Brigitte Helm, A Deusa Eterna De Yoshiwara!!!

Brigitte Helm, A Deusa Eterna De Yoshiwara!!!
Brigitte Helm, A Deusa Eterna De Yoshiwara!!!

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Resenha de Filme - A Imagem que Falta

A Imagem Que Falta. Exumando Um Genocídio.
Um documentário que investiga um genocídio esquecido. Essa é a melhor definição de “A Imagem Que Falta”, de Rithy Panh. É indispensável que grandes crimes e tragédias provocadas pelo homem contra o próprio homem sejam sempre denunciadas, algo que é feito nesse pequeno filme de 92 minutos e que concorre ao Oscar de filme estrangeiro.

Podemos ver aqui um documentário magistralmente montado, que aborda o governo do Khmer Vermelho no Camboja na segunda metade da década de 1970, que cometeu, em nome do proletariado e da liberdade, uma série de crimes contra a humanidade contra várias pessoas, que foram expulsas de suas cidades e obrigadas a trabalhar no campo em cultivos de arroz e produção de fertilizante, isso numa terra árida e totalmente inóspita. E quem fosse contra era considerado inimigo do povo e assassinado. O filme recupera filmes oficiais do governo de Pol Pot num raro registro da situação de um país que quase não temos notícias por aqui. Mesmo nos filmes oficiais é possível constatar o alto grau de degradação da população que vivia numa situação de escravidão e fome totais, além da propaganda maciça do governo, que provocava distorções tamanhas na mente das pessoas a ponto de um menino denunciar a própria mãe por pegar umas mangas para aplacar a terrível fome, levando-a a execução por isso. Tudo isso sendo narrado em 1ª pessoa. As cenas de propaganda eram intercaladas com imagens de um Camboja pré-revolução, que tinha uma vida urbana fulgurante, em oposição às imagens da cidade abandonada após a implantação do Khmer Vermelho. Todas as imagens trágicas foram engenhosamente encenadas com bonequinhos de argila, que são a marca registrada do filme. Podemos presenciar muitas situações com esses bonequinhos, como a separação da família do narrador do filme, as mortes por inanição, as mortes em hospitais improvisados com a “medicina capitalista” abolida, os inúmeros enterros de corpos e muitas outras imagens escabrosas que aparecem no semblante sofrido daqueles bonequinhos artesanalmente construídos. Um tom levemente lúdico numa enorme tragédia que jaz esquecida no continente asiático e é agora ressuscitada. Filmes como esse nos assustam, pois nos mostram até onde o ser humano é capaz de cometer tantas atrocidades contra seu semelhante a serviço de ideologias que teoricamente salvariam a humanidade, mas que na prática cometem crimes temerosos. Assim, “A Imagem Que Falta” é um filme essencial, mostrando outra tarefa que o cinema pode cumprir com maestria: a de ser um documento histórico e denunciar crimes contra a humanidade.

 Símbolo do Khmer com os bonequinhos de argila.


Camboja antes do Khmer


Camboja pós Khmer: escravidão e violência em nome de uma suposta liberdade.


Boneco do pai do protagonista sendo construído. Ele morreu de inanição.


Prisioneiros em vagões. Cena semelhante à do Holocausto.


Set de filmagem antes do Khmer. Após o Khmer, execuções de atores.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Resenha de Filme - Operação Sombra (Jack Ryan)

Operação Sombra (Jack Ryan). A Serviço do Establishment.
O cinema a serviço da justificação da espionagem americana. Essa é a proposta de “Operação Sombra (Jack Ryan)”. Não adianta. Por mais que os escândalos de espionagem façam meio mundo (ou todo?) torcer o nariz, os gringos ainda exaltam tais práticas, inclusive no cinema, insistindo num estado de permanente complô contra os filhos da grande águia estadunidense.

