Tangerine.
Bonecas À Beira De Um Ataque De Nervos.
Um filme para lá de
frenético em nossas telonas. Sensação no Festival de Sundance, “Tangerine”, dirigido por Sam Baker, fala de uma
véspera de natal em Los Angeles no meio gay. E essa tal véspera de natal vai
acontecer de forma extremamente tensa, onde podemos presenciar todo o cotidiano
da vida da prostituição de travestis. Boa parte do filme foi feita com câmera
de celular, o que se constitui uma novidade e encoraja um monte de gente por aí
que tem tinos para filmagem de produzir suas películas “eletrônicas”.
Mas, no que consiste o
filme? Vemos aqui a prostituta transexual Sin-Dee (interpretada por Kitana KiKi
Rodriguez) e sua amiga, Alexandra (interpretada por Mya Taylor), outra
prostituta transexual, numa pequena lanchonete conversando. Sin-Dee acabou de
sair da cadeia e sabe por sua amiga que seu namorado Chester (interpretado por
James Ransone) tem um caso com uma mulher de verdade. Barraqueira como ela só,
Sin-Dee sai pela cidade atrás da “bitch” e de Chester, provocando enormes
confusões. Paralelamente à história das transexs, vemos a história do taxista
armênio Razmik (interpretado por Karren Karagulian), que é bem casado, tem uma
boa casa, mas adora pegar uns travecos na rua. É claro que essas duas histórias
se cruzarão num momento, mas aí já é dar “spoilers” demais.
O filme tem um tom um
tanto escrachado de comédia, sobretudo com os escândalos de Sin-Dee, cujo nome
é completado com o sufixo “rella”, responsável pelos principais tons cômicos da
coisa. O ritmo da película é também muito rápido em alguns momentos, regado à
muita música eletrônica, o que deixa a história um tanto insólita, cheia de
situações absurdas que rapidamente vêm e vão. Mas esse também é um filme
triste, onde vemos pessoas estressadas e infelizes em plena noite de natal,
ainda por cima, sem neve, por se passar em Los Angeles. Mais do que um filme de
transexs e travestis, esse é um filme sobre relações humanas, onde as pessoas
ferem e se ferem com os outros, e parece não haver muita compaixão com o
sentimento alheio, pelo menos em boa parte da história. Todo o estado de
agressividade e beligerância entre os personagens só é uma capa externa para
esconder a verdadeira natureza de todos, que é a de seres humanos extremamente
frágeis e sensíveis. Devo confessar que gosto muito de filmes construídos nessa
estrutura, ou seja, filmes que falam de segmentos muito marginalizados pela
sociedade de um ponto de vista totalmente humano. Ao expor fragilidades humanas
de pessoas marginalizadas, o filme contribui para que haja um elo entre o
público (que já se fragilizou alguma vez em sua vida privada) e os personagens,
o que cria uma identificação e ajuda a combater o preconceito. E, apesar de
todos os barracos e escândalos que apimentam a história no início, a exposição
das fragilidades vem na medida certa e da forma mais oportuna possível,
identificando gays e homossexuais como figuras humanas como quaisquer outras.
Dessa forma,
“Tangerine” é uma película muito peculiar, pois é uma comédia escrachada sobre
transexs, mas também é um bom drama que sabe humanizar os personagens e despir
os olhos do público de preconceitos. Vale a pena dar uma conferida. E não deixe
de ver o trailer após as fotos.
Cartaz do filme.
Duas amigas e uma revelação...
Andando pelas ruas de Los Angeles...
Pegando a "bitch"...
Confrontando o amante.
Filmagens...
Sam Baker e suas "meninas"...
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