Tudo
Por Amor Ao Cinema. Uma Bonita Homenagem.
Um bom documentário
brasileiro passa quase que despercebido em nossas telonas. E um documentário
que fala justamente do Cinema Brasileiro e um de seus maiores expoentes: Cosme
Alves Netto. Mas, por que essa personalidade foi tão importante para o nosso
cinema? Por pertencer àquele grupo que não exatamente gosta de cinema, mas sim ama
a sétima arte, Cosme, de uma
rica família de Manaus, renuncia à riqueza para se dedicar à busca das
películas que o haviam impressionado tanto. Se deslocando para o Rio de
Janeiro, ele vai participar de cineclubes e, logo, logo, será curador da
Cinemateca do MAM, fazendo um esforço hercúleo para montar seu acervo
cinematográfico. Cosme por vezes era criticado por não preservar o acervo, e
sim exibi-lo para muitas pessoas o que, segundo alguns, deteriorava as cópias.
Reza a lenda que ele exibiu no Paissandu uma cópia em nitrato de prata de “Alô,
Alô Carnaval”, depois de décadas de ostracismo e a cópia teria ficado
destruída, embora amigos próximos de Cosme digam veementemente que isso não aconteceu.
Para conseguir muitos filmes para o acervo da Cinemateca do MAM, Cosme tinha
amigos nos escritórios das grandes produtoras americanas no Rio de Janeiro,
como a Fox e a Warner, e quando as cópias iam ser destruídas, já que o contrato
de exibição exigia que após seu término as cópias não podiam mais ser exibidas,
os amigos de Cosme nas grandes produtoras sempre entregavam uma cópia para ele
na surdina.
O documentário também
registra o período da ditadura militar e as duas prisões de Cosme, que quase
lhe custaram a vida, pois na primeira vez, ele ficou com os pés submersos por
muito tempo (seis meses) e na segunda prisão, ele foi mantido nu e incomunicável
numa cela escura por muitos dias, sem as mínimas condições de higiene, e ele
quase veio a falecer. Mas nem tudo foram espinhos da vida de Cosme. Um incêndio
destruiu o MAM em 1978, com a suspeita de ser criminoso, pois o espaço do MAM
era usado em manifestações artísticas contra a ditadura. Como se temia que a
Cinemateca poderia ser o lugar de um incêndio, já que abrigava material
altamente inflamável (os antigos filmes à base de nitrato de prata davam um lindo
brilho prateado à tela, mas podiam pegar fogo facilmente em contato com o ar),
a Cinemateca foi construída em separado do Museu e com paredes muito grossas
para um suposto incêndio da Cinemateca não se alastrar para o Museu. Mas
aconteceu justamente o contrário e o acervo de filmes ficou salvo do incêndio do
Museu.
O filme ainda conta com
importantes depoimentos de figuras como o crítico José Carlos Avellar, os
cineastas Eduardo Coutinho, Cacá Diegues, Sílvio Tendler e Walter Carvalho e o
pesquisador Jurandyr Noronha, dentre outros, que muito enriqueceram a película.
Trechos de entrevistas do próprio Cosme são exibidas, inclusive uma entrevista
que ele deu a Antônio Abujamra quatro dias antes de falecer, em fevereiro de
1996. É interessante perceber que a trajetória de Cosme é ilustrada com cenas
dos próprios filmes que ele ajudou a preservar, como “Limite”, de Mário
Peixoto, sem falar de obras de Glauber Rocha e até filmes estrangeiros como “Jules
e Jim”, de Truffaut, ou “Cantando na Chuva”, um de seus favoritos.
É uma pena que Cosme
Alves Netto tenha ido tão cedo. O cinéfilo católico que conseguiu convencer o
Festival de Havana a ter católicos em seu júri em plenos anos 1980 era, nas
palavras de seus amigos, uma pessoa aglutinadora e um profundo conhecedor da
sétima arte. Esse documentário é de suma importância para resgatar a memória
desse brasileiro que se importava com a memória cinematográfica de seu país, a
ponto de resgatar um documentário sobre o Rio de Janeiro da década de 1920
realizado pelos irmãos Botelho e que estava na Cinemateca da... Finlândia!!!
Seu amor pelas películas, sobretudo as brasileiras, o fazem ser alvo de nossa
eterna gratidão por ele ter salvo algo de nossos filmes e nossa história. O documentário
também é uma linda e merecida homenagem, sendo uma referência obrigatória para
ser obtida e guardada, assim como ele fazia ao achar latas de películas de sua infância,
que ele guardava com todo o carinho no precioso acervo da Cinemateca do MAM. Para
os cinéfilos com C maiúsculo, esse é um programa imperdível.
Cartaz do Filme. Cosme com seu inseparável charuto...
Cosme Alves Netto, um grande nome de nosso cinema...
Cercado por sua paixão, as latas com filmes dentro.
Com Humberto Mauro e Alex Viany.
José Carlos Avellar, um amigo muito próximo que o ajudava na Cinemateca do MAM.
Com Nelson Pereira dos Santos.
Com Gabriel Garcia Márquez. Cosme era muito respeitado no exterior.
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