E a bola da vez são novamente os russos. Só que, dessa vez, não existe mais a ameaça comunista de destruir o capitalismo e dominar a Terra. Vemos agora a Rússia como uma grande corporação que não quer ter prejuízos financeiros impostos por certas atitudes comerciais dos Estados Unidos. Assim, na surdina, um atentado terrorista será maquinado simultaneamente com uma operação financeira que afetará o valor do dólar e levará os Estados Unidos a uma segunda “Grande Depressão”. O encarregado disso é o pernicioso Viktor Cherevin (interpretado pelo extremamente competente Kenneth Branagh, que também assina a direção). Para combater esse plano contra os Estados Unidos, entra em cena o agente Jack Ryan (interpretado pelo nosso “capitão Kirk” Chris Pine), com formação em economia e com experiência militar como fuzileiro, que se alistou voluntariamente após o atentado às Torres Gêmeas. Assim, ele é o homem ideal para lidar com esse complô russo. Ryan contará com a ajuda de Thomas Harper (interpretado por um envelhecido – mas ressuscitado – Kevin Costner), agente da CIA. O problema é que a namorada de Ryan, Cathy Muller (interpretada por Keira Knightley), se envolverá nessa intriga internacional regada a muita espionagem. O resto do filme não é muito diferente dos filmes de espionagem mais convencionais: muitas cenas de ação, roubo de informações, evitar atentados no último instante, tiroteios. O detalhe interessante é a ajuda que Ryan recebe de toda uma equipe por trás dele, inclusive de sua namorada. Assim, Ryan não é uma espécie de James Bond tradicional que resolve tudo sozinho sem desarrumar o penteado. Ele precisa da ajuda de outras pessoas para ter êxito na sua missão. Mas a melhor coisa mesmo é o Kenneth Branagh que, além de dirigir o filme, como já falamos, também dá vida de uma forma muito eficaz ao vilão Cherevin. Um ator inglês fazendo um verdadeiro russo, semblante fechado, olhos penetrantes, interpretação contida e elegante, até quando ameaçava a mocinha Cathy. Mas, como a América tem que ser salva das forças do mal, Ryan salva o dia (será que um dia o inimigo vai vencer num blockbuster desse? É mais fácil uma galinha criar dente). O final do filme é emblemático: Ryan e Harper batendo um papinho com o Obama no gabinete. O mesmo Obama que se embanana todo na hora de se justificar com meio mundo (inclusive seus aliados!) com relação aos casos de espionagem, dando a mesma desculpa cinematográfica: precisamos espionar para garantir nossa segurança. E resta a galera fingir que acredita. Abençoada seja Hollywood, que dá a justificativa ideológica para os abusos americanos pelo mundo. E Jack Ryan faz seu dever de casa direitinho...

Cartaz do Filme.


Nosso “capitão Kirk”, salvando a América.


Kenneth Branagh arrebentou!!!


Um envelhecido Kevin Costner teve boa participação no filme.


Keira Knightley como a namoradinha sensível...


Protagonistas na apresentação para a imprensa. 

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Resenha de Filme - 12 Anos de Escravidão

