Caminho
de Volta. O Difícil Recomeçar.
Um ótimo documentário
brasileiro em apenas uma sala (o Joia, de Copacabana) e um horário disponível (segunda-feira
à tarde), no momento em que eu escrevia essas linhas estava em nossas telas.
“Caminho de Volta”, de José Joffily”, prima por sua singeleza e,
principalmente, pela crueza do tema ao qual pretende discorrer: a questão da
imigração. Não é nenhuma novidade para nós que nosso amado e estimado país não
tem nem espaço, nem oportunidades suficientes para todos, em virtude de sua
enorme injustiça social, o que faz com que alguns de nossos conterrâneos
arrisquem tentar a vida em outros países ditos desenvolvidos. Dentre esses
brasileiros que tentam a sorte em terras estrangeiras, alguns são bem
sucedidos, outros nem tanto. E sempre fica aquela dúvida: voltar ou não para o
Brasil depois de tanto tempo fora. Pois bem. José Joffily procurou analisar a
situação de dois brasileiros que, depois de muitos anos vivendo no exterior,
decidiram recomeçar as suas vidas aqui no Brasil. O primeiro brasileiro é André
Câmara. Ele vive em Londres há 20 anos, tem três filhos, dois de um
relacionamento passado e outro de seu novo relacionamento com a inglesa Emily. Ele
é fotógrafo, está desempregado e atolado em dívidas. O outro caso é o da
senhora Maria do Socorro, de 87 anos, que vive em Nova Jersey há 25 anos para
fazer companhia para o filho, que vive sozinho por lá. Ela prometeu a si mesma
tomar conta do pimpolhão até que ele conseguisse uma boa esposa e não ficasse
mais sozinho, o que acabou acontecendo. Assim, tanto André quanto Maria do
Socorro vão encarar esse novo desafio de voltar à sua terra natal.
É um filme muito
curioso. Para Maria do Socorro, voltar ao Brasil depois de ficar tanto tempo
nos Estados Unidos lhe pareceu ir para uma nova terra estrangeira. Até o fato
de rever seus entes queridos é uma experiência estranha, pois, como disse o pai
de André, as pessoas já não são mais as mesmas de 20 anos atrás e muito menos o
país. Maria do Socorro, apesar de nunca ter falado inglês, estava totalmente
adaptada à sua vida nos Estados Unidos e gostava de lá. Assim, se a volta ao
Brasil foi uma alegria, ela também significou uma tristeza e um novo recomeço
num “novo” país.
O caso de André era
mais problemático. Sem saber muito o que queria da vida em termos
profissionais, ele não obtinha um emprego, o que deixava sobrecarregada a sua
esposa Emily. Tanto ir para o Brasil quanto permanecer na Inglaterra traria
problemas. Se ele fosse para o Brasil, não poderia ter mais contato com todos
os seus filhos. Ainda, sua esposa teria que recomeçar a vida num novo país. Permanecer
na Inglaterra, por sua vez, parecia também inviável, em virtude das faltas de
perspectiva e da dívida que ele tinha. Todos esses problemas eram discutidos ao
longo do filme e assistíamos de camarote os debates provocados pelos dramas
pessoais.
Duas histórias de
brasileiros que não sabem ao certo quais são suas verdadeiras identidades. Talvez
esse seja o maior drama explicitado na película. É em momentos como esse que
entendemos o quão é importante para nós termos raízes fincadas em algum lugar. Os
casos de André e Maria do Socorro pareceram casos de pessoas totalmente soltas
no espaço, muito indecisas de onde se estabelecerem, constituindo essa situação
uma verdadeira tragédia social. Mas, apesar de todos os problemas, nossos
protagonistas são figuras humanas admiráveis e nos tornamos solidários com dois
de nossos conterrâneos. Nos alegramos com eles, nos angustiamos com eles, nos
comovemos com eles. E, ao sair da sala, vêm as perguntas inevitáveis em nossa
cabeça: como esses personagens reais devem estar hoje? Eles alcançaram seus
objetivos? Têm uma vida estável e feliz? Finalmente descobriram suas raízes?
Por essas e por outras,
“Caminho de Volta” é um ótimo documentário, pois enfoca a questão da
identidade, das origens e raízes, além de nos enternecer com o maravilhoso lado
humano desses personagens reais. Se você não conseguir vê-lo no cinema, procure
em DVD. Vale muito a pena. E não deixe de ver o trailer após as fotos.
Cartaz do filme.
Maria do Socorro. Raízes em Nova Iorque
André Câmara, um fotógrafo radicado em Londres, cheio de problemas.
Emily. Angústia com a indecisão do marido.
Desentendimentos antes de buscar uma solução
Mas também existem as reconciliações e entendimentos
O diretor José Joffily
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