As
Cinco Graças. Ainda A Mulher No Islamismo.
E a polêmica questão de
gênero no Islamismo parece não ter fim. A película reflexiva vem agora da
Turquia, e, em co-produção com a França, Alemanha e Catar. “Cinco Graças”, da
diretora Deniz Gamze Ergüven, é mais um filme que vai estar na festa do Oscar (indicado
para melhor filme estrangeiro), e também foi indicado para melhor filme
estrangeiro no Globo de Ouro. É um filme realmente provocativo, provocação essa
representada na figura de cinco adolescentes lindas e adoráveis. Cinco irmãs
que vão à escola e à praia com colegas meninos, brincando sem qualquer maldade.
Mas a vizinhança está de olho e fala tudo para a avó, que cria as meninas
juntamente com seu filho, que é tio delas (o pai e a mãe das meninas morreram).
A primeira punição que as meninas recebem é deixar de ir à escola e começar a
ser preparadas para casar. Mas elas sempre conseguiam dar uma escapadinha, o
que sempre era motivo para colocar um muro ou grande a mais na casa, até que
ela se transformasse numa verdadeira prisão. Logo, viriam os casamentos
arranjados, aceitos por algumas garotas, rechaçados por outras. O mais
angustiante era ver a irmã caçula, Lale (interpretada por Günes Nezihe Sensoy)
olhar as irmãs, uma a uma, terem o mesmo destino, que era o de casar com homens
que nem conheciam, e a constatação de que logo chegaria a hora dela passar pela
mesma situação escabrosa.
A película mostrava
coisas que seriam consideradas extremamente absurdas aqui em terras ocidentais,
mas que, estranhamente, ainda podemos ver por aí, como o fato de os
responsáveis levarem as filhas para o médico, com o objetivo de verificar se
elas ainda estavam virgens. É provável também que ainda haja a prática de
casamentos arranjados nos rincões mais isolados do país (se ainda há
escravidão...). Logo notamos que todas essas situações eram exibidas com o
intuito de denunciar tais práticas e torná-las as mais insólitas possíveis aos
nossos olhos. A forma como as meninas se comportavam, bem de acordo com a
cultura ocidental (parecia que a gente via a “Malhação” na Turquia), onde as
adolescentes eram brincalhonas e ensaiavam os primeiros passos nos namoricos, ia
totalmente de encontro â cultura teocrática e conservadora. As próprias meninas
tinham lindos e longos cabelos que, por si só, já eram um desafio às burkas. Muitas
vezes, elas apareciam dentro do ambiente caseiro de lingerie, algo extremamente
desafiador. Quando a repressão veio e as moças foram obrigadas a vestir roupas
mais tradicionais de cores neutras (cinza ou marrom), elas diziam que as roupas
tinham cores de merda. Assim, a opressão imposta pelo conservadorismo religioso
não ficava sem resposta nesse filme, e ela vinha num tom altamente desafiador,
até porque elas vinham de um grupo de adolescentes. Um detalhe interessante do
filme é que, apesar de ser um drama até certo ponto pesado, também tivemos
momentos de comédia, sobretudo em virtude das peripécias das meninas, o que deu
um pouco mais de leveza à coisa. Só é lamentável que esses momentos mais
engraçadinhos e levinhos tenham acontecido em poucos momentos mais ao início da
película, até porque depois a barra da situação pesou bastante e o filme tomou
grandes ares de tristeza. Ainda assim, o filme foi um fértil terreno para o
inusitado, o que aumentou a impressão de filme adolescente, quando a história
nem sempre anda de mãos dadas com a realidade e o plausível em determinadas
situações.
Dessa forma, a película
“Cinco Graças”, apesar de altamente implausível para a realidade que ela
retratava, ainda assim é digna de atenção em virtude do clima de enfrentamento
às instituições teocráticas pela maior fonte de rebeldia que existe, que é a
adolescência. É um filme que convida à reflexão e que diverte e comove. E não
deixe de ver o trailer após as fotos.
Cartaz do filme
Cinco irmãs muito unidas
Muito à vontade em casa
Um tio extremamente opressor
Vestidos de cor de merda
Sendo preparadas para casar...
Os casamentos arranjados desfizeram a união,
Apresentando o filme com a diretora Deniz Gamze Ergüven (a mais alta, de vestido preto)
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