O
Filho De Saul. Um Funeral Muito Arriscado.
Mais um filme que
concorre ao Oscar. Diretamente da Hungria, “O Filho de Saul” concorre à
estatueta de melhor filme estrangeiro, tendo já ganho o Globo de Ouro por essa
categoria, além do Grande Prêmio de Cannes, ano passado. É mais um filme sobre
Segunda Guerra Mundial e Holocausto, só que dessa vez podemos dizer que ele é
extremamente impactante, sendo bem diferente do que se tem visto por aí.
Vemos aqui a história
de Saul Ausländer (interpretado por Géza Röhrig), integrante de um grupo
chamado “Sonderkommand”, que consistia de prisioneiros do campo de concentração
de Auschwitz que eram responsáveis por conduzir os demais presos à câmara de
gás, revistar as roupas dos prisioneiros em busca de objetos de valor,
transportar os corpos para os fornos crematórios, jogar as cinzas dos mortos no
rio. É apenas questão de tempo para que os membros do “Sonderkommand” sejam
executados. Nesse meio tempo, Saul encontra dentro da câmara de gás um menino
moribundo, que resistiu ao veneno. Entregue a um médico nazista, este mata o
garoto sufocando-o. Mas a resistência do menino intriga o médico, que quer
fazer uma autópsia. Saul observa a tudo estarrecido e decide dar um enterro
digno ao garoto, com a presença de um rabino e tudo, inclusive dizendo que era
o pai do menino. Só que, para conseguir tudo isso, Saul passará por situações
arriscadíssimas em meio a nazistas extremamente cruéis e sanguinários.
É um filme altamente
traumatizante e sufocante. Para começar, a cópia é daquelas que mostram a
imagem na tela de uma forma bem estreitinha, como se a gente estivesse vendo
uma película de 16 mm. Mas não é apenas essa limitação técnica que faz a
exibição tomar tons agônicos. O diretor László Nemes optou por transformar a
câmara numa espécie de “personagem”, andando boa parte do tempo grudada em
Saul, como se fôssemos uma pessoa que o acompanhava. E, enquanto isso, todo o
tipo de atrocidades ocorrendo à sua volta: gritos de pessoas morrendo
envenenadas, imagens de relance de pilhas de corpos, chãos ensanguentados sendo
limpos, massacres de pessoas em fossos, etc., tudo muito angustiante e
claustrofóbico, exibido às vezes de forma desfocada, dando a impressão de que o
filme é um enorme pesadelo. Esse talvez tenha sido um dos filmes mais realistas
sobre a guerra, lembrando os trinta minutos iniciais de “O Resgate do Soldado
Ryan”, de Spielberg, onde víamos o desembarque dos aliados na Normandia da
visão de quem estava dentro do campo de batalha. Agora, os horrores dos
genocídios de Auschwitz são exibidos num mesmo contorno, de forma extremamente
impactante e realista. É uma coisa desagradável de se ver, mas colocada de uma
forma altamente pertinente para denunciar da forma mais gritante os crimes do
nazismo.
Outro ponto que merece
um grande destaque é a obsessão do personagem Saul em enterrar o menino morto.
Aparentemente podemos considerar uma loucura dar um enterro digno a uma pessoa
quando a sua própria vida está em risco. Mas não podemos nos esquecer também de
que esse enterro é um senhor ato de resistência e manutenção de seus parâmetros
culturais frente à invasão do povo estrangeiro que quer simplesmente riscar do
mapa todo um povo e sua maneira de ser. A indústria de matança do campo de
concentração usava cremações em massa, contra os enterros feitos pelos judeus.
Para Saul, tornou-se uma questão de honra e de sobrevivência de sua cultura dar
um enterro digno ao garoto provando que, em meio a todo aquele caos, ainda se
podia resistir ao aniquilamento que os nazistas empreendiam.
Dessa forma, “O Filho
de Saul” é um grande filme produzido na Hungria que merece, e muito, a
estatueta de melhor película estrangeira. O diretor, com o uso angustiante e
tresloucado de sua câmara, joga nós, espectadores, nos horrores de um campo de
concentração como poucas vezes foi visto. Um filme fundamental. Não deixe de
ver o trailer após as fotos.
Saul. Em busca de um enterro digno.
Limpando corpos...
Seus colegas do campo de concentração não entendiam sua atitude
O tempo todo no fio da navalha
Procurando um rabino
Violenta opressão nazista
A equipe do filme exibindo, orgulhosa, o Globo de Ouro
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