A
Ilha Do Milharal. Produção Artesanal Num Silêncio Quase Total.
Um filme muito curioso
passou em nossas telonas. “A Ilha do Milharal” é uma co-produção de vários
países: Geórgia, Alemanha, França, República Tcheca, Cazaquistão e Hungria
(ufa!). Toda essa contribuição conjunta dirigida por George Ovashvili surtiu
efeito, pois esse filme foi muito premiado e ajudou a voltar as atenções do
público para a antiga república soviética da Geórgia e sua guerra civil. E
também para uma prática agrícola muito rudimentar e ancestral, que ajuda as
pessoas a superarem a fome no inverno.
Vemos aqui a história
de um velho (interpretado por Ilyas Salman) e sua neta (interpretada por Mariam
Buturishvili). O rio que passa na região sofre uma inundação que traz ao longo
do rio solo fértil do Cáucaso, formando pequenas ilhas temporárias. O velho
aproveita essa ilha fértil no meio do rio para plantar milho e armazenar os
grãos para os tempos mais difíceis do inverno. Mas o cultivo de milho não será
algo tão trivial. E o filme acaba mostrando, de forma bem didática, todo o
processo desse cultivo onde a primeira preocupação foi justamente construir uma
pequena cabana. O velho e sua neta vão fazendo tudo artesanalmente, passo a
passo, e nessas horas a gente se pergunta não onde eles estão, mas em que
século eles estão. Como se não bastasse a exibição de tal processo tão
peculiar, todas essas etapas são feitas num silêncio completo, numa verdadeira
ausência de diálogos, onde tudo se explica na materialidade das imagens, ao bom
estilo do cinema mudo que, volta e meia, ainda dá o ar de sua graça nas
películas. O filme irá ter alguns poucos diálogos, não sendo totalmente mudo. E
essas falas são em vários idiomas: russo, georgiano e abkázio. Isso acontece
pois, em torno da ilha, acontece somente uma guerra civil, onde soldados dos
dois lados (georgianos e abkázios) ficam rondando a ilha com seus barcos. Nesse
clima um tanto quanto tenso, o velho e sua neta cultivam o milharal para
garantir a própria sobrevivência.
Definitivamente, a
grande atração da película é o processo de confecção do milharal. O homem velho
pensa de forma bem pragmática e podemos ver todas as etapas e dificuldades
envolvidas na produção de milho na ilhota. Se o velho é mais pragmático, a
mocinha é mais emotiva e, paralela à criação do milharal, vemos também o
processo de amadurecimento da mocinha, que chega com uma bonequinha, menstrua,
pendura a boneca na parede da cabana construída pelo velho e, posteriormente,
se apaixona por um dos soldados que passa de barco. Como há uma ausência quase
total de diálogos, o olhar é muito utilizado como elemento expressivo e
narrativo, onde as pessoas se comunicam com a ajuda de grandes closes do rosto,
lembrando um pouco o cinema de Walter Hugo Khouri. Nesse ponto, o filme foi um
show e, apesar do ritmo um tanto lento, essa expressividade do olhar e a
meticulosidade das etapas de construção do milharal valem o ingresso comprado. Quanto
ao desfecho da película, ela tem um tanto de óbvio quanto um tanto de
inusitado. Mas não falaremos de “spoilers” aqui.
Assim, “A Ilha do
Milharal” é uma boa película, pois nos mostra elementos de uma cultura muito
diferente da nossa, onde a tradição (a sobrevivência do velho e da neta
organizando uma plantação com técnicas muito rudimentares) e a modernidade (a
disputa de duas nações por um estado) se mesclam. A quase total ausência de
diálogos e a narrativa explicitada na materialidade das imagens e na
comunicação pelo olhar são dois outros grandes atrativos do filme. Vale muito a
pena dar uma conferida. E não se esqueça de dar uma conferida no trailer depois
das fotografias.
Cartaz do filme
O velho e sua neta
No início, se construiu uma pequena cabana...
Cultivando para o próprio sustento...
Amadurecimento na ilha...
O trabalho surte efeito
Mas dificuldades podem surgir...
Serenidade, em meio a tantas provações...
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