemateca do MAM, Cosme tinha amigos nos escritórios das grandes produtoras americanas no Rio de Janeiro, como a Fox e a Warner, e quando as cópias iam ser destruídas, já que o contrato de exibição exigia que após seu término as cópias não podiam mais ser exibidas, os amigos de Cosme nas grandes produtoras sempre entregavam uma cópia para ele na surdina.
O documentário também registra o período da ditadura militar e as duas prisões de Cosme, que quase lhe custaram a vida, pois na primeira vez, ele ficou com os pés submersos por muito tempo (seis meses) e na segunda prisão, ele foi mantido nu e incomunicável numa cela escura por muitos dias, sem as mínimas condições de higiene, e ele quase veio a falecer. Mas nem tudo foram espinhos da vida de Cosme. Um incêndio destruiu o MAM em 1978, com a suspeita de ser criminoso, pois o espaço do MAM era usado em manifestações artísticas contra a ditadura. Como se temia que a Cinemateca poderia ser o lugar de um incêndio, já que abrigava material altamente inflamável (os antigos filmes à base de nitrato de prata davam um lindo brilho prateado à tela, mas podiam pegar fogo facilmente em contato com o ar), a Cinemateca foi construída em separado do Museu e com paredes muito grossas para um suposto incêndio da Cinemateca não se alastrar para o Museu. Mas aconteceu justamente o contrário e o acervo de filmes ficou salvo do incêndio do Museu.
O filme ainda conta com importantes depoimentos de figuras como o crítico José Carlos Avellar, os cineastas Eduardo Coutinho, Cacá Diegues, Sílvio Tendler e Walter Carvalho e o pesquisador Jurandyr Noronha, dentre outros, que muito enriqueceram a película. Trechos de entrevistas do próprio Cosme são exibidas, inclusive uma entrevista que ele deu a Antônio Abujamra quatro dias antes de falecer, em fevereiro de 1996. É interessante perceber que a trajetória de Cosme é ilustrada com cenas dos próprios filmes que ele ajudou a preservar, como “Limite”, de Mário Peixoto, sem falar de obras de Glauber Rocha e até filmes estrangeiros como “Jules e Jim”, de Truffaut, ou “Cantando na Chuva”, um de seus favoritos.

É uma pena que Cosme Alves Netto tenha ido tão cedo. O cinéfilo católico que conseguiu convencer o Festival de Havana a ter católicos em seu júri em plenos anos 1980 era, nas palavras de seus amigos, uma pessoa aglutinadora e um profundo conhecedor da sétima arte. Esse documentário é de suma importância para resgatar a memória desse brasileiro que se importava com a memória cinematográfica de seu país, a ponto de resgatar um documentário sobre o Rio de Janeiro da década de 1920 realizado pelos irmãos Botelho e que estava na Cinemateca da... Finlândia!!! Seu amor pelas películas, sobretudo as brasileiras, o fazem ser alvo de nossa eterna gratidão por ele ter salvo algo de nossos filmes e nossa história. O documentário também é uma linda e merecida homenagem, sendo uma referência obrigatória para ser obtida e guardada, assim como ele fazia ao achar latas de películas de sua infância, que ele guardava com todo o carinho no precioso acervo da Cinemateca do MAM. Para os cinéfilos com C maiúsculo, esse é um programa imperdível.

Cartaz do Filme. Cosme com seu inseparável charuto...


Cosme Alves Netto, um grande nome de nosso cinema...


Cercado por sua paixão, as latas com filmes dentro.

Com Humberto Mauro e Alex Viany. 

José Carlos Avellar, um amigo muito próximo que o ajudava na Cinemateca do MAM.


Com Nelson Pereira dos Santos.

Com Gabriel Garcia Márquez. Cosme era muito respeitado no exterior.