12 Anos de Escravidão. 9 Oscars.
Mais um filmaço na noite do Oscar. Esse talvez seja o melhor de todos. Embora a temática racial nos Estados Unidos pareça ser um tema já muito batido, o assunto pode ser visto como uma fonte inesgotável. E é isso que sentimos no excelente “12 Anos de Escravidão”, de Steve McQueen, que já ganhou o Globo de Ouro de melhor filme. Mau sinal para a premiação do Oscar. Tomara que eu esteja enganado.
Esse filme é baseado na história real de Solomon Northup (interpretado por Chiwetel Ejiofor), um homem negro livre que é músico e tem uma vida bem burguesa com sua família, isso em meados do século XIX nos Estados Unidos. Um dia, ele recebe a proposta de empregos de uns homens que dizem ser donos de um circo e precisam de alguém que toque violino, justamente o instrumento de Solomon, que aceita a oferta. Ele irá jantar com esses homens num restaurante e vai exagerar na bebida, perdendo a consciência. Na verdade, Solomon cai numa armadilha, onde vai ser sequestrado para ser escravizado e vendido o que, segundo a história apresentada, pareceu ser uma prática bem comum na época. Assim, vemos Solomon, um homem livre e com estudo, presenciar todos os horrores da escravidão, lutar para sobreviver nesse meio e bolar estratégias para reaver sua liberdade. O filme tem o enorme mérito de analisar a escravidão de forma bem fria mostrando os horrores dos castigos corporais em detalhes, mas não sem mostrar um certo indício de paternalismo que os senhores tinham para com os seus escravos, dentro de uma lógica de Antigo Regime em que o mesmo pai que pune e castiga é o pai que ama e protege. Dessa forma, vemos senhores que chicoteiam impiedosamente seus escravos, mas também os abraçam como um pai que abraça os filhos. Ainda, vemos senhores usando escravas como objetos sexuais, o que despertava a ira das senhoras que mutilavam as escravas sem dó nem piedade, e principalmente no rosto, para deixarem suas faces cheias de marcas. A forma como os escravos eram vendidos nos mercados também chama a atenção, onde mães e filhos são separados e seres humanos são tratados como mercadorias (“esse é forte e trabalhador”, “esta faz bons serviços domésticos”, “esse menino é ágil e esperto”, “essa menina é mais clarinha e pode me dar muito dinheiro”, etc.). Vemos capatazes negros estalando chicotes sobre escravos nas plantações de algodão (algo que acontecia muito: os negros a serviço dos senhores punindo negros, onde até o nosso protagonista letrado e refinado é obrigado por seu senhor a chicotear uma colega). O caso de negras que casam com seus senhores e têm uma vida de senhoras também é registrado no filme, mostrando como a escravidão é um fenômeno complexo, afetando estruturas e relacionamentos sociais. Talvez esse tenha sido um dos filmes mais historicamente fidedignos com relação ao tema da escravidão. Daí a sua importância.
E os atores? Chiwetel Ejiofor, nosso protagonista Solomon, foi muito bem. Ele realmente convence ao mostrar todo o seu estado de choque quando entra em contato com as violências que sofria como escravo. Benedict Cumberbatch (olha aí nosso Khan de novo!) fez um senhor de escravos mais “bonzinho”, digamos assim (se bem que, quando o bicho pegava, ele pensava mais em seu umbigo). Mas a interpretação de Cumberbatch foi ofuscada pela de Michael Fassbender, que fez o senhor de escravos Epps, a melhor materialização desse “paizão” de Antigo Regime, capaz das maiores violências e sadismos, num contraste bem marcante com os (poucos) gestos de carinho que tinha para com os seus cativos. Quem não conhece a complexidade da escravidão pode achar que seus poucos gestos de carinho eram o resultado de uma mente insana, mas os estudos históricos realmente apontam para uma visão paternalista do senhor de escravos, apesar de todas as violências que praticava. Ainda com relação aos atores, um destaque especial deve ser dado a Lupita Nyong’o, que faz a escrava Patsey, e concorre ao Oscar de atriz coadjuvante. Patsey era a preferida de Epps, por ser a que mais colhia algodão todos os dias (mais de duzentos quilos diários!) e era usada como objeto sexual de Epps, o que despertava a ira de sua esposa e imprimia-lhe as piores violências como dar uma garrafada na cabeça da mocinha ou rasgar-lhe o rosto com as unhas. A escrava chega a pedir a Solomon que a mate para se livrar daquela vida horrível, mostrando outra estratégia que os escravos usavam contra a escravidão, que era dar fim à própria vida. Ela inclusive será açoitada por Solomon a mando de Epps, pois este, numa crise de ciúmes, acaba lhe imprimindo o castigo. Um detalhe interessante parte da esposa de Epps, que alerta o marido sobre a expressão de ódio que os negros têm para com os brancos e o medo de uma revolta escrava, numa menção velada ao chamado haitianismo, que foi uma espécie de medo que os brancos sentiram dos escravos negros, pois em 1803, na colônia francesa do Haiti, os escravos se revoltaram, matando todos os brancos da ilha e formando uma república independente (foi o primeiro país do continente americano a conquistar sua independência depois dos Estados Unidos). Essa revolta escrava haitiana despertou um receio de que escravos de outras partes do continente também se revoltassem. E a esposa de Epps, na sua ânsia de vingança contra Patsey acaba fazendo menção a um perigo de revolta escrava (lembremos que a história do filme se passa na década de 1840, portanto, cerca de quarenta anos depois da revolta haitiana).

Só espero que as conquistas no Globo de Ouro não tirem “12 Anos de Escravidão” da briga pelas estatuetas. É mais um filme fundamental, mais um filme de denúncia, mas talvez um dos melhores concorrentes ao Oscar desse ano de 2014. Ele merece cada uma das nove estatuetas a que concorre e, como eu sempre digo com os filmes muito bons, “é para ver e ter”. Ah! E também tem o Brad Pitt!!! Mas nunca ele me pareceu tão irrelevante...

Cartaz do Filme.


Solomon. Expressão de Choque.


Fassbender arrebentou!!!!


O diretor Steve McQueen. Nome de ator de ação.


Patsey. Personagem que provoca muita comoção.


 Nosso Khan ofuscado.


Brad Pitt. E daí?

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Resenha de Filme - Clube de Compras Dallas

