Walt
Nos Bastidores de Mary Poppins. Vidas Passadas Sofridas Que Se Resolvem Na
Arte.
Uma grata surpresa
nestes últimos dias. Estreou sem muito alarde o filme “Walt Nos Bastidores de
Mary Poppins”, que conta a história desconhecida da complicada negociação entre
Walt Disney e Pamela Travers, autora do livro de Mary Poppins. O desenhista, que
se tornou um dos grandes magnatas do entretenimento americano, queria comprar
os direitos do livro para transformá-lo em filme. Mas Pamela Travers resistia
bravamente.
As investidas de Disney
em cima de Travers duraram longos vinte anos. Mas a escritora não havia
publicado mais nada e não ganhava um royaltie
sequer, o que seria a sua falência. Assim, ela precisou aceitar a proposta de
Disney, mas não sem oferecer uma série de resistências e tornar todo o processo
de produção do filme algo muito difícil, levando à loucura os membros do
estúdio. Travers via Disney como um grande magnata insensível que queria
deturpar sua história e ganhar muito dinheiro. Pelo passado meio sombrio de
Disney talvez fosse isso mesmo, mas como foi a própria Disney que produziu o
filme, está mais do que na cara que as características negativas de seu grande
criador foram totalmente omitidas (circulou na mídia esses dias que até a sobrinha
do desenhista criticou esse Disney “bonzinho” da história). Mas, bom, já que
isso não será abordado mesmo, vamos entrar no clima da coisa. Na versão
apresentada aqui, Disney se apaixonou pela história de Mary Poppins, que
conheceu por intermédio de sua filha e prometeu a ela levar essa história para
o cinema. Mas Travers era muito rígida em suas convicções, chegando às raias da
chatice insuportável. Aí entra um grande elemento nessa história. O espectador
se pergunta por que essa mulher era tão irascível e arrogante. E a resposta vem
em flash backs sobre a infância de
Travers que aparecem ao longo da trama. Descobrimos ali que essa mulher já foi
uma menininha muito feliz que viveu na Austrália e que via em seu pai uma
grande figura. Um homem que mantinha uma família, mas não havia perdido a
capacidade de sonhar. Um homem que amava a imaginação e abominava a necessidade
do dinheiro. Um homem que queria dar asas a sua filha e torná-la muito feliz
com seus sonhos e imaginações. Mas esse pai também sofria, pois seu espírito
sonhador não era compatível com a vida real que ele tinha de gerente de banco,
preso às correntes do dinheiro. E isso fazia ele se embebedar. Isso o levou
para a tuberculose e para a morte, afetando profundamente nossa Pam (como
Disney a chamava). Enquanto seu pai estava moribundo, sua tia chegou para pôr
ordem na casa e estabilizar a família. Assim, Mary Poppins surgiu. Não para
salvar as crianças, mas para salvar a toda família. E passamos a entender
porque Travers defende tanto a sua obra, pois ela fala de sua família e defende
seus valores. E, no outro lado, artistas da Disney, querendo transformar essa
história num musical e que não entendiam como tal enredo era importante para a
senhora Travers. A trama mostrará, então, como se dará uma aproximação entre
Travers e os americanos, feita em caminhos muito tortuosos, levando a situações
altamente emotivas que realmente nos trazem lágrimas aos olhos. Tudo isso
inspirado numa história real.
Vemos que o enredo é
altamente atraente e interessante, trazendo circunstâncias desconhecidas do
grande público. Mas, como dizia aquela antiga propaganda de facas, “e não é só
isso!”. O filme tem atores maravilhosos! Escolheram Tom Hanks para interpretar
Disney e Emma Thompson para interpretar Travers. Ver os dois contracenando
juntos é disparado o que o filme tem de melhor. Os dois estão simplesmente
demais e a sequência onde Disney fala a Travers sobre sua infância difícil no
Missouri, de seu relacionamento conturbado com o seu pai e de sua descoberta de
como o pai de Travers significava a ela é um momento mágico (a gente até
acredita por um momento que Disney foi um sujeito muito legal). Hanks estava
soberbo na caracterização de Disney e Emma Thompson, bom, essa dispensa
apresentações e todo cinema que exibe um filme dela tinha que desenrolar um
tapete vermelho somente para passar as películas (ou DVDs) em que têm imagens
dela atuando. Mas, não é só isso!!!! Quem interpretava o pai de Travers em sua
infância? Colin Farrell, que nesse filme emocionou muito. Sorríamos com o
carinho e a alegria com que ele tratava sua filha, sofríamos com suas
inquietações perante o mundo real, chorávamos com as situações constrangedoras
que o alcoolismo o fazia passar, prostrávamos diante dele em seu leito de
morte. Nunca um coadjuvante teve um papel tão central num filme, pois é em
volta do pai de Travers e de sua redenção que gira toda a história e o
entendimento entre Disney e a escritora da história de Mary Poppins. De
lambuja, ainda somos presenteados com o relacionamento entre Travers e seu
motorista particular Ralph, que foi interpretado pelo eficiente Paul Giamatti,
que geralmente faz papéis secundários, mas é um excelente ator. Inicialmente
sendo só espinafrado pela escritora, Ralph assume uma postura submissa e
conciliatória o tempo todo, e consegue se aproximar dela nos momentos em que está
mais fragilizada emocionalmente. Mais uma grata surpresa nesse filme recheado
de bons momentos.
Se você quer se
emocionar, chorar, se alegrar com uma história onde as pessoas precisam
aprender a se relacionar, conversar, compreender o outro e ser tolerante com
quem pensa diferente, veja este filme. É uma boa experiência que vale a pena
ser vivida.
Cartaz do Filme.
Sombras sugestivas.
Disney e Travers. Relação
Conturbada.
Aparando as arestas em
plena Disneylândia.
Ralph e Travers.
Relacionamento afetuoso como brinde. Só esse subtema dava um bom filme.
A tia que inspirou a
personagem Mary Poppins.
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