Francis
Ford Coppola, O Apocalipse De Um Cineasta. Surtando No Sudeste Asiático.
Um grande documentário
passou em nossas telonas em mostra do CCBB. “Francis Ford Coppola, O Apocalipse
de um Cineasta”, nos mostra o processo de filmagens de “Apocalypse Now”, uma
das grandes obras do famoso diretor ítalo-americano. As imagens do documentário
foram tomadas pela esposa de Coppola, Eleanor, muitas vezes sem o conhecimento
do cineasta, e podemos ver que a produção de “Apocalypse Now” foi um parto
muito difícil, dada a grandiosidade do projeto e de todas as dificuldades nele
envolvidas. Pode ser dito que o diretor teve momentos de surto e quase pirou,
nas palavras da própria esposa.
E por que todo esse
processo foi tão tenso? Em primeiro lugar, o filme foi rodado nas Filipinas,
cuja paisagem tinha uma semelhança muito grande com a do Vietnã. Ele não teve
qualquer ajuda do governo americano para as cenas de guerra onde havia
tiroteios, helicópteros, aviões, etc. Assim, Coppola fez acordos com o ditador
das Filipinas, Ferdinando Marcos, para usar esse aparato militar filipino que
era desviado durante as filmagens, já que o país vivia uma guerra civil com a
guerrilha comunista, e aí em alguns momentos as filmagens tiveram que esperar.
Isso provocou uma lentidão que era muito criticada nos Estados Unidos, mesmo que
Coppola tenha usado recursos próprios para o filme, se bem que chegou uma hora
em que a United Artists colocou dinheiro e exigiria esse retorno. Um outro fator
que auxiliou no atraso das filmagens foram as tempestades tropicais e tufões,
que destruíram cenários. Se bem que, em algumas
oportunidades, tomadas foram
feitas sob uma chuva muito torrencial, já que, nas palavras de Coppola, a
guerra acontecia também nessas condições.
Outro momento um tanto
chocante foi o que aconteceu com o ator Martin Sheen. Para quem não conhece a
história, seu personagem era um militar escalado para matar outro americano,
interpretado por Marlon Brando, que havia criado uma espécie de pequeno reino
onde ele governava autoritariamente, com execuções à torto e direito. Só que,
para Sheen, foi muito difícil encarar a maldade de um personagem que teria que
matar de forma fria e calculista. Coppola, após um pesadelo com Sheen, decidiu
filmar com ele uma cena que era a reprodução de seu pesadelo, onde Sheen,
seminu e bêbado, se encarava perante um espelho se admirando, como todo belo
ator do “star system” faria, mas que depois encararia de frente o personagem do
filme, “demonizado” pelo ator em sua cabeça. Sheen, completamente bêbado, atuou
de forma muito violenta e estressada, cortando a mão após quebrar o espelho e
praticamente surtando. A cena exigiu tanto de Sheen que, no dia seguinte, ele
estava com fortes dores no peito. Encaminhado ao hospital, descobriu-se que ele
tinha sofrido um forte ataque cardíaco. O ator quase morreu por causa disso. E
Coppola, surtadaço, estava mais preocupado em encobrir o caso da mídia
americana.
As trocas e choques
culturais também se fazem muito presentes no filme, onde uma tribo nativa foi
usada nas sequências quando Sheen chega ao “reino” de Brando. Eleanor Coppola
ficou muito interessada nos rituais dessa tribo nativa, com direito à rituais
de dança e sacrifícios de animais. Aqui temos uma curiosidade. Eleanor pareceu
muito mais interessada nos rituais do que o marido. Mas, mesmo assim, ela o
chamou para assisti-los, o que o diretor, aparentemente, fez muito a
contragosto.
Talvez o momento em que
Coppola chega à sua crise mais profunda é o do final do filme. Ele queria dar
uma mensagem sobre a guerra, um tema considerado muito espinhoso para a época,
pois a opinião publica estava dividida quanto à presença dos americanos no
Vietnã. Sabemos que o filme tem uma crítica muito ácida a esse militarismo
americano, comparando a um show pirotécnico que só os americanos sabem fazer.
Mas o fim não estava legal para Coppola. E, em sua crise criativa, ele falava
que até o suicídio seria uma saída interessante para livrá-lo daquele sério
problema.
O documentário conta
com depoimentos de membros do elenco (Dennis Hooper, Lawrence Fishburne, Martin
Sheen, Robert Duvall e outros) e da produção de “Apocalypse Now”, o que incrementa bem a
coisa, além das excelentes cenas de “making of” filmadas por Eleanor, que
mostra seu marido trabalhando e os bastidores.
Hoje sabemos que o
filme foi um sucesso total de crítica, prêmios e bilheteria. Mas, naqueles dias
de incerteza, com filmagens arrastadas em condições inóspitas, podemos dizer
que o processo de produção de “Apocalypse Now” foi algo de enlouquecedor. Um
enlouquecimento comparável ao que acontecia com os soldados na guerra, nas palavras
de Eleanor. Será? De qualquer forma, esse excelente documentário de 1991 vale
muito a pena ser visto, pois aqui podemos ver todas as agruras e dificuldades
que são encontradas quando se faz um filme. Só é de se lamentar que a sequência
da fazenda francesa tenha sido cortada em “Apocalypse Now”, embora haja uma
versão com ela, que é altamente recomendável de se ver.
Cartaz do filme
Coppola. Produção de "Apocalypse Now" turbulenta.
Dirigindo sequência de "Apocalypse Now"
Cenas de combate feitas com a ajuda do governo das Filipinas.
Esta sequência quase custou a vida de Martin Sheen...
Alguns problemas com Marlon Brando
Em determinada hora, o suicídio parecia a única saída...
Eleanor Coppola, que filmou as cenas do "making of".
Nenhum comentário:
Postar um comentário