Clube de Compras Dallas. Nasce um Cocktail.
Outra película com indicações ao Oscar. O bom filme “Clube de Compras Dallas” fala dos primórdios da AIDS, do preconceito e do medo. E isso num dos estados mais preconceituosos e racistas dos Estados Unidos, o Texas.
Vemos aqui a história do cowboy Ron Woodroof (interpretado pelo excelente Matthew McConaughey), um cara que trabalha nas plataformas terrestres de petróleo durante a semana e, aos sábados e domingos, monta em touros num rodeio. Sua vida é altamente promíscua, com muito sexo sem camisinha, álcool e cocaína. O vaqueiro vê a notícia do caso de AIDS de Rock Hudson no jornal (em meados de 1985) e podemos ver aí toda a sua homofobia e de seus colegas, além da falta de informação da época que atribuía a AIDS apenas a homossexuais. Simultaneamente, vemos seu estado de magreza e fraqueza cada vez mais evidente até que, num acidente na plataforma, ele para no hospital, onde os exames de sangue apontam o HIV. Isso deixa Woodroof transtornado, pois ele não era homossexual. Ele acha que os exames foram trocados no hospital e não dá muita atenção à previsão do médico de que tem somente trinta dias de vida. Mas aquilo fica martelando na sua cabeça e ele começa a pesquisar sobre o assunto, quando descobre que sexo sem camisinha faz parte do comportamento de risco da doença, e ele chega à conclusão de que tem mesmo o HIV. Sua pesquisa continua e ele conhece todos os tratamentos em testes no mundo na época e passa a lutar por uma dose de AZT, que consegue clandestinamente. Mas seu contrabandista perde o acesso ao remédio e indica um médico americano no México que perdeu a licença por ministrar tratamentos alternativos não autorizados nos Estados Unidos. Lá, o nosso vaqueiro melhora muito a sua saúde, descobre que o AZT nas doses ministradas nos Estados Unidos é muito tóxico e que os tratamentos alternativos não são autorizados em solo americano por pressão do laboratório que produz o AZT e que não quer perder seu lucro. Woodroof decide então contrabandear o medicamento alternativo para os Estados Unidos (tem até babosa, acreditem!) e aí ele decide fundar o Clube de Compras Dallas, onde os soropositivos devem dar uma contribuição mensal de 400 dólares em troca da medicação. Obviamente ele terá problemas com os médicos e o governo dos Estados Unidos, com o resto do filme falando de sua luta para se tornar legalizado, que durou bem mais de um mês. E que, de uma certa forma, ajudou a desenvolver o cocktail contra a AIDS que existe hoje.
O ponto mais positivo desse filme é denunciar o interesse financeiro dos laboratórios farmacêuticos que pensam mais nos lucros que na vida humana (assim como nossos planos de saúde). Mas também a história mostra como a falta de informação alimenta o preconceito, algo sentido pelo próprio cowboy depois que seus amigos descobrem que ele está com AIDS e o tratam com homofobia. Com o tempo, o próprio Woodroof relativiza seus pontos de vista retrógrados ao conhecer, em uma de suas internações, o homossexual Rayon (interpretado pelo não menos excelente Jared Leto). O vaqueiro e o homossexual se tornarão sócios nessa medicina ilegal que exercerão, com Rayon arrumando pacientes para Woodroof. Temos também a médica Eve (interpretada por Jennifer Garner, a Elektra da Marvel), que tem um leve relacionamento platônico com o vaqueiro e tem várias crises de consciência em levar adiante o tratamento com o AZT ou entrar na empreitada médica de Woodroof.
E Matthew McConaughey? Esse é o cara! Um atorzaço! Desde os tempos de “Contato”, com a Jodie Foster, ele sempre foi muito competente naquilo que faz e, na opinião deste modesto articulista, precisa de muito mais espaço do que tem em Hollyrwood. Sua ponta em “O Lobo de Wall Street” já fez uma baita diferença naquele filme. Sua participação em “Contato”, como o padre sereno e racional que namora uma cientista é arrebatador. Mas McConaughey tem outros papéis interessantes, como o do stripper Dallas de “Magic Mike”, exibido no Festival do Rio de 2012, e do delinquente Mud, de “Amor Bandido”, um filme americano que deu o que falar no último Festival de Cannes.

Por essas e por outras é que eu falo: Hollywood pode produzir muito lixo (até porque eles têm grana para gastar), mas quando chega a época do Oscar e ela precisa fazer coisa boa, ela faz, e muito bem. Assim, “Clube de Compras Dallas” é outro filme que merece ser visto e que também merece muitas estatuetas.


 Cartaz do Filme.


Sabendo do HIV.


Rayon. Excelente interpretação de Jared Leto.


 Eve, médica em conflito.


Negociando interferon no Japão.


Matthew McConaughey: premiado no Globo de Ouro.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Resenha de Filme - Nebraska

