Brigitte Helm, A Deusa Eterna De Yoshiwara!!!

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domingo, 25 de fevereiro de 2018

Resenha de Filme - The Post, A Guerra Secreta (Especial Oscar 2018)

Steven Spielberg e John Williams. Estes dois nomes estão atrelados a vários filmes de sucesso. Mas, e se adicionarmos Tom Hanks e Meryl Streep a esse conjunto? Teremos “The Post: A Guerra Secreta”, mais um filme que está na lista dos indicados ao Oscar e que concorre a duas estatuetas (Melhor Filme e Melhor Atriz para Meryl Streep, mais uma indicação; Streep é a recordista de indicações, vinte e duas ao total). Esse é um filme que fala sobre imprensa e a sua liberdade de publicar o que quiser, até documentos confidenciais do governo americano (como assim?).
                     Os cabeças de um jornal…
Bem, o Post em questão é o famoso jornal The Washington Post, da capital americana (ou estadunidense, como queiram). Temos Kay Graham (interpretada por Streep), a dona da empresa que administra o jornal, e Ben Bradlee (interpretado por Hanks), o principal editor. O filme começa de uma forma um tanto lenta e enfadonha, falando mais do dia-a-dia do jornal e de acordos comerciais empreendidos pela empresa. A coisa começa a esquentar quando o The New York Times, concorrente do The Washington Post, encontra trechos de um estudo encomendado pelo governo americano que indicava que a vitória americana na Guerra do Vietnã já era considerada algo inviável desde meados da década de 60 (o filme se passa no ano de 1971, em plena Guerra do Vietnã e durante o governo de Richard Nixon, ou seja, nas piores condições possíveis para a manutenção de um Estado democrático). Após a publicação da matéria, o The New York Times recebeu uma espécie de repressão do governo, sendo estritamente proibido de continuar a publicar sobre o assunto. O Post, então, toma as rédeas da investigação, e encontra uma versão do estudo que, se não é completa, tem mais páginas (cerca de quatro mil). Entretanto, publicar aquela história estava configurado pela justiça como desacato e poderia provocar as prisões de Graham e Bradlee, assim como praticamente pôr um fim à empresa do The Washington Post. Assim, fica o dilema: publica-se a matéria ou não? Como ficam o poder autoritário de Nixon e a liberdade de imprensa nesse processo?
                     Tocando uma empresa…
Podemos considerar esse como mais um dos filmes históricos de Spielberg que, como a grande maioria de todos os filmes históricos (inclusive os de Spielberg) é provavelmente apenas baseado em fatos reais, onde um molho especial pode ter sido colocado aqui e ali para tornar a história mais emocionante. De qualquer forma, a película presta um grande serviço em virtude do fato de mostrar como a democracia pode ser frágil no seio de um país que se diz o maior defensor da democracia e da liberdade, ou seja, os Estados Unidos. E isso ainda mais num período tão sombrio quanto o governo Nixon e a Guerra do Vietnã. Agora, realmente fica uma coisa um tanto difícil de engolir ver a imprensa, considerada o “Quarto Poder”, ser retratada como uma paladina da liberdade a serviço dos governados quando já tivemos tantos exemplos de justamente o contrário. Esse é um problema nos filmes históricos de Spielberg: em nome do espetáculo, ele acaba transformando a narrativa do filme em algo maniqueísta, com a imprensa representando o bem e o governo americano representando o mal. Talvez o filme ganhasse mais se tal discurso fosse um pouco mais relativizado. Por exemplo, no caso do estudo sobre a Guerra do Vietnã, até concordamos que esse documento confidencial fosse divulgado. Mas, e se o The Washington Post tivesse acesso a um outro documento cuja divulgação provocasse um grande prejuízo, por exemplo, para as pessoas simples do povo? Aí ficaria a questão: até onde o bom senso e a autocrítica dos jornalistas dialogariam com a liberdade de imprensa? Creio que o filme ficaria muito mais interessante se tal questão fosse levantada. Entretanto, como ele foi baseado numa história real e um outro documento secreto não apareceu…
    Analisando um estudo de quatro mil páginas…
Creio que não preciso dizer nada a respeito das interpretações dos atores. Mais uma indicação de Oscar de Melhor Atriz para Meryl Streep, que roubava a cena sempre que aparecia. Mas eu creio que Tom Hanks teve uma presença maior aqui, fazendo um firme editor de jornal de meia idade e com uns gestos um tanto rudes, não parecendo em nada com o ator que conhecemos (quando um ator fica muito diferente, até parecendo outra pessoa, ao interpretar um personagem, podemos atestar todo o seu talento e perceber como ele é bom). Ainda, tivemos uma boa história a ser contada, o que ajuda muito na aceitação do filme pelo espectador. Outro detalhe interessante, e que serve de curiosidade nos dias de hoje, é de como um jornal era produzido, sem qualquer tecnologia digital e com o uso de tipos de metal nas prensas. Essa foi uma parte bem legal do filme.
                Meryl Streep e Steven Spielberg
Assim, “The Post: A Guerra Secreta”, é mais um dos candidatos ao Oscar que está nas nossas telonas, coroado de medalhões como Spielberg, Streep, Hanks e Williams. É mais um filme histórico de Spielberg, que adequa um pouco o factual ao espetáculo, sendo um pouco maniqueísta, mas que traz um convite à reflexão, onde a gente se questiona se os chamados “defensores da democracia” são tão democráticos assim. Como todo candidato ao Oscar, é um programa imperdível.
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quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Resenha de Filme - O Destino de Uma Nação




