300,
A Ascensão do Império. Agora É A Vez de Atenas.
E o filme “300” teve a
sua continuação. A saga da guerra dos gregos contra os persas sob a ótica HQ ao
estilo de escritores como Frankie Miller continua agora com os atenienses no
campo de batalha. Vemos aqui a história ocorrendo simultaneamente à batalha dos
300 de Leônidas, mas vemos aqui uma batalha marítima entre atenienses e persas.
O filme num primeiro
momento não empolga muito se compararmos com o primeiro “300”, que contava em
seu início como era a cultura guerreira espartana. Por subjugar povos de outras
cidades-estados (ou pólis) que frequentemente se revoltavam, Esparta teve que
se especializar no ofício da guerra. Já Atenas se especializou na cultura,
ciências, artes e política, fundando a democracia. Não é à toa que vemos tanto
em “300” como em sua continuação uma homofobia latente dos espartanos contra os
atenienses (os primeiros sempre chamavam os segundos de pederastas) O
homossexualismo realmente existiu na sociedade ateniense (o filme “Alexandre”,
de Oliver Stone, mostra isso muito bem). A mulher era colocada numa posição tão
secundária que servia somente para reprodução. Sentimentos humanos considerados
mais nobres como o amor eram somente entre homens nascidos na pólis, os
verdadeiros cidadãos.
No início da
continuação de “300” temos, entretanto, o privilégio de olhar mais para os
persas. O filme tem o mérito de lembrar que a Grécia já sofria intervenções
persas com o Rei Dario I, que foi (no filme, que fique bem claro!) assassinado
pelo general ateniense Temístocles (interpretado por Sullivan Stapleton) na
Batalha de Maratona (na verdade, Dario I morreu em batalha no Egito). O filho
de Dario I era justamente Xerxes (nosso Rodrigo Santoro) e viu Dario ser
vitimado pela flecha de Temístocles. Cabe dizer aqui que a caracterização dos
persas estava mais fiel nessa continuação, pois eles usavam barbas até
encaracoladas, influência dos povos da antiga Mesopotâmia, próximos à região da
Pérsia (só para fazer um pequeno parêntesis, a Pérsia estava onde hoje é o Irã
e a Mesopotâmia estava onde hoje é o Iraque, dois países vizinhos). Pelo menos
o filme dá uma justificativa meio mágica de como Xerxes ficou sem pêlos e cheio
de piercings, algo fora dos padrões
da cultura persa.
O filme também introduz
a bela Artemísia (interpretada pela atriz francesa Eva Green), que tinha uma
origem grega por parte de mãe, mas que viu toda a sua família ser morta por
soldados gregos hoplitas. Criada por um persa, ela jurou vingança contra os
gregos, se aproximando de Dario I para alcançar seu intento. Será Artemísia que
manipulará Xerxes para que ele busque a vingança contra os gregos.
Apesar da trama se
afastar do rigor histórico em alguns lances de licença poética tais como os piercings de Xerxes e os “monstrinhos”
HQ que até aparecem em um número menor nesta continuação, “300” também se
aproxima em alguns momentos das interpretações históricas. No primeiro filme
vemos os soldados hoplitas espartanos combatendo em grupo e tornando o seu
exército mais eficiente. Na continuação, vemos como os gregos usavam seus
pequenos e ágeis barcos contra as grandes e lentas embarcações persas,
atacando-as pelas laterais, tal como é dito nos livros de história. Aliás,
vemos nos dois filmes o que é falado para os alunos do 6º ano do ensino
fundamental nas aulas de história: os gregos nem sempre eram militarmente mais
fortes, mas sua inteligência fazia com que seus exércitos pudessem lutar em pé
de igualdade contra exércitos estrangeiros mais poderosos. A batalha final entre
gregos e persas na baía de Salamina, com a marinha de Xerxes sendo atraída para
uma cilada também aconteceu quando um soldado grego, fingindo desertar, atraiu
Xerxes para a armadilha. Outro detalhe histórico que surge no filme é o fato de
as cidades gregas autônomas num primeiro momento se unirem quando tinham um
inimigo externo em comum como a Pérsia.
Para falarmos mais
algumas palavras dessa continuação de “300”, podemos destacar a fotografia,
onde sempre há a feliz escolha de se usar um céu digital de nuvens negras como
pano de fundo (influência da HQ). É um efeito digital de linda plasticidade e
já havia sido utilizado no primeiro filme. As cenas em alto mar com o fundo
negro do céu ficaram muito bonitas. Destaque deve ser dado também à Artemísia e
à interpretação da bela Eva Green. Foi a melhor atriz do filme já que
Temístocles como herói não chegou aos pés de Leônidas e o Rodrigo Santoro
merece algo melhor que o papel de um monstro digital. Especialmente chocante
foi a cena de sexo entre Artemísia e Temístocles, muito violenta (droga, também
não vou poder usar esse filme nas minhas aulas de história, assim como o
primeiro!). Se com o Temístocles a coisa já foi meio barra pesada, não quero
nem imaginar como seria com o Leônidas...
Como o filme terminou
meio solto (outro problema nele), quero deixar de lado aqui o “crítico” de
cinema para entrar como professor de história e dizer o que aconteceu depois. Xerxes
foi derrotado em Salamina e Atenas, preocupada com as investidas externas
contra a Grécia, assumiu a liderança da região ao instituir uma liga naval
conhecida como Liga de Delos. Essa liderança ateniense provocou a fúria de
Esparta, que declarou uma guerra contra os “pederastas” de Atenas, a guerra do
Peloponeso, que durou dez anos e terminou com a vitória de Esparta, mas exauriu
tanto espartanos como atenienses. Surgiu uma nova cidade-estado hegemônica, que
foi Tebas. Mas foi um país de cultura grega, a Macedônia, e seu rei, Filipe,
que conseguiu unificar todas as cidades-estados gregas sob o seu controle,
transformando a Grécia num reino. Só que Filipe morreria dois anos após a
unificação. Coube a seu filho, Alexandre Magno, o famoso Alexandre, o Grande, expandir
os domínios gregos, onde até a Pérsia foi conquistada. Alexandre (o mesmo do
filme de Oliver Stone) foi um dos maiores generais da história e tinha a grande
visão de anexar elementos das culturas que ele conquistava com a cultura grega.
Prova disso foi o surgimento da cultura helênica, que foi uma interação da
cultura grega com a cultura dos povos orientais (Alexandre levou sua expansão
até à Índia!) e a criação da Biblioteca da cidade de Alexandria, no Egito,
cidade essa erguida em sua homenagem. Essa biblioteca foi a maior da história
da Antiguidade, com cerca de meio milhão de manuscritos, e que foi infelizmente
destruída. Alexandre morreu de malária aos 33 anos de idade, sem filhos e não
deixou instruções de quem seria o seu herdeiro militar. Assim, o seu poder foi
disputado entre seus generais, o que provocou o enfraquecimento do império,
levando-o à decadência e à invasão de vários povos estrangeiros como os romanos
e os árabes.
Voltando ao filme e concluindo,
podemos dizer que a continuação de “300” não é tão empolgante como o primeiro
filme (que é o que acontece com a maioria das continuações), mas não é de se
jogar fora, já que vemos um relativo rigor histórico andando de mãos dadas com
uma licença poética até razoavelmente comportada.
Santoro. Mais uma vez
um monstro digital...
embora tenha sido um
persa mais fiel no início do filme.
Temístocles. Herói
fraco.
Artemísia. Sensacional
em todos os aspectos!!!
Bela fotografia!
Influência HQ.
Nenhum comentário:
Postar um comentário