Nebraska. Resgate de Memórias Esquecidas.
Mais um candidato ao Oscar, com seis indicações. O bom filme “Nebraska”, de Alexander Payne, é uma comédia primorosa e, como todos os bons filmes, abre espaço para a reflexão. Sem falar que é outra obra que lança mão da beleza do preto e branco e tem tons de road movie familiar.
A história fala de Woody Grant (interpretado por Bruce Dern), um idoso barbudo e descabelado aparentemente fora de órbita que acredita que ganhou um prêmio de um milhão de dólares numa propaganda de assinatura de revistas. Morando em Montana, o velhinho quer viajar para a cidade de Lincoln, em Nebraska, para pegar o suposto prêmio, saindo de casa sozinho o tempo todo, levando à loucura sua mulher Kate (interpretada por June Squibb), que reclama dele sem parar. O fardo acaba sobrando para o filho de Woody, David (interpretado por Will Forte), que acaba organizando uma viagem até Lincoln, sob veementes protestos de Kate. Devido a imprevistos na viagem, David e Woody são obrigados a parar na cidade natal do pai, Hawthorne, onde Woody se encontra com parentes e espalha para a cidade que ganhou o tal milhão de dólares. Isso provoca um rebuliço danado na cidade de interior americana onde nada acontece e que está arrasada pela crise econômica que assola o mundo. A partir daí, parentes e amigos de Woody vão tentar arrancar dinheiro do velhinho, sendo defendidos por Kate (que chegou de ônibus), David e o filho mais velho Ross, que chega também para encontrar-se com a família (interpretado por Bob Odenkirk). Toda essa história é contada com muito humor e com destaque para os personagens de Woody e Kate, que dão muita graça ao filme. Mas o detalhe mais interessante da trama é descoberta, por parte de David, de detalhes de sua família que ele não conhecia, ao revirar o passado na longínqua cidade de Hawthorne. A visita de Kate ao cemitério luterano da família de Woody (Kate era católica) deu a oportunidade a David de conhecer parentes e histórias de família totalmente enterradas como os mortos. David teve, também, a oportunidade de conhecer uma ex-namorada do pai, puladas de cerca do pai e da mãe, a visita a casa onde Woody passou sua infância e mais outros episódios que dão um tom de nostalgia e saudade para o filme. Um detalhe interessante foi o fato de Woody estar tão obstinado para pegar o prêmio. Ele queria comprar uma pick-up para deixar de herança para os filhos (sua pouca presença como pai em contraste com sua alta benevolência para com os amigos o parecia atormentar) e comprar também um compressor de ar que um amigo dele (que se revela no filme um verdadeiro canalha) havia tomado emprestado e não devolvido. Essa vontade de deixar uma herança para os filhos torna a relação entre David e Woody mais afetiva.

Podemos dizer, então, que “Nebraska” é um excelente filme, merece ser visto e será de grande injustiça se ele não ganhar qualquer estatueta na festa do Oscar. Mais um filme que merece vários prêmios.

Cartaz do Filme. Um descabelado Woody...



Woody e David. Pai e Filho nas estradas da América. 


Kate, esposa e mãe. Personagem muito engraçada.


 Família de olho na suposta grana

Caminho no cemitério: melhor sequência do filme.


Bruce Dern em excelente atuação! 

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Resenha de Filme - Trapaça

Trapaça. O Mundo É Dos Espertos.
Você quer ganhar a vida dando voltas nos outros? Cuidado para não te darem uma volta também. Essa é a moral da história de “Trapaça” (“American Hustle”), de David O. Russell, mais um filme bem cotado para o Oscar esse ano. Ambientado nos anos 70, vemos aqui personagens a la Hermes e Renato, com estranhos penteados, vocabulário de baixo calão e óculos escuros não tão estranhos assim, já que eles são moda de novo (bom, são estranhos pra caramba, de qualquer forma).

A trama fala das peripécias do vigarista Irving Rosenfeld (interpretado por um gordo Christian Bale) que conhece a belíssima Sydney Prosser (interpretada por Amy Adams). Os dois farão um casal de estelionatários de primeira, enriquecendo ilicitamente com as mais variadas atividades. Até que, um dia, caem numa emboscada armada pelo agente do FBI Richie DiMaso (interpretado por Bradley Cooper). Para se livrarem da cadeia, Irving e Sydney terão que ajudar DiMaso a armar outras arapucas para prender outros estelionatários. Só que a ambição de DiMaso em subir na sua profissão não tem limites e nossos vigaristas servirão de isca para capturar políticos graúdos e perigosos mafiosos de Miami, metendo suas vidas em risco. Começa, então, um verdadeiro jogo de gato e rato para se ver quem passa a perna em quem. Destaque deve ser dado a pequena ponta feita por Robert De Niro como um dos mafiosos, à boa interpretação de Jeremy Renner como o prefeito de New Jersey Carmine Polito, com direito a um topetão de Elvis Presley, e à maravilhosa interpretação de Jennifer Lawrence como Rosalyn, a esposa de Irving. A moça confirma cada vez mais seu grande talento entre as novas atrizes de Hollywood, sendo muito engraçada aqui. O filme tem uma trama envolvente, decotes muitíssimo generosos e ousados de Amy Adams, bons momentos de comédia e um elenco que tem marcado presença nos blockbusters mais recentes sendo, portanto, uma curiosidade de como atores que são amparados às vezes por muitos efeitos especiais se viram sozinhos, na base da atuação mesmo, desempenhando papéis mais dramáticos. E o resultado foi muito bom. Renner convence como o prefeito bonzinho, assim como Bale como o vigarista frustrado e arrependido. Assim, podemos dizer que “Trapaça” é uma diversão garantida embora a trama seja um pouco densa e necessite de uma atenção mais aguçada do público. Mas dá para pescar o espírito da coisa num todo. Será um bom concorrente na noite de entrega das estatuetas.