                                                  Cartaz do Filme

Ainda em nossa série de indicados ao Oscar, vamos falar hoje do esperado “O Destino de uma Nação”, com Gary Oldman em excelente atuação como Winston Churchill, que lhe rendeu um Globo de Ouro de melhor ator de drama este ano. A película também concorre a seis estatuetas (Melhor Filme, Melhor Ator para Gary Oldman, Melhor Figurino, Melhor Maquiagem, Melhor Fotografia e Melhor Design de Produção). Este é mais um filme histórico sobre a Segunda Guerra Mundial que tem o cuidado de mencionar, quase ao final dos créditos finais que, embora tenha se baseado numa história real, pode ter alguns momentos fictícios.

              Um Gary Oldman irreconhecível…

Qual foi o recorte temporal dessa película? Foi justamente no ano de 1940, quando o nazismo avançava na Europa e estava às portas do Oceano Atlântico, com todo o exército inglês encurralado no litoral francês pelas tropas nazistas. Eram 300 mil soldados e não havia como a Marinha Inglesa resgatar todos esses homens. Em meio à violenta crise, o Primeiro Ministro Neville Chamberlain renuncia e é necessário um nome para um governo de coalizão entre os partidos majoritários do Parlamento Inglês. E esse nome era o de Churchill, por incrível que pareça um político turrão, extremamente grosso, comilão e beberrão, que havia cometidos sérios erros no passado.  Ele vai ter a dura tarefa de conduzir a Inglaterra nesse momento extremamente espinhoso, onde era seguidamente pressionado pelo seu gabinete de guerra a assinar um acordo de paz com a Alemanha. Mas Churchill se recusava terminantemente a isso.

Defendendo duramente suas posições no Parlamento Britânico

É um filme que fala da guerra e de política, mas que está muito focado na figura humana desse político que virou uma verdadeira lenda. Infelizmente os spoilers me impedem de falar um pouco mais. Entretanto, podemos dizer aqui que talvez tenhamos visto o melhor desempenho da carreira de Gary Oldman, irreconhecível com uma maquiagem bem realista.

     Kristin Scott Thomas esteve sensacional…

Uma menção especial deve ser dada a Kristin Scott Thomas, que fez Clemmie, a esposa de Churchill, a única que conseguia segurar o vulcão que era o marido. Outro nome conhecido do elenco é o de Ben Mendelsohn (o Diretor Krennic, de Rogue One) no papel do rei George VI. Devido à natureza rude de Churchill, o filme tem momentos de comédia muito vivos, o que servia para aliviar um pouco todo o drama provocado pela responsabilidade do cargo e pela situação extrema da guerra.

