Canções
Lascivas do Japão. Erotismo X Política.
O último filme exibido
da mostra sobre Nagisa Oshima no CCBB foi “Canções Lascivas do Japão” (“Sing a
Song of Sex”), produzido em 1967. Esse filme mais uma vez denuncia a falta de
interesse político da sociedade japonesa do pós guerra. Temos aqui um grupo de
quatro estudantes universitários, onde a última coisa em que estão interessados
é o estudo e a primeira é como pegar muitas mulheres. Logo eles conhecerão de
vista uma moça numa turma da qual só conhecem seu número de chamada. E passam a
fantasiar situações de sexo com ela, sendo a mais ousada um estupro em plena
sala de aula, cheia de alunos. Ao redor deles, a cidade de Tóquio fervilha de
protestos: contra a guerra do Vietnã, contra o preconceito a imigrantes
coreanos, além de manifestações de ordem sindical. Nada disso interessa a eles,
que ainda debocham dos abaixo-assinados públicos contra a guerra. No meio de
uma dessas manifestações, eles encontram um de seus professores andando com uma
bela mulher, que logo querem saber quem ela é, a ponto de seguirem-na. Como não
conseguiram descobrir nada, eles colam no professor, que tem uma vida
intelectualizada e boêmia. Junto com três alunas, eles seguem o professor em
suas noitadas e descobrem que ele adora cantar em voz alta músicas de cunho
erótico. Numa ocasião, todos saíram do bar muito tarde e já não podiam pegar
mais o trem. Assim, o professor abrigou todos em um hotel. Mas o professor acabou
morrendo com um vazamento do aquecedor à gás, provocando o desespero nas alunas
e a indiferença nos alunos. Um dos alunos chegou a ir ao quarto do professor,
que ainda estava vivo e dormindo, já com o gás vazando, mas nada fez para
evitar sua morte. Depois, aparentemente por remorso, ele saiu vagando pelas
ruas, cantando as músicas eróticas do professor em todos os locais que ia.
Esse é mais um filme de
Oshima que prima pelo surreal e pelo experimental, com uma narrativa um tanto
fragmentada. As tais “canções lascivas” do professor morto simbolizavam a
apatia e falta de engajamento político da sociedade japonesa de então e serviam
como uma espécie de libelo contra posições que iam do mais conservador (como na
sequência em que o aluno cantou a música erótica do professor numa cerimônia
onde os colegas acadêmicos do mestre morto cantavam uma canção mais antenada
com o meio acadêmico) ao mais politicamente engajado (como na sequência em que
um grupo pacifista cantava músicas estrangeiras contra a guerra, rodeados por
bandeiras de vários países, inclusive a do Brasil). As canções lascivas eram
fortemente repudiadas nessas duas situações, mostrando claramente uma espécie
de disputa ideológica. Mesmo que os estudantes e o erotismo pareçam algo
considerado alienado, há uma ideologia aí, que é a do niilismo, de não se
acreditar em nada, de não pegar uma bandeira ou causa, e querer saber só de
como pegar uma mulher bem gostosa. Por que isso não pode ser considerado uma
ideologia?
O desfecho do filme é
curioso. A tal moça com os quais os quatro amigos fantasiaram um estupro estava
no meio do grupo de pacifistas influenciados pelas ideias de fora e soube da
tal fantasia. Assim, ela exigiu que os quatro amiguinhos reproduzissem a tal
fantasia, faltando uma certa coragem para isso. A linda mulher do professor
morto também estava presente no “ritual”, chegando a se oferecer no lugar da
aluna. E aí os amiguinhos tremeram na base. Essa sequência final dá todo um
tempero surreal à película.
Dessa forma, “Canções
Lascivas do Japão” é mais um filme de Nagisa Oshima que tem grande relevância
por seu conteúdo politizado e que denunciava um niilismo da sociedade japonesa,
dessa vez sem demonizá-lo.
Belo cartaz do filme...
Quatro amiguinhos niilistas...
A política fervilhava nas cidades...
Um professor bêbado e canções de sexo...
Reproduzindo um estupro idealizado...
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