O
Gorila. Interessante Drama Psicológico.
O cinema brasileiro nos
brinda com mais uma boa produção. “O Gorila”, produzido já há algum tempo
(meados de 2011, 2012), dirigido por José Eduardo Belmonte, pode ser
classificado como uma história de suspense. Mas, mais do que isso, é um
excelente drama psicológico de pitadas expressionistas, que tem um roteiro de
uma história bem contada, sem falar na presença de um primoroso elenco.
Temos aqui a história
de Afrânio (interpretado por Otávio Müller), um dublador que empresta sua voz a
um conhecido personagem policial de série de tv. Sua voz é muito conhecida por
causa da série e ele é uma espécie de “celebridade sem rosto”. Mas uma doença
na gengiva fez com que ele perdesse quase todos os seus dentes e o sangramento
constante de sua boca o obrigou a abandonar a carreira. Solitário e depressivo,
ele começa a prestar atenção às mulheres da rua e, anota o telefone delas às
escondidas, sempre que tem uma oportunidade. Afrânio, então, passa a fazer
ligações para essas mulheres com o pseudônimo de Gorila, onde tenta seduzi-las
com sua bela voz. Várias mulheres caem na conversa do Gorila, que se recusa a
conhecê-las pessoalmente, já que sua aparência física não é considerada das
melhores. Apesar desse jogo com as mulheres, nem sempre o Gorila se dá bem com
os trotes, chegando a sofrer ameaças de um namorado de uma das mulheres que ele
assedia. A vida de Afrânio vai virar de pernas para o ar quando ele mesmo
recebe uma ligação de uma mulher que ameaça se matar e o faz ir atrás dela.
Obviamente, a grande
atração aqui é o comportamento complexo de Afrânio. É muito simplório dizer que
o personagem é pervertido ou tarado. É claro que ele se comporta assim em algum
nível, mas a complexidade da coisa é maior. Cenas de sua infância são mostradas
ao longo do filme, mostrando seus fortes vínculos com a mãe e sua formação
excessivamente protetora, o que deu a Afrânio sérias dificuldades de
relacionamento. Sua timidez excessiva fez com que ele tomasse uma postura mais
ousada atrás de um telefone e com sua bela voz de dublador. Só assim ele toma
coragem para se relacionar com as mulheres. Mas sua sensibilidade faz com que
ele se torne vítima dos perigos que tal atividade ao telefone traz. E aí, o
personagem entra numa espiral descendente, com direito a muitas alucinações e
estados exasperados da alma, como vemos nas películas expressionistas antigas da
Alemanha da década de 1920. Essa influência é um grande charme que o filme tem
e uma ótima lembrança.
Além dessa forte
componente psicológica, o filme tem um quê de suspense muito interessante, que
prende muito a nossa atenção. É um mistério até um tanto fácil de resolver, embora tenha ficado uma ponta solta
que não se fechou. Essa talvez, tenha sido a falha principal dessa película.
O elenco é uma outra
virtude dessa película. Otávio Müller atuou muito bem como o atormentado
Afrânio, onde a sensualidade e firmeza masculinas de sua voz nos trotes
contrastava fortemente com a fragilidade emocional nos períodos de crise
existencial mais profunda. O elenco ainda contou com figuras como Mariana
Ximenes, Milhem Cortaz e Alessandra Negrini, uma das “vítimas” do Gorila, que
depois o ajuda a desvendar o mistério das ligações telefônicas que Afrânio
recebe.
Dessa forma, “O Gorila”
é um curioso filme que concilia um bom suspense a um ótimo drama psicológico,
com direito a cenas de alucinação inspiradas no bom e velho expressionismo
alemão. Tudo isso faz desse filme mais um bom programa para os bons e velhos
apreciadores da sétima arte.
Cartaz do filme
Afrânio, um homem atormentado
Gorila à espreita de mais um alvo...
Timidez o impede de agarrar novas oportunidades...
Uma das "vítimas" do Gorila o ajuda a desvendar um mistério que o atormenta.
Perseguindo outra de suas vítimas para desvendar o mistério
Feitiço vira contra o feiticeiro...
Nenhum comentário:
Postar um comentário