 Cartaz do Filme


Picaretagem a serviço da lei


Tramoias e decotes.


Jennifer Lawrence. Tudo de Bom!!!


Topetões também presentes...

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Resenha de Filme - Ela

Ela: Sexo e Relacionamento Virtuais Levados Às Últimas Consequências.
O filme “Ela” é altamente inquietante. É uma ficção científica que pode estar indicando um caminho que o futuro tomará. E, se esse caminho for tomado, poderemos ter altos estragos na psique humana. A História (isso mesmo, com H maiúsculo) é muito instigante e inquietante. Não é à toa que esse filme concorre a cinco Oscars. Mas, mais importante que isso, ele é um convite à reflexão no futuro (e no presente) das relações humanas. E abre o espaço para um debate altamente pertinente.
O filme conta a História, num futuro não muito distante, de Theodore (interpretado por um magnífico Joaquin Phoenix), que tem uma profissão muito peculiar: ele escreve cartas altamente pessoais para clientes que não conseguem expressar espontaneamente suas emoções para seus entes queridos. Ele é um profissional muito talentoso nesse ramo, escrevendo lindas cartas. Mas sua vida pessoal vai de mal a pior. Ele vive separado de sua esposa há um ano e protela indefinidamente a assinatura dos papéis do divórcio. Todas as tentativas para obter um relacionamento na internet são em vão. Até que ele compra um sistema operacional que tem uma característica muito peculiar: ele tem consciência e aprende com a própria experiência. E é assim que ele conhece Samantha (interpretada por Scarlett Johansson, ou melhor, só a sua voz). O relacionamento entre os dois vai ficando cada vez mais estreito e profundo, até que eles iniciam um relacionamento virtual, com direito a sexo e tudo! E tudo se torna um mar de flores para Theodore e Samantha. Mas, mesmo nessa relação aparentemente perfeita surgem problemas. Samantha não aguenta a ausência de um corpo físico e simula um ato sexual entre Theodore e uma mulher que ela conheceu na internet e que ficou tocada por esse curioso romance. Nem precisa dizer que a experiência foi um desastre, pois Samantha “usava” o corpo da mulher como se fosse o dela, mas o distanciamento de Theodore em virtude da situação muito peculiar acabou magoando a todos. Outro elemento complicador foi no dia em que os papéis do divórcio foram finalmente assinados por Theodore na presença da esposa. Ela ficou revoltadíssima com a atitude de Theodore de se relacionar com um sistema operacional e não com uma mulher de verdade. E isso a fez lembrar das dificuldades de relacionamento com Theodore, que assumia uma postura escapista nos relacionamentos, provocando muita mágoa.

Outros lances dolorosos num relacionamento aparecerão na vida de Theodore e Samantha. Mas o que mais chama a atenção no filme é a exibição de um problema altamente contemporâneo e que pode assumir projeções assustadoras para o futuro. A questão posta é: qual é (e qual será) a natureza das relações humanas? O filme toca numa ferida profunda: a de como nós ficamos frágeis quando vamos nos relacionar com outras pessoas. Theodore é o exemplo clássico disso. Ironicamente, ele é altamente competente para escrever cartas afetuosas e pessoais para outras pessoas, escolhendo as palavras exatas. Mas, na hora de utilizá-las numa situação real para construir um relacionamento para ele mesmo, falha fragorosamente, por ser dotado de uma insegurança profunda. Foi assim quando ele foi a um encontro que ele marcou na internet, sendo inclusive rotulado de repulsivo, foi assim nas crises com Samantha. Sua insegurança ficou muito marcada ao, depois de mais um fracasso no campo pessoal, ele ficar sentado na frente de um enorme telão onde aparecia uma enorme coruja indo em sua direção, abrindo suas garras em direção a seus ombros. Mas a insegurança e fragilidade humanas não recaem apenas sobre Theodore. Sua amiga Amy (interpretada por Amy Adams) também termina seu casamento e inicia um relacionamento amigável com um sistema operacional. E Theodore fica sabendo por intermédio de Amy que várias pessoas estão usando sistemas operacionais para se relacionarem, havendo inclusive casos de traição. Assim, a insegurança humana perante o relacionamento com o outro é um tema recorrente no filme. Mas a coisa não para por aí. Outra questão que surge na trama: como a tecnologia afeta essa insegurança e interfere na natureza dos relacionamentos humanos? O filme faz uma clara alusão a uma situação para lá de contemporânea: um monte de pessoas, na rua, o tempo todo, com a cara metida em smartphones e redes sociais, sem olhar para quem está ao seu lado. Vemos o tempo todo no filme, as pessoas conversando com seus sistemas operacionais, ignorando completamente os outros transeuntes. Isso já faz parte de nossa realidade. Mas o filme vai além. E se os sistemas operacionais desenvolverem consciência? Como eles afetarão ainda mais a sensibilidade e fragilidade humanas? O fato de uma máquina atingir tal estágio de consciência ainda é uma ficção muito impossível, mas que o uso dessas tecnologias já altera nosso comportamento e pode afetar nossa psique de uma forma mais profunda, isso sim já pode ser considerado algo bem próximo de nós. Ou então essa tecnologia crie suportes para potencializar problemas e fraquezas emocionais já existentes há milênios. De qualquer forma, o filme é pertinente justamente por discutir como o homem será afetado por uma tecnologia que ele mesmo cria. Aliás, para quem tem blog ou site por aí, só uma pergunta: você ficará deprimido se sua postagem tiver poucas visualizações????