   De Diretor Krennic a Rei George VI. Promoção…

Com relação à reconstituição de época, ela foi um pouco prejudicada pelo cenário do filme, que se passava na maioria das vezes dentro de escritórios e de repartições públicas gerando um ambiente um tanto opressor. O próprio Parlamento Inglês foi reconstituído com uma iluminação com fortes tons de claro e escuro, algo que chamava muito a atenção do espectador, como se todo aquele ambiente pesado reproduzisse com fidelidade o estado de espírito das pessoas que tinham que conviver com o cotidiano da guerra. Só é pena que a película ficou praticamente presa ao ano de 1940 e seu desfecho tenha sido demasiadamente abrupto, bem ao estilo “Ué, já acabou?”. Mas seria complicado, do jeito que o roteiro foi estruturado, colocar mais alguns anos na história do filme.

    O filme é marcado por ambientes sombrios…

Assim, “O Destino de uma Nação” é mais um bom filme que está aí nesse início de ano, já premiado pelo Globo de Ouro e com boas expectativas com relação ao Oscar. Um filme que consagra Gary Oldman, que reproduz mais uma vez o contexto da Segunda Guerra Mundial, que tem um cenário opressor e pitadas muito boas de humor, sem falar que essa película tem uma ligação histórica com outro bom filme de Segunda Guerra Mundial do ano passado, “Dunkirk”. Vale a pena dar uma conferida.

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quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Resenha de Filme - Mãe

Mãe. Parece, Mas Não É.

                Cartaz do Filme
Um filme inusitado passou em nossas telonas. “Mãe”, dirigido por Darren Aronofsky (o mesmo diretor de “Cisne Negro”) é uma daquelas películas que seguem uma linha narrativa que, de repente, se modifica completamente, bem ao estilo do “parece, mas não é”. Com isso, o espectador fatalmente tem a impressão de que vê um certo gênero quando, na verdade, acaba sendo outro. Um filme que gosta de brincar de gato e rato com o espectador.
                      Uma mulher atormentada
Mas, no que consiste a história? Vemos aqui um casal bem unido (interpretado por Jennifer Lawrence e Javier Bardem). O marido é escritor e tem um bloqueio criativo que o impede de seguir a sua carreira adiante. Já a esposa é devotada ao casamento e ajuda o cônjuge a reconstruir a sua vida depois de uma tragédia pregressa. Tudo parecia às mil maravilhas com aquele casal. Até que, um dia, o marido leva um homem estranho para sua casa (interpretado por Ed Harris) e o acolhe, para espanto da esposa, que não entende a atitude do esposo a princípio, mas a acata, pois vê que o seu companheiro tem uma postura altamente solidária. Entretanto, com o tempo, aquele acolhimento dado àquele homem revela-se uma tremenda furada. O cara é extremamente inconveniente, fuma dentro de casa, e tem uma doença que provoca nele tosses insuportáveis não somente para ele como também para quem presencia aquilo tudo. E, como se não bastasse, ele tem uma esposa (interpretada por Michelle Pfeiffer), que se revela muito cínica e ácida. Todo esse rosário de situações inusitadas vai transformando a vida da esposa da casa num inferno e o marido não toma qualquer atitude para reverter isso, já que os intrusos se declaram fãs incondicionais de sua produção literária.
                         Um marido sem noção…
