82
Minutos. Radiografando Uma Escola De Samba.
Um interessante
documentário brasileiro está em nossas telonas. “82 Minutos”, dirigido pelo
lendário Nelson Hoineff (que recentemente fez o bom documentário “Cauby,
Começaria Tudo Outra Vez”) fala do cotidiano do Grêmio Recreativo Escola de
Samba Portela na preparação do desfile de 2015. O filme procura passar por
todos os setores da escola (bateria, passistas, confecção dos carros alegóricos
e fantasias, etc.) e etapas da preparação do Carnaval (escolha de samba-enredo,
ensaio de mestre-sala e porta-bandeira, ensaios de rua de alas, ensaios
técnicos, etc.). A escola só terá 82 minutos para apresentar um trabalho
minucioso feito ao longo de um ano inteiro. E por que tal trabalho é tão
minucioso? Porque existem vários critérios extremamente complexos no julgamento
dos quesitos. Assim, tudo deve ser perfeito e nada pode dar errado na hora do
desfile, ou o todo o trabalho de um ano irá por água abaixo.
Extremamente cruel,
não? Mas isso é real e num país onde a falta de autoestima generalizada de todo
um povo nos coloca no eterno complexo de vira-latas, essa ilha de dedicação extrema
acaba sendo um fio de esperança de como nossa sociedade pode sair dessa inércia
que a falta de amor próprio nos insere e de como podemos nos melhorar como povo
e país se nós direcionarmos toda essa dedicação também para outros setores.
Fazendo um pequeno
parêntesis que, indiretamente tem a ver com o documentário aqui analisado, estava
pensando com meus botões no que tem acontecido na Olimpíada, principalmente lá
no caso do salto com vara, onde aquele atleta francês foi sumariamente vaiado e
isso o deixou muito abalado, já que nas competições de salto com vara lá no
exterior, a torcida estimula o atleta com palmas na hora do salto, independente
dele ser um adversário ou não. Ficou a impressão de que a torcida brasileira
era extremamente hostil, mal educada, etc. Mas nós temos aqui um paralelo com o
caso da torcida estrangeira na prova de salto com vara. Quem já assistiu um
desfile de escolas de samba na Marquês de Sapucaí sabe do que eu estou falando.
Todos nós sabemos que aquele desfile é um trabalho com muito afinco de um ano
inteiro de uma comunidade e que a escola tem que passar toda por aquele maldito
portãozinho antes do tempo esgotar para não perder pontos. Para quem está na
arquibancada, um dos lances mais emocionantes é ver se toda a escola passará
pelo portãozinho no prazo estipulado. E, nesse momento, a gente torce para
todas as escolas obterem êxito, não importa se elas sejam adversárias da sua
escola ou não, sendo esse mais outro bom elemento de nossa sociedade e cultura que
o mundo do samba nos desperta: a solidariedade, indo um pouco na contramão
dessa ideia geral (e, infelizmente, também existente) de que a sociedade
brasileira é muito violenta e autoritária.
Mas, voltemos ao filme.
Hoineff fez um estilo de documentário onde a câmara é apenas um espectador e
registra todo o processo de produção do desfile, sem interagir com a
comunidade. Se por um lado essa forma de documentário ajuda a captar mais informações
de todo o processo, por outro, essa forma passiva de registro nos impede de
entender aquela realidade de forma mais aprofundada. Eu digo isso, pois vimos
no filme personagens interessantíssimos que poderiam render excelentes
entrevistas. O mestre de bateria, a mestre das passistas, o presidente da
escola, o mestre-sala e a porta-bandeira... mas aí seria um documentário mais
sobre a escola de samba e sua comunidade em si do que um documentário sobre o
preparativo do desfile. De qualquer forma, ficou aquele gostinho de querer
saber um pouco mais da vida daquelas pessoas. Quem são? Como vivem fora do
mundo do samba? Por que o samba é tão importante na vida delas? O que é um
sentimento de identidade com sua escola e sua comunidade? Seria muito legal se
fosse dada voz ao povo. Mas nada disso diminui a grandeza do documentário, pois
todo o processo foi exibido de forma nua e crua, em seus entendimentos e
desentendimentos, em seu sentido de perfeição e críticas às indisciplinas ou
falta de dedicação. E era encantador ver toda uma comunidade envolvida num
trabalho tão complexo ou árduo. Tais coisas nos dão um pouco mais de esperança de
como o povo de nosso país pode ajudar a melhorar nossa nação. É só canalizar
essa energia para outros aspectos da vida.
Dessa forma, “82
Minutos” é um filme altamente recomendável que, se peca por não analisar mais
profundamente uma gama de interessantes personagens que uma escola de samba
pode nos trazer, por outro quis mostrar de forma nua e crua, sem qualquer exercício
de leitura ou opinião, todo o processo de preparação de um desfile de escola de
samba. Vale a pena curtir tal experiência. E não deixe de ver o trailer após as
fotos.
Cartaz do Filme
Um líder...
Uma porta-bandeira
Uma mestre de passistas...
Um mestre de bateria...
Uma escola de samba...
O diretor Nelson Hoineff
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