Juventude
Desenfreada. Sintomas De Uma Era Perdida.
Mais uma produção de
Nagisa Oshima exibida recentemente numa mostra realizada no CCBB. “Juventude
Desenfreada” (“Cruel Story of Youth”), produzido no ano de 1960, é uma outra
crítica rigorosa contra a sociedade japonesa do pós-guerra. Vemos aqui a
história da jovem Makoto, uma moça de classe média e maus hábitos. Ela
perambula pelas cidades à noite, aceitando caronas de estranhos que, na maioria
das vezes, tentam estuprá-la. E foi dessa forma que ela conheceu o
universitário Kiyoshi, que inicialmente a salvou de um estupro e,
posteriormente, ele mesmo a estuprou, começando um “lindo” caso de amor. O
relacionamento entre os dois só mergulhou Makoto ainda mais no submundo, afastando-a
da família, que se limitava a apenas seus irmãos, e de suas amigas mais
chegadas. Nesse tosco relacionamento, Makoto experimentou momentos de liberdade
e algum romance, mas também passou por muitas situações espinhosas. Como a
grana ficou curta (ela sempre fica para praticamente todo mundo), Kiyoshi
começou a obrigar a moça a prostituir-se, tendo como alvo homens de meia idade
que depois eram chantageados por Kyioshi. Como dá para perceber, a coisa não
poderia terminar bem. O casal foi preso depois da denúncia de uma de suas
vítimas. Para a humilhação ser ainda maior, quem libertou Ryioshi foi uma
amante sua de meia idade, que perseguia o casal depois que os dois saíram da
cadeia. Já Makoto só se libertou, pois passou uma conversa nos policiais em seu
depoimento.
O desfecho do filme é
trágico. Kyioshi decide se separar de Makoto que, sozinha, continua sua vida na
prostituição. Dentro do carro de um cliente, é ameaçada por ele e se atira do
automóvel em movimento, morrendo com uma ferida bem feia em seu rosto. Kyioshi
também tem um fim trágico, ao ser espancado e estrangulado por uma gangue. A
cena final do filme mostra os rostos mortos do casal juntos e desfigurados.
Como foi dito acima, temos
mais um filme de Oshima que critica a sociedade japonesa da época, usando do
expediente da violência para chocar o público. Se os japoneses conseguiram se
reconstruir depois de toda a tragédia da Segunda Guerra Mundial, essa
reconstrução não se fez sem sequelas. Apesar de seus filmes de apelo político e
de sua fama de rebelde e anarquista, uma coisa no cinema de Oshima é
inquietante. Ao retratar o submundo, como ocorre nessa película, há sempre um
castigo cruel para os transgressores, como se sua crítica ácida à sociedade confirmasse,
ao fim das contas, posições moralistas conservadoras. Isso já havia acontecido
em “Império da Paixão”, onde o casal de adúlteros teve sua vida transformada
num verdadeiro inferno. Assim, parece que Oshima somente identifica e cita
elementos considerados “distorcidos” pela sociedade mais tradicional, mas sua
posição é tão moralista e conservadora quanto a dos conservadores, pelo menos
aqui. Se ele fosse mais transgressor, talvez o crime compensasse, com Makoto e
Ryioshi tendo um final feliz. Pode até soar mais falso, pela vida perigosa que
os dois levavam, mas, com certeza, seria bem mais desafiador.
De qualquer forma, isso
não tira o mérito desse grande cineasta japonês que é considerado um dos
criadores da “nouvelle vague” japonesa e tem um espírito rebelde,
principalmente quando ele se posiciona abertamente contra a guerra do Vietnã e
contra o preconceito da sociedade japonesa da época à leva de imigrantes
coreanos que inundava o país. Nesse momento, Oshima está na vanguarda das
vanguardas. Assim, só podemos ter uma noção do que o cineasta queria dizer se
conhecermos um número cada vez maior de suas obras.
Cartaz do filme
Cartaz na França.
Makoto, só se envolvendo em más situações...
... e se entregando a um de seus estupradores...
Houve até alguns momentos de idílio...
... mas também momentos de desgosto.
... e solidão.
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