Esse é o tipo de filme que incomoda muito o espectador, já que ele bate de frente com um valor primordial da sociedade liberal: a ideia de propriedade como sinônimo de liberdade. Desde os tempos da Revolução Inglesa e do pensador John Locke, que cunhou as bases do liberalismo político, a ideia de propriedade como liberdade, cunhada pelo mesmo pensador, impera na sociedade liberal capitalista contemporânea. E, de repente, vemos o direito à propriedade sendo sistematicamente violado na película, provocando um enorme desconforto e uma empatia cada vez maior entre o espectador e a esposa interpretada por Lawrence, que recebe a agressão direta do desrespeito a esse direito fundamental. E a coisa é feita numa torrente cada vez mais crescente em intensidade, com a nítida intenção de incomodar. Por ser tão agressivo, o espectador vê a película nesse momento como uma história de suspense que pode até descambar para o terror, achando que o filme irá cair no lugar comum de um clichê. O problema é que a coisa vai se tornando cada vez mais surreal com o andamento da história, e o inusitado fica tão agressivo que rompe até os limites da liberdade poética, deixando a pessoa que assiste um tanto perdida com o que vai acontecer com o desfecho. E aí, quando chega o clímax, há uma violenta virada, onde o filme assume outra cara, não fechando um ciclo, por mais paradoxal que isso possa parecer. Infelizmente, os spoilers não me permitem ir mais a fundo na análise, mas uma coisa é certa aqui: a violenta virada que esse filme sofre em sua estrutura narrativa não é algo que a gente vê todo o dia e acaba nos surpreendendo um pouco, como se a violação da propriedade prendesse tanto a nossa atenção que a gente não consegue perceber as pequenas pistas que essa virada nos deixa antes do clímax (a capa de surreal é outro fator que ajuda a omitir um pouco tal virada, embora as pistas residam justamente no surreal).
          Ed Harris, um homem inconveniente
Bom, apesar desse estado de confusão que o filme provoca no espectador, visto por uns como virtude e por outros como defeito, temos um grande atrativo que é o elenco. Foi muito bom rever Ed Harris e Michelle Pfeiffer, que andavam meio sumidos de nossas telonas. Só é uma pena que tenham aparecido pouco. Eles poderiam ter tido uma participação um pouco maior na história, sobretudo Pfeiffer, com uma personagem bem mais interessante e agressiva. Harris foi perfeito em sua inconveniência, embora o personagem exibisse uma fragilidade latente que não combinava muito, mas ajudava a aumentar a tensão. Bardem foi primoroso como o marido amável, que podia ser muito complacente em alguns momentos, mas extremamente agressivo em outros. Agora, a mais fraquinha ali talvez tenha sido justamente Jennifer Lawrence. Embora suas sequências de desespero explícito tenham sido bem convincentes, sua atuação meio que se apagou em meio a tantos craques ali envolvidos. Foi até uma covardia com a moça, ouso dizer, mesmo que ela tenha melhorado muito nos últimos anos. Talvez a personagem não ajudasse muito, sei lá, embora não devamos nos esquecer (alerta de spoiler) de que ela chegou a uma situação limite no filme, onde ela acabou saindo do lugar comum de vítima que constituía a sua personagem.
Michelle Pfeiffer, numa personagem ácida e cínica
Assim, “Mãe” é um filme que merece ser visto, primeiro porque ele incomoda e agride o espectador a um ponto de que o mesmo não sabe mais qual será o desfecho da história. E, em segundo lugar, porque o filme revela uma grande virada em seu desfecho, até certo ponto inesperada, pois a estrutura narrativa consegue camuflar bem as pistas de que essa virada irá acontecer. Além disso, temos um ótimo elenco que comprou a ideia do filme e topou destilar todo o seu talento. Vale a pena dar uma conferida. Uma coisa é certa: o filme despertou muita polêmica, sendo amado e odiado pelas pessoas por aí. Ninguém ficou indiferente a essa película.
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segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Resenha de Filme - Vazante

