O
Abraço Da Serpente. Ecos Da Floresta.
Mais um filme que
concorre ao Oscar de melhor película estrangeira estreou em nossas telonas. “O
Abraço da Serpente” é uma co-produção da Colômbia, Venezuela e Argentina, que
desperta muita atenção por sua riquíssima diversidade cultural e por sua denúncia
da presença branca e europeia na Floresta Amazônica, assim como suas perversas
técnicas de exploração. Isso sem falar que a película foi filmada num excelente
preto e branco que muito se assemelhava às imagens reais e antigas de
expedições europeias pela floresta.
Vemos aqui a história
de Karamakate (interpretado em sua juventude por Nilbio Torres e em sua velhice
por Antonio Bolívar), um xamã da floresta que era considerado o último
sobrevivente de sua etnia e que vivia isolado na floresta. Um belo dia, ele
recebe a visita do explorador alemão Theo Von Martius (interpretado por Jan
Bijvoet) e seu auxiliar Manduca (interpretado por Yauenkü Migue). Theo está
muito doente e a sua única chance de viver é consumindo uma planta medicinal
existente na antiga aldeia de Karamakate. O xamã, ressabiado com os brancos
como ele só, e não sem motivo, não queria ajudar Theo. Mas Manduca conseguiu
convencer o solitário indígena e os três descem o rio de barco em busca da
tribo (e planta) perdida. Paralelamente a essa história, vemos Karamakate
quarenta anos depois, recebendo a visita de outro explorador alemão, Evan
(interpretado por Brionne Davis), procurando a mesma planta, e o velho índio
irá refazer a jornada.
Esse é, acima de tudo,
um filme de denúncia dos maus tratos dos brancos sobre os índios. Podemos ver
vários aspectos da presença nociva dos brancos: o etnocídio que destrói a
cultura dos índios nas missões religiosas lideradas por padres tresloucados; a
sangrenta exploração escrava dos fazendeiros de seringais da Amazônia; a visão
preconceituosa do branco para com o índio, partindo inclusive dos exploradores
europeus que querem aprender a cultura das nações indígenas e divulgá-las. O
filme também mostra toda uma cosmogonia das culturas indígenas, principalmente
nas visões de mundo de Karamakate e seus mitos de criação. Definitivamente, é
uma película que é um convite à reflexão e a um estudo etnográfico dos povos da
floresta. Como uma instigante curiosidade, e como reflexo de uma enorme
diversidade presente no filme, temos diálogos em vários idiomas, indo de
diferentes dialetos indígenas, chegando até a idiomas europeus como o espanhol,
o português e o alemão. As situações de choque cultural também são notáveis,
onde vemos preconceitos de lado a lado, com Karamakate estranhando a
necessidade dos brancos de carregar malas e todo o seu ressentimento contra os
europeus por causa do etnocídio indígena, além dos já costumeiros preconceitos
dos brancos contra os índios, onde suas práticas religiosas são consideradas
coisas do demônio para a Igreja, por exemplo. Manduca seria uma espécie de
mediador entre as visões de mundo dos brancos e dos índios, entendendo a
importância dos brancos conhecerem a cultura dos índios para a sobrevivência
dos próprios índios. Já von Martius e Evan, apesar de uma boa vontade com a
cultura indígena, muitas vezes exibiam preconceitos implícitos, como no caso em
que von Martius não queria que os índios aprendessem a usar uma bússola para
não descaracterizar a sua cultura, sendo repreendido veementemente por
Karamakate que dizia que o alemão não podia proibir os índios de aprender, pois
o conhecimento pertence a todos.
Confesso que, apesar de
“O Abraço da Serpente” ser um excelente filme e de ser o candidato
sul-americano ao Oscar, há uma forte concorrência com as outras películas e não
sei se ele poderá ter grandes chances. Seria muito legal ver um filme com um
tema tão caro à nossa história ganhar o Oscar. Mas “Filho de Saul”, “Cinco
Graças” e “Lobo do Deserto” também são excelentes.
Assim, “O Abraço da
Serpente” é mais um bom filme que concorre ao Oscar que só aumenta ainda mais a
generosa oferta de películas deste início de ano, antecedendo a festa do dia 28
de fevereiro. E não deixe de ver o trailer após as fotos.
Cartaz do Filme
Karamakate, o último de sua etnia.
Índios e brancos. Uma relação complicada
A contragosto, o xamã faz uma viagem
Situações de estranhamento podem levar a altas risadas.
Curando um doente
Encontrando situações das mais inusitadas
Fotografia que apreende almas...
Karamakate, já idoso, refaz sua viagem
Filmagens
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