Diplomacia.
Negociando O Apocalipse.
Uma interessantíssima
co-produção francesa e alemã nas telonas. “Diplomacia”, dirigido por Volker
Schlondörff, é mais uma daquelas histórias baseadas em fatos reais. E, ainda
por cima, é uma adaptação de uma peça de Cyril Gely (que também assina o
roteiro junto com o diretor). Um filme realmente com a cara de palco, pois a
ação se passa a maior parte do tempo em um mesmo cenário. Mas nem por isso
digno de desmerecimento.
Qual é o contexto da
trama? Estamos na França tomada pelos nazistas prestes a ser conquistada pela
resistência. O governador de Paris, general von Choltitz (interpretado por
Niels Arestrup), tem a difícil tarefa de barrar o avanço da resistência. Mas
essa tarefa parece cada vez mais impossível com o tempo. Com a derrota
iminente, logo lhe chega uma ordem: destruir a cidade de Paris, com população e
tudo. Bombas foram colocadas nas pontes sobre o rio Sena. Quando elas
explodirem, o curso do rio será interrompido, o que provocará grandes
enchentes. Monumentos e construções do centro de Paris também estão cheias de
bombas, o que destruirá o centro. Tudo parecia que ia acontecer, sem qualquer
sentimento de culpa ou remorso, quando aparece do nada no quarto de hotel do
general (os nazistas estão instalados num hotel de luxo), o cônsul da Suécia em
Paris, Raoul Nording (interpretado por André Dussollier). O cônsul, que é de um
país neutro na guerra, mas que morou em Paris por muitos anos de sua vida,
inicialmente tenta negociar uma rendição, mas depois, vista a forte recusa do
general, procura dissuadi-lo da ideia de destruir Paris. Vai começar então um
intenso debate entre esses dois homens cujo desfecho pode selar o destino da
cidade-luz.
O filme é excelente em
vários aspectos. Na reconstituição de época, nos cenários, nos figurinos mas,
principalmente, na atuação dos dois protagonistas. O duelo verbal entre o
cônsul e o general é magnífico. De um lado, um homem que segue uma hierarquia
militar e que precisa cumprir o seu dever. De outro lado, um humanista que quer
defender não só milhões de pessoas, mas também uma cidade que pode ser
considerada um patrimônio da humanidade e uma joia da civilização ocidental. A
forma apaixonada como Nording se refere à Paris é comovente. Esses momentos do
filme são inesquecíveis, pois suas falas afetuosas para com a cidade geralmente
acontecem com uma bela imagem panorâmica de Paris na tela, e que já valem o
ingresso. Por outro lado, o general irredutível e insensível, que usa de muito
autoritarismo e sarcasmo para rebater os argumentos do cônsul, mas que, com o
tempo, dá sinais de que pode ceder. Quem vai vencer esse duelo? E como o nosso
cônsul adentrou o quarto do general sem
passar pelos nazistas? Aqui tem um detalhe muito divertido. Mas não vou
contar. Sem spoilers...
E os atores? Os
protagonistas estavam simplesmente demais! Se André Dussollier (“Amelie
Poulin”) fez um grande humanista apaixonado por Paris, sendo contido (como todo
um diplomata deve ser) mas também com lampejos de exaltação, Niels Arestrup (“A
Chave de Sarah”, “Cavalo de Guerra”) também não ficou atrás. Ele, que, sem ser
Papai Noel, já interpretou “bons velhinhos” no cinema, agora faz um nazista que
é autoritário nos momentos certos, mas também mostra o seu lado humano em
outros, quando tem suas crises de asma e fala da família, em horas que parece
que vai ceder à lábia de Nording. É um ator que a gente já viu em muitos filmes
por aí e que aprendeu a gostar de ver atuar.
Dessa forma,
“Diplomacia” é mais um excelente filme histórico que aborda a temática da Segunda
Guerra Mundial e que merece a atenção do grande público e dos cinéfilos em
geral, principalmente pela atuação “teatral” dos dois protagonistas e pelo
texto muito bem escrito. Programa imperdível! E não deixem de ver o trailer
após as fotos...
Cartaz do filme
Um diplomata tentando evitar uma catástrofe
Um general que deve cumprir seu dever
Um debate interminável
Momentos de relutância
Tentando, desesperadamente, convencê-lo de cometer tamanha insanidade
Bombas instaladas...
André Dussollier e Niels Arestrup com o diretor Volker Schlondörff
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