Vazante. Cenas De Um Passado Não Tão Distante.

                                  Cartaz do Filme
A competente cineasta brasileira Daniela Thomas nos brinda com mais um de seus bons filmes. “Vazante” é um filme inquietante por si só. Parecendo muito afastado no tempo e descolado de nossa realidade, a película consegue nos mostrar de que ela pode se aproximar mais de nosso tempo presente do que imaginamos. Um filme que consegue fazer refletir e fazer chocar.
                                   Um casamento…
Vemos aqui a história de Antônio (interpretado por Adriano Carvalho), um dono de fazenda que vive em Minas Gerais no início do século XIX. Ele perde tragicamente a esposa e filho quando a mulher estava em trabalho de parto. Desesperado, o homem se lança no mato e lá fica deitado, tentando de alguma forma aplacar a sua dor. Mas como não há nada melhor do que um dia após o outro, a família do irmão da falecida vai morar numa fazenda vizinha. Com a família virá Beatriz (interpretada por Luana Nastas), uma jovem praticamente na pré-adolescência, que acaba casando com Antônio, em virtude das rígidas condições sociais da época. O homem precisa passar uns dias fora de casa para tratar de seus negócios com gado. Enquanto isso, Beatriz passa os dias sozinha, interagindo com os escravos da fazenda. Paro com aqui com os spoilers, mas o leitor um pouco mais atento já está percebendo, ao ler estas linhas, para qual rumo a história irá, assim como o desfecho.
                       A escravidão retratada…
Bom, se a trama não é algo tão inédito assim, isso também não significa que o filme não tenha virtudes. Muito pelo contrário até, pois a película é cheia de lances muito atraentes. A começar pelo notório preto e branco que leva o público a um contraste em claro e escuro muito marcante. Tal contraste já ajuda a alimentar o ambiente opressor do filme, já que as relações sociais numa fazenda no interior de Minas Gerais na primeira metade do século XIX não será exatamente o melhor exemplo de candura e leveza.
Aliás, a grande vedete do filme está justamente na questão das relações sociais. Numa sociedade patriarcal e com muitas heranças de um Antigo Regime ainda próximo (onde as relações pessoais e de troca de favores suplantavam as práticas impessoais e competitivas da sociedade capitalista), atrelada ao fator complicador gerado pela escravidão, vemos aqui como a hierarquização se fazia de forma extremamente presente. Os homens brancos praticamente são os senhores de tudo, indo desde os escravos, tratados como objetos que satisfazem todas as suas necessidades (até sexuais), chegando até a figura da esposa branca Beatriz, que em sua inocência adolescente, acabava se juntando aos escravos e de uma certa forma se igualava a eles, se virmos isso do ponto de vista das propriedades que os patriarcas brancos têm. Essa visão de superioridade do homem branco sobre a mulher, branca ou não, e sobre o próprio negro, ainda se faz presente nos dias de hoje. É só verificarmos que estrato da sociedade compõe a casta de grandes executivos, quem são os empregados, como a mulher é vista no mercado de trabalho e como há a óbvia manutenção do racismo e da ideologia dominante de uma elite que faz de tudo para restringir os direitos sociais. Nesses pontos, podemos dizer que “Vazante” é até bem atual. A única coisa que incomodou um pouco foi o fato de, a uma certa altura do filme, as relações pessoais foram colocadas um pouco de lado em virtude de um maior destaque dado ao relacionamento do casal protagonista. O problema é que, cedo ou tarde, isso teria que acontecer, até para que o filme tivesse um quê maior de dramaticidade. Outro problema aqui foi a qualidade do som, creio também que um pouco por culpa do sistema de som da sala do Estação Botafogo 2, que não está lá essas coisas. Em alguns trechos, os atores pareciam sussurrar bem baixo, o que atrapalhava a compreensão.
                   Mulher negra. Duplo objeto…
A questão da escravidão é muito bem trabalhada na película. Vemos um capataz negro controlando os escravos africanos. Devemos nos lembrar de que havia muitos conflitos envolvidos entre os africanos recém-chegados ao Brasil (que haviam se tornado escravos há pouco tempo e que lutavam para sair dessa condição) e os chamados crioulos, que eram negros nascidos no Brasil já na condição de escravos, que encaravam com mais “naturalidade” a sua condição. O filme mostra muito bem a postura bem mais rebelde dos africanos e de como a barreira linguística podia complicar muito as coisas, pois até os próprios escravos não entendiam uns aos outros, dependendo de sua procedência. Ainda, foi apresentado na película o escravo liberto (ou forro), esse nem livre, nem escravo, que tinha a promessa de uma carta de alforria caso trabalhasse mais alguns anos para o senhor. O forro tinha então o projeto ambicioso de recuperar a propriedade falida em troca da liberdade. E a sua função de administrador que precisava fazer a propriedade funcionar direitinho acabava o aproximando de um capataz que tratava os escravos da mesma forma que um branco o faria. Quando vemos esses momentos polêmicos do filme, onde negros maltratam negros, devemos nos lembrar que a escravidão no Brasil foi um fenômeno altamente complexo onde muitas situações ocorreram. O filme buscou trilhar um pouco por esse caminho mais complexo, saindo do lugar comum da escravidão somente como uma manifestação de violência do branco opressor contra o negro.
       A senhora convivendo com os escravos…
Dessa forma, “Vazante” é um daqueles filmes fundamentais que aparecem por aí, pois não é todo dia que vemos uma película abordar questões históricas de grande complexidade com eficiência e maestria. É um programa imperdível como produto cinematográfico e de análise histórica.
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domingo, 7 de janeiro de 2018

Resenha de Filme - Assassinato No Expresso Oriente

Assassinato No Expresso Oriente. Kenneth Branagh Volta A Atacar!

