O
Botão De Pérola. Mais Uma Obra-Prima de Patricio Guzmán.
Patricio Guzmán está de
volta. E, mais uma vez, ele nos brinda com uma de suas obras-primas. O cineasta
chileno, conhecido por fazer grandes documentários referentes à História do
Chile, enfocando principalmente as atrocidades da ditadura militar de Augusto
Pinochet, nos traz agora “O Botão de Pérola”, um documentário que tem como tema
principal... a água. Mas como a água pode suscitar uma discussão de cunho
político em sua película? Começando com esse tema tão simples, ele descortina
para nós todo um rosário de informações. Por exemplo, Guzmán lembra que a água
é a fonte de vida, sendo procurada no Universo pelos imensos radiotelescópios
do Deserto de Atacama. Lembra que o Chile é o país que tem o maior litoral do
mundo e que nega o Oceano Pacífico, ficando literalmente ilhado entre os Andes
e os desertos do Norte. Lembra de como a água e o continente interagem nas
milhares de ilhas do litoral sul, onde viviam tribos nativas que foram
dizimadas pelos brancos. Guzmán entrevista os últimos remanescentes dessas
tribos e recupera parte dos dialetos dessas civilizações desaparecidas que
muito dependiam do mar para viver. E, no mais doloroso, Guzmán volta ao seu
tema comum e fala de como os militares chilenos usaram o mar para sepultar
corpos de oposicionistas jogando-os de helicópteros, um crime que permanece
impune, assim como vários crimes da ditadura militar ainda permanecem impunes
também em nosso país, algo que o Chile e o Brasil têm em comum.
O mais interessante é
que o diretor consegue sempre mencionar temas tão melancólicos com uma dose de
lirismo e poesia poucas vezes vista. Sua narração serena e suave também ajuda
muito nessa abordagem que chega a ser apaziguadora, criando um notável contraste
entre a beleza de algumas imagens e a trágica situação exposta. Ao mesclar dramatizações
com depoimentos e imagens de arquivo, Guzmán consegue um efeito poderoso que
atinge o espectador em cheio. Numa das passagens, ele alternava imagens
dramatizadas de um helicóptero do exército chileno jogando corpos ao mar com a
de um piloto que foi obrigado a fazer o voo, com plena consciência de que
cometia um crime. Os corpos foram amarrados a trilhos de trem para afundar mais
rápido e, quando mergulhadores recuperaram esses trilhos, um botão de camisa
foi encontrado agarrado a um deles, junto com as outras formas de vida marinha
(perceba novamente o tema da água). Ele relaciona esse botão à história de um
indígena antigo, que chegou a viver entre os brancos, chamado por eles de John
Button, pois ele tinha uma ligação com botões, mas quando voltou à sua própria civilização,
se sentia um peixe fora d’água, sem identidade definida.
Dessa forma, “O Botão
de Pérola”, é mais uma daquelas joias do cinema que, infelizmente está em
apenas uma sala. E qual sala é essa? Se você falou a do Instituto Moreira
Salles, acertou. Esse tipo de filme geralmente só é visto lá e sempre vale a
pena subir o morrinho da Marquês de São Vicente lá na Gávea para dar uma
conferida nesses filmes que, geralmente são vendidos em DVD por lá depois.
Lembrando sempre que esta sim é uma película para ver, ter e guardar, por ser
uma daquelas obras-primas de rara beleza e conteúdo altamente reflexivo. E não deixe
de ver o trailer depois das fotos.
Cartaz do Filme
A água, fonte de vida e personagem importante no litoral sul do Chile
Os radiotelescópios do Deserto do Atacama buscam água pelo Universo
Tribos do sul do Chile dizimadas pelo homem branco
Costumes ancestrais desaparecidos
Os poucos sobreviventes até hoje passam por dificuldades
Antigos prisioneiros políticos da ditadura chilena...
Só este botão sobrou de um desaparecido político
Será o homem tão cruel em outros planetas, pergunta o diretor
O grande diretor Patricio Guzmán
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