Amor e
Amizade. Desafiando As Convenções De Uma Sociedade Tradicional.
Uma
interessante película de época passou em nossos cinemas. “Amor e Amizade” é
baseada no romance de Jane Austen, “Lady Susan” e conta uma história que pode
ser considerada um desafio aos costumes aristocráticos da sociedade de Antigo
Regime, desafio esse materializado na personagem protagonista, Lady Susan.
A história se passa na década de 1790, onde a
Lady Susan em questão (interpretada por Kate Beckinsale) era uma nobre viúva
que, arrasada economicamente, vivia de favor de casa em casa com sua filha
Frederica (interpretada por Morfydd Clark). Para conseguir os seus objetivos e
ambições, Lady Susan faz um perigoso jogo de intriga e sedução com as famílias
nobres com que se depara pela frente, esquecendo qualquer convenção de cunho
moral. A diversão do filme é justamente ver quais são os passos e jogadas de
Lady Susan na busca por seus objetivos.
Se num
primeiro momento, a Lady Susan em questão parece ser uma figura totalmente
traiçoeira e amoral, num segundo momento, e fazendo uma análise mais fria da
coisa, percebemos como Lady Susan faz um jogo com as convenções sociais do
Antigo Regime para sobreviver. Como ela era uma viúva da nobreza arrasada
economicamente, ela usava o único recurso que tinha – seu nome e condição
social, lembrando que numa sociedade de Antigo Regime a condição social nem
sempre era associada à riqueza tal como a entendemos hoje, ou seja, de posse de
uma grande quantidade do vil metal – para manipular os outros membros da
nobreza à sua volta e poder tirar vantagem disso. E essas manipulações iam
desde induzir seus alvos amorosos ao adultério como provocar intrigas
familiares que atingiriam em cheio desafetos ou que provocassem o casamento de
sua filha ou dela própria, mais para dar-lhes conforto financeiro. Ao manipular
e brincar com membros da nobreza ao seu bel-prazer, Lady Susan usa de forma
maquiavélica as tradições do Antigo Regime para seu benefício pessoal,
provocando meio que uma subversão do sistema em escala microcósmica. Visto por
esse ângulo, a película torna-se bem mais interessante e vemos com mais
simpatia uma personagem que, a princípio poderia ser vista por uma mentalidade
machista como altamente torpe e demoníaca. Ou seja, para sobreviver numa
sociedade que era um verdadeiro covil de feras, a nossa Lady Susan precisa ser
ainda mais inteligente e incisiva em seus atos.
Kate
Beckinsale esteve muito bem como Lady Susan. Seu cinismo e uma certa empáfia
não nos deixava indiferentes à personagem. Outra atriz que merece destaque foi
Chloë Sevigny, que interpretou a amiga americana de Lady Susan, Alicia Johnson.
Se essa película “do mundo” (é uma
co-produção Irlanda, Reino Unido, Estados Unidos, Holanda e França) não
apresentou um elenco muito conhecido do público brasileiro, pelo menos teve a
boa e muito rápida presença de Stephen Fry, interpretando Mr. Johnson, o marido
de Alicia Johnson. O filme ainda teve a virtude de fazer um excelente figurino
de época, o que deu um charme todo especial. Charme esse incrementado pela
lindíssima trilha sonora, com composições clássicas e eruditas de Vivaldi,
Purcell, Mozart, Handel, etc.
Assim,
se “Amor e Amizade” não é um filme altamente empolgante e que necessita de
muita atenção do espectador aos complexos diálogos que revelam todas as
intrigas de Lady Susan, é, por outro lado, um filme cuja personagem
protagonista engendra toda uma visão até revolucionária se percebemos que ela
usa os meandros de um sistema aristocrático preconceituoso e excludente para
proveito próprio. E o filme ainda tem a vantagem de não ter um final que se
aproximaria do mais convencional. Mas chega de “spoilers”. Vá ao cinema, pois
vale a pena. E não deixe de ver o trailer acima.
Cartaz do Filme
Lady Susan, desafiando as convenções sociais da nobreza
Arrumando um marido para a filha
Provocando intrigas nas famílias...
Tudo parece muito bem, não é?
Tramoias com a amiga americana
Super presença de Stephen Fry...
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