Cartaz do Filme. Um detetive e um rosário de suspeitos
Um bom filme em nossas telonas. “Assassinato No Expresso Oriente” marca a volta de histórias da mestre Agatha Christie no cinema, sob a responsável chancela de ninguém mais, ninguém menos do que Kenneth Branagh. Um filme que tem como atrativo uma grande história, contada por um grande elenco. Além de Branagh, no óbvio papel de Hercule Poirot, com seu bigode de trinta quilômetros, tivemos nomes de peso como Judi Dench, Willem Dafoe, Johnny Depp, Penélope Cruz, Michelle Pfeiffer e a “Star Wars” Daisy Ridley. Mesmo que o filme tenha sido totalmente centrado em Branagh, somente a presença desse elenco é um belo cartão de visitas que já faz o filme ser ansiosamente aguardado.
                                   Poirot e seu bigodão. O cara!!!
A história não sai do lugar comum das tramas de Christie: um assassinato, onde Poirot precisa desvendar o mistério de quem é o assassino, dentre todo um rosário de suspeitos. No caso aqui, a vítima é um gângster magistralmente interpretado por Depp (sua face camaleônica novamente o torna irreconhecível e o fato dele ser o morto em questão torna a sua presença limitada na película, o que é uma pena). Poirot está cansado e já faz uma viagem para desvendar um caso. O detetive precisa de férias e recebe esse pepino para descascar em pleno trem, que fica preso numa avalanche. Assim, ele tem pouco tempo para descobrir o assassino, enquanto os funcionários da linha férrea desobstruem os trilhos cobertos pela neve. O filme dá a entender que esse é um dos casos mais difíceis que Poirot enfrentou, cujo desfecho é bem trágico, o que talvez tenha colocado essa história de Christie numa posição mais singular. Como eu somente li um livro da autora, não posso dar uma opinião segura quanto a isso, mas se agregarmos as histórias de “Morte Sobre o Nilo” e “Testemunha de Acusação”, ambas aproveitadas para o cinema, vemos que “Assassinato no Expresso Oriente” toma um caminho um tanto diferente dessas demais histórias no que se refere ao desfecho. De qualquer forma, o filme nos dá uma sensação de mortificação e aperto no coração em seu final, onde sentimos toda a dor de Poirot com o que ele presencia, o que dá margem para uma boa reflexão e discussão filosófica. Ou seja, é uma Agatha Christie que faz pensar não na forma da montagem de uma trama, mas sim faz pensar questões mais profundas. Até pelo fato de o filme terminar dessa forma mais inusitada, a atenção total que o espectador deve dar a uma história que reconstitui um assassinato como se fosse as peças de um quebra-cabeça não é tão necessária assim. E a cerebralidade policial da película é substituída por algo mais emotivo e que lança nossa alma numa lamentação incomensurável.
                                   Atores de peso…
Com relação aos atores? Branagh simplesmente arrebentou. Ele deixou bem clara a meticulosidade do personagem ao exigir dois ovos cozidos rigorosamente iguais e em ser um observador rigoroso, sendo possível identificar cada detalhe de seu interlocutor. Suas gargalhadas ao ler Dickens também foram dignas de atenção, já que o escritor é famoso por contar histórias não tão alegres assim. Todos esses detalhes atraíam o espectador que nada conhece sobre Poirot ou ajudavam a ressuscitar uma figura há muito tempo esquecida (o que foi o meu caso). Do elenco estelar, devo confessar que lamentei o pouco tempo de tela a alguns medalhões do naipe de Dafoe, Dench e Cruz. Michelle Pfeiffer estava magnífica no filme e, mesmo com os sinais da idade já despontando em sua face, ela não deixa de ser uma mulher charmosa. Ainda contribui para a atuação dela o fato de sua personagem ter uma certa centralidade na história. Só é de se lamentar que, com tantos craques de atuação aqui, Daisy Ridley tenha ficado tão ofuscada. Bom, se ela quer ser grande, ela precisa estar entre os grandes. E se ela foi chamada para isso, eu considero tal situação um bom sinal. Ela fez o que podia fazer de melhor ali. Mas teve um baixo tempo de tela, também, até por motivos óbvios.
                                … e uma diva…
Dessa forma, “Assassinato No Expresso Oriente” pode até ser mais uma adaptação de Agatha Christie para o cinema, mas não deixa de ser simpática e atraente, pois é conduzida por alguém muito competente como Branagh. Pela boa história, pelo elenco e, principalmente, pela reflexão gerada por um desfecho um tanto inusitado, vale a pena dar uma conferida.
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sábado, 6 de janeiro de 2018

Resenha de Filme - A Bela Da Tarde. Surreal Disputa Entre Real E Onírico.




