Brigitte Helm, A Deusa Eterna De Yoshiwara!!!

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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Resenha de Filme - Nosso Barco, Nossa Alma

Nosso Barco, Nossa Alma. Identidade De Ferro Em “Flashbacks”.
Do final de janeiro a primeira quinzena de fevereiro, o CCBB exibe uma mostra homenageando o diretor David Lean. Famoso por dirigir filmes do naipe de um “Lawrence da Arábia”, “Dr. Jivago” e “A Ponte do Rio Kwai”, Lean também fez muitas películas menos conhecidas do público, mas não menos dignas de destaque. E temos a oportunidade de apreciá-las nesta pequena mostra que o CCBB faz. Um dos filmes exibidos foi o curioso “Nosso Barco, Nossa Alma” (“In Which We Serve”). Realizado em 1942, ou seja, em plena Segunda Guerra Mundial, em co-direção com Noël Coward, esse é um típico filme de propaganda da época da guerra, que toca num tema muito caro à identidade inglesa: os barcos. Por estar numa ilha, a Inglaterra sempre precisou ter uma grande frota naval, tanto para fins de comércio quanto de defesa. E por isso, os barcos sempre estiveram vinculados ao patriotismo e coragem do povo inglês. Napoleão Bonaparte, por exemplo, decretou o Bloqueio Continental, ou seja, proibiu os países europeus sob o seu domínio de fazer comércio com a Inglaterra, a fim de enfraquecê-la economicamente, porque não tinha uma marinha tão eficiente quanto a inglesa para fazer um ataque pelo mar. E a Inglaterra se tornou a principal potência imperialista do século XIX, com um poder comparável ao que os Estados Unidos têm hoje, por causa de sua frota naval, que pôde estabelecer colônias no mundo inteiro. Os ingleses inclusive diziam de uma forma muito arrogante que “No Império Inglês, o Sol nunca se punha”. Não é à toa que a tripulação de uma embarcação será a grande heroína do filme na luta contra os nazistas.
Vamos ver aqui a história dessa tripulação, a do destroier HMS Torrin, liderada pelo Capitão Kunross (interpretado por Noël Coward) que, já ao início da película faz um discurso aos seus homens falando de todas as virtudes que aquela tripulação deveria ter, ou seja, já estabelecendo de saída uma identidade para aquele grupo de homens, identidade essa tendo o destroier como símbolo principal. Aí nos remetemos a um ataque que o destroier faz contra embarcações nazistas e depois o revide da Luftwaffe, a Força Aérea Alemã, que afunda a embarcação. Alguns dos sobreviventes, inclusive o Capitão, ficam à deriva num bote, sob as saraivadas de tiros de metralhadoras dos aviões alemães. E, enquanto isso, os sobreviventes se lembram de suas vidas. Aí o filme se torna uma torrente de “flashbacks”, onde cada personagem tem a sua vida destrinchada, como se a película quisesse dar cara a todos que participavam da guerra e a gente pudesse compartilhar a dor das perdas individuais. Podemos testemunhar várias situações: famílias que não sofreram qualquer impacto direto da guerra, famílias que perderam seus entes queridos em bombardeios alemães, etc. Ao se mostrar o passado desses combatentes, nos envolvemos com eles e suas famílias e nos mortificamos quando vemos a guerra produzindo desastres que aniquilavam corações e mentes.
Vimos que, por ser produzido em 1942, ou seja, em plena Segunda Guerra Mundial, esse é um típico filme de propaganda para levantar a moral do povo, que sofria com os horrores dos bombardeios alemães sobre a Inglaterra. Enquanto que o inimigo não tinha cara e era totalmente desumanizado, o povo inglês e sua cultura era celebrada e vários personagens foram criados para se dar uma cara a esse povo inglês, uma cara ao qual os espectadores nas salas de cinema pudessem se identificar. Ou seja, um filme que busca exaltar o patriotismo em cima da perniciosidade do inimigo estrangeiro. Uma fórmula já adotada no cinema na Primeira Guerra Mundial.
Do ponto de vista técnico, o filme mostrou excelentes cenas de batalha em alto mar, se preocupando principalmente em mostrar como os marinheiros trabalhavam em combate, subindo as balas de canhão do paiol até o convés. Detalhes de como o canhão era carregado também foram exibidos, para deixar o povo um pouco ciente do que era o cotidiano do combate. Uma curiosidade: um jovem marinheiro abandonou seu posto por medo e somente foi advertido pelo bondoso capitão, quando este poderia ter-lhe aplicado uma punição muito maior. Pois bem, esse jovem marinheiro (que obviamente depois ficou muito arrependido) era Richard Attenborough, que vocês vão se lembrar de “Jurassic Park”. Era aquele velhinho gordinho com cara de Papai Noel que tinha criado o parque dos dinossauros. Curiosidades cinematográficas de quem fica na sala para ver os créditos finais...

Dessa forma, procure em DVD ou na internet esse filme, altamente datado, feito com um objetivo específico para a sua época, que era o de manter a moral do povo inglês elevada durante a guerra. Um filme que atendia aos interesses de grandes empresários, pois seus interesses estavam em jogo e entravam em conflito com interesses de grandes empresários de outros países. Daí a guerra e o sentimento de patriotismo exacerbado veiculado na propaganda. Você tem que defender sua pátria do inimigo estrangeiro. Mas na verdade, você morria no campo de batalha para defender os interesses dos grandes empresários. Foram os socialistas que disseram que o verdadeiro inimigo não era o estrangeiro, mas sim o patrão e o empresário de seu próprio país. E todos os países tinham empregados explorados pelos patrões. Por isso, o socialismo defendia uma força internacional de trabalhadores contra os patrões, sendo um movimento internacionalista ao invés de patriota. E o cinema foi usado como máquina de propaganda para manter o patriotismo em alta durante a guerra, pois havia uma chance do povo ficar de saco cheio dos bombardeios e se voltar contra o próprio governo. Aí, o cinema acabou cumprindo o papel de manipular e alienar as pessoas em torno de um conceito de patriotismo. Enfim, durma-se com um barulho desses... Mas não deixe de ver o filme completo (em som original sem legendas) depois das fotos e dessa aulinha gratuita de História que só o Yoshiwara’s World traz para você!!!

Um dos cartazes do filme

O valoroso capitão Kunross e sua esposa

Encarando a Luftwaffe de peito aberto

Tentando sobreviver depois de um ataque nazista


Lembram do velhinho do Jurassic Park? Olha ele aí!!!

Filmagens

David Lean

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