Jimmy’s
Hall. Luta Pela Justiça Em Época De Depressão.
O consagrado diretor
Ken Loach (de filmes como “Uma Canção Para Carla” e “Meu Nome É Joe”) traz para
nós mais uma interessante e tocante película. “Jimmy’s Hall” é um filme que
fala de uma Irlanda rural sacudida por um espírito de guerra civil e pela crise
econômica provocada pela Grande Depressão de 1929. Um filme que fala de uma
injustiça esmagadora e de um grupo que luta pela justiça. Uma história real que
nos faz pensar.
Vemos aqui a história
do líder comunitário James Gralton (interpretado por Barry Ward), da pequena
cidade de Leitrim, que teve que se refugiar nos Estados Unidos por dez anos,
depois de sofrer perseguições da elite local, liderada pelo padre católico
Sheridan (interpretado por Jim Northon). Gralton mantinha um salão onde a
comunidade tinha aulas de pintura, recitais de poesia, leitura de livros, etc.,
o que divertia a todos do pequeno povoado, mas, ao mesmo tempo, instruía a população.
De claras tendências marxistas, Gralton retorna em 1932 a sua cidade natal, depois
de dez anos, e quer manter apenas uma vida pacata. Mas a juventude local, que
conhecia as histórias do antigo salão, mais seus velhos amigos, os convencerão de
reativar o antigo espaço cultural da comunidade, para o desespero do padre Sheridan
e das elites direitistas e ultranacionalistas locais.
O filme aborda vários
aspectos. O mais claro deles é um claro conflito esquerda-direita, onde a elite
local de grandes proprietários surrupia terras dos mais pobres, havendo uma luta por reforma agrária na região. Mas há,
também, a questão da guerra civil entre os partidários da independência da
Irlanda (formados por grupos ultranacionalistas de direita de base católica,
onde o IRA já era bem atuante) e os partidários da manutenção da administração da
Inglaterra. Os líderes direitistas atribuíam o líder comunitário marxista
Gralton ao domínio inglês e aos estrangeirismos americanos de músicas negras e
pecaminosas como o Jazz, trazidas pelo líder popular quando do seu autoexílio
nos Estados Unidos. Assim, a disputa entre as elites direitistas e os grupos
proletários assume várias vertentes nesse microcosmos do interior da Irlanda. Curiosa
é a postura do padre Sheridan, anticomunista convicto e um obsessivo opositor
de Gralton mas, simultaneamente, admirador e respeitador velado do líder
comunitário, reconhecendo nele sua fé cristã, e chegando ao ponto de fazer
alguns devaneios em que ele ensaia algumas semelhanças entre o comunismo e o
cristianismo, além de, assim como o líder esquerdista, também comprar um
gramofone e escutar cantoras negras de jazz, apesar de condená-las
veementemente por seu conteúdo “pecaminoso” em seus sermões. Fica claro aqui
que, embora haja dureza no padre, ele a praticava como representante de uma instituição,
a Igreja Católica, mas, como figura humana, ele era altamente reticente com relação
a seus procedimentos, e uma mostra disso foi que ele ficou abalado quando
Gralton, no confessionário, disse ao padre que ele tinha mais ódio que amor no
seu coração.
Assim, “Jimmy’s Hall” é
um filme que fala de luta por justiça num meio altamente complexo e turbulento,
apesar de prosaico. Um filme que mistura conflitos entre esquerda e direita,
reforma agrária e guerra civil numa luta por independência, gerando vários
rótulos e matizes. Uma dolorosa e reflexiva história real que nos mostra que o
que se aprende não é arrancado de nós, apesar de toda a repressão de elites
retrógradas. Um filme indispensável.
Cartaz do filme
Gralton, um antigo líder comunitário
Padre Sheridan, um anticomunista convicto
A juventude local não tinha onde se divertir.
Reativando o antigo salão
Trazendo um gramofone e a cultura americana do jazz
... mas não esquecia a cultura local...
Mas, como sempre, alegria de pobre dura pouco...
... e a opressão das elites é implacável...
Qual será o futuro dessa comunidade???
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