                                                    Cartaz do Filme

Ao que eu me lembre, só havia visto um filme de Luís Buñuel, o longínquo “Um Cão Andaluz”, lá da época do cinema mudo e um dos ícones clássicos do surrealismo. Qual não foi a minha surpresa quando vi que estava em circuito uma cópia restaurada de “A Bela da Tarde”, em comemoração aos cinquenta anos da película, realizada lá no ano de 1967, com Catherine Deneuve no auge de sua juventude e beleza? Essa era uma oportunidade de ouro e me despenquei lá para o Espaço Itaú para assistir.

                                       Uma esposa frígida e recatada…

E quais foram as impressões? Esse é um filme que tem um enredo um tanto manjado (alerta de spoiler em filme de cinquenta anos!!!). Uma esposa frígida sexualmente (interpretada por Deneuve), que tem um marido dedicado e bem sucedido na carreira de médico, vive atormentada com sua condição, mesmo com toda a compreensão do mundo do cônjuge. Um belo dia, ela descobre, por intermédio de uma amiga, que os famosos prostíbulos ainda existem nas ruas de Paris. Tomada por toda uma curiosidade, ela visita um deles e começa a trabalhar como prostituta, algo que vai transformar sua vida, pois a moça fica bem mais ativa com suas experiências sexuais, e ela consegue levar uma vida mais afável com o marido. O problema é que um dos amigos do marido, tremendamente inconveniente com a moça, a descobre no prostíbulo, o que faz a esposa largar a profissão em que ela somente pode estar à tarde (daí o título do filme). Mas um de seus clientes é um perigoso bandido que descobre seu endereço e acaba atirando em seu marido, que fica paralítico.

     … tem uma vida tranquila com o marido…

Esse drama um tanto sexual com ares de tragédia cairia num lugar comum não fosse uma pequena batalha presente na estrutura narrativa da película. Os pólos atuantes desse embate são o mundo real e o onírico, onde um não respeita o limite do outro. Assim, no início da película, presenciamos uma situação onde o casal anda numa carruagem e fala da frigidez da esposa.

                        Fetiches surrealistas…

Num rompante, o marido para a carruagem e ordena aos cocheiros que chicoteiem e estuprem a moça. Mas isso na verdade é somente um devaneio fetichista da esposa, que está segura na cama de seu quarto. Esse é apenas um dos exemplos que permeiam todo o filme, com o detalhe de que o onírico é extremamente inusitado, beirando o surreal, algo que tem tudo a ver com um diretor como Buñuel. O leitor mais atento pode então frisar que esse jogo de gato e rato entre o real e o onírico então é de fácil percepção, ou seja, é só tudo se tornar surreal que sabemos o que é real e o que é invenção da mente da esposa. Vemos até umas armadilhas relacionadas com essa ideia em alguns momentos do filme. Mas a coisa não é tão simples assim e o fio narrativo que considerávamos como parte do mundo real se revela, ao final da película, nada mais do que um outro devaneio ilógico da esposa, que aparece finalmente como uma perfeita casada no mais perfeito dos mundos.

                                Ela experimenta a vida de prostituta…

Essa brincadeira um tanto lúdica entre o real e o onírico com toques de surrealismo é a grande atração do filme depois da beleza estonteante de uma jovem Deveuve de cinquenta anos atrás.

    …com direito a algumas ligações perigosas…

Assim, “A Bela da Tarde” justifica toda a sua fama de ser um clássico da história do cinema, com a chancela de dois nomes fortes do porte de Buñuel e Deneuve. Se o estimado leitor não tiver a oportunidade de assistir a essa cópia restaurada que está em circuito, procure em DVD ou no Youtube, pois vale muito a pena, não somente para os amantes de um bom cinema como também para admirar a beleza de uma diva das telonas.
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