Cartaz do Filme


Um melancólico Theodore


Feliz com Samantha no bolso de seu casaco


Scarlett Johansson só nos brinda com sua voz.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Resenha de Filme - O Menino e o Mundo

O Menino e o Mundo: Imagens sem Palavras.
A animação brasileira “O Menino e o Mundo” é uma grata surpresa de nosso cinema. Uma ressurreição do cinema mudo, que trata de temas altamente complexos, numa linguagem fácil e acessível para o público infantil. Tudo isso com um acompanhamento musical de profissionais como Naná Vasconcelos e Emicida.

O filme conta a história de um garotinho de interior que vê o seu pai abandonando a família para tentar a sorte na cidade grande. Inconformado com a partida do pai, o menino viaja atrás dele e ganha o mundo, encarando de frente todas as injustiças contidas nele. Assim, ele encontra uma lavoura de algodão e a exploração do trabalhador no campo, onde empregados já doentes são simplesmente descartados pelo capataz da fazenda. Panfletos que prometem um mundo melhor para os trabalhadores em fábricas de tecidos na cidade, para onde o algodão cultivado no campo vai, levam nosso herói ao meio urbano, onde ele conhece a realidade das favelas, da propaganda consumista, do violento aparelho de repressão do estado (representado na batalha entre o pássaro negro, símbolo do governo, e o pássaro colorido, manifestação da cultura e alegria populares) e a manipulação de informações por parte da mídia televisiva. Ainda, a tecnologia e a mecanização que aumenta os lucros do grande patrão, mas aumenta o desemprego e a miséria. Muito curioso é perceber para onde o tecido vai, saindo em contêineres do porto e sendo “abduzidos” por discos voadores com cidades paradisíacas à la “Elysium”, numa alusão metafórica aos países desenvolvidos, que transformam o tecido em roupas requintadas, que retornam ao país dentro das vitrines das lojas, sendo uma referência clara ao subdesenvolvimento e à dependência econômica com relação aos países desenvolvidos. Outro detalhe digno de nota ocorre quando o menino chega à estação de trem e vê seu pai. Mas aí ele percebe que todas as pessoas que saem do trem são iguais ao seu pai, numa clara idealização de que todos os retirantes são iguais, empurrados ao meio urbano por todas as mazelas. Ainda, o filme também associa com maestria a depredação do meio ambiente à exploração capitalista. Todos esses temas são apresentados, como foi dito acima, sem um diálogo sequer. Os diálogos que aparecem no filme eram apenas sons incompreensíveis, que lembravam as falas da professora do Charlie Brown nos desenhos do Snoopy. Toda a linguagem, toda a expressão das ideias do filme estão única e exclusivamente na materialidade das imagens, numa animação ao mesmo tempo sofisticadíssima e muito singela e delicada. Tudo isso produto do nosso Cinema Brasileiro, esse com B maiúsculo. Vale muito a pena dar uma conferida nesse desenho. É de emocionar. Ah, esqueci de mencionar outro fato. O garoto, ao longo de sua viagem, encontra dois personagens: o trabalhador do campo, velho e doente e o trabalhador da cidade que vive na favela e precisa viver do lixão quando fica desempregado. Vemos ao fim do filme que esses personagens nada mais são do que o próprio garoto, que também terá que abandonar sua casa para tentar a vida na cidade. Assim, ao sair em busca de seu pai, o menino se encontra a si mesmo nas várias situações que o mundo capitalista injusto irá lhe impor. Não é nada, não é nada, mas tenho a impressão de que estamos presenciando o surgimento de uma obra prima do nosso cinema, que poderá ser muito celebrada no futuro. Por isso, não percam a chance de ver e ter esse filme!!!

Cartaz do Filme: animação brasileira sofisticadíssima, singela e delicada.


No lixão: vilania do meio urbano (note as favelas como gigantescas torres).


Melancolia no barraco depois de um dia exaustivo de trabalho.


A cidade grande


O campo multicolorido.


A despedida do pai: a faces dos personagens dizem tudo direto ao nosso coração.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Resenha de Filme - O Lobo de Wall Street

O Lobo de Wall Street: Uivos de Uma América Dividida.
Saiu um novo Scorsese! Um filme com várias indicações ao Oscar, “O Lobo de Wall Street” traz novamente a dupla de sucesso Scorsese-DiCaprio (os dois são agora inclusive produtores do filme). E novamente temos um filmão! Bom roteiro (adaptado de uma história real) e três horas de duração. Mais uma vez mexe-se com a América, suas “virtudes” e “defeitos”. Tudo de forma nua, crua, agressiva, espetaculosa. Do jeitinho que só o cinema americano (e, principalmente, Scorsese!) sabe fazer.

A trama conta a história do corretor da bolsa de valores, Jordan Belfort (interpretado pelo sempre ótimo ator Leonardo DiCaprio), que começa o filme fazendo uma apresentação bem humorada de si mesmo. Fala de sua riqueza, trambiques, paixão por drogas, sexo com prostitutas e seu principal vício: o dinheiro. Jordan começa como corretor na empresa de Mark Hanna (interpretado por um ótimo Matthew McConaughey, que foi pouco aproveitado no filme), que lhe ensina a regra básica do corretor ganhar dinheiro fácil: jamais deixar o investidor vender suas ações e pegar os lucros, mas sim estimular o investidor a reinvestir os lucros em ações para poder pegar as comissões das vendas. Se os investidores tivessem prejuízo nessas novas operações financeiras, azar o deles! O que importava era o dinheiro da comissão na mão do corretor. Mas a empresa faliu no primeiro dia de trabalho de Jordan, que acabou numa empresa de corretores que lidavam com microempresas, cujas ações valiam centavos e estavam fora de Wall Street. Jordan, com sua lábia, transformou essa pequena empresa numa gigante do mercado de ações, mesmo estando fora de Wall Street. Não demorou muito e mais operações irregulares eram feitas, festas com orgias, muito consumo de todo tipo de droga e diversões grotescas como lançamento de anões ao alvo ocorriam. A Comissão de Valores Mobiliários buscava irregularidades, mas não conseguia encontrá-las. Tudo parecia perfeito para Jordan e sua trupe de parceiros, até que o FBI se meteu no meio. Aí as coisas começaram a melar, pois na esfera criminal, Jordan se enrolou bastante, não sem antes tentar subornar os agentes com discursos sutis. O filme ainda mostra tentativas atrapalhadas de Jordan transferir seu dinheiro para a Suíça (onde o banqueiro era interpretado por Jean Dujardin, isso mesmo, aquele de “O Artista”) e lances muito inusitados de Jordan e seus sócios totalmente doidos com drogas (o momento onde Jordan se drogou com a “lemonade”, a mais violenta de todas, foi hilário!). Mas, ao fim, a empresa foi fechada pelo FBI e todo mundo terminou em cana. Isso depois de haver uma trairagem dupla até na delação premiada. Ao fim do filme, vemos que existem dois pólos: a América onde tudo é feito em nome e pelo dinheiro, onde o homem é totalmente desregrado em suas ambições, dando espaço para toda atividade ilícita e corrupta. Isso fica bem claro quando Jordan, num discurso para os empregados de sua empresa dizia que sua empresa “é a América”. E a empresa tinha tudo o que se podia imaginar: muito dinheiro rolando, consumo de drogas, prostituição, orgias, etc., etc., etc. O outro pólo é a América virtuosa, que respeita a lei e os direitos burgueses do cidadão, representada pela justiça e por agentes do FBI que não se deixam corromper, mesmo vestido o mesmo terno por três dias e voltando para casa de metrô. Os corruptos e imorais quebraram a cara, a América virtuosa e respeitadora venceu. Mas fica a pergunta: em qual das duas Américas você acredita???

Cartaz do Filme



Jordan e seu maior vício: o dinheiro


Matthew McConaughey, pouco aproveitado...


Mandando uma grana para a Suíça...


Jordan tentando subornar os federais. Mas os heróis da “América Certinha” resistiram bravamente.


Lançamento de anão.


Martin Scorsese, outro gênio do cinema...