Ninfomaníaca
Volume 2. Tudo Como Antes.
Muito estardalhaço.
Pouco choque. Essa foi a impressão de “Ninfomaníaca”, depois dos dois volumes.
A história de Lars Von Trier sobre a saga da taradinha Joe (interpretada por
Charlotte Gainsbourg) não choca muito para nossos padrões culturais. Talvez
para uma cultura anglo-saxônica, o filme agrida mais e seja ultrajante para o
público.
Entretanto, abaixo da
linha do Equador, onde um mar de bundas prolifera na praia e você pode
encontrar um DVD de “As Brasileirinhas” em cada esquina, bom, aí a tentativa de
Trier de escandalizar parece até pueril. Confesso que até dormi um pouco na
parte sadomasoquista do volume dois (para que ver uma bunda murchinha toda
vermelha e marcada?).
Outro detalhe particularmente
perturbador é escutar todo aquele diálogo entre a ninfa e o senhor virgem,
Seligman (interpretado por Stelan Skarsgard) que a acolheu. Ouvir elucubrações
e palestras de um devorador de livros que nunca teve ume experiência física e
associá-las a temas como filosofia e matemática pareceu-me algo completamente
sem sentido. A própria ninfa às vezes se entediava com aqueles diálogos. Qual
foi a intenção daquilo, meu Deus? Intelectualizar a sacanagem? Filme cabeça de
sexo? Que cabeça é essa, afinal? Sei não, mas acho que sou burro demais para
entender isso...
Bom, para que minha
meia dúzia de três leitores não ache que estou pegando muito pesado contra o
filme, ele tem algumas coisinhas interessantes. E não falo das cenas de sexo
propriamente ditas, que são até relativamente banais. Falo mais especificamente
da natureza das histórias contadas por Joe. Sua primeira vez foi emblemática,
bem ao estilo de “a primeira vez de todo mundo é um lixo” (até para as
taradas), as perversões adolescentes no trem, a sen-sa-cio-nal interpretação de
Uma Thurman como esposa traída (foi a melhor coisa dos dois filmes!), o
discurso antimoralista cristão na sessão de terapia sexual, o uso do sexo como
instrumento de destruição psicológica como visto quando nossa ninfa, contratada
por um William Dafoe também soberbo (e olha que tanto Dafoe quanto Thurman nem
precisaram tirar a roupa para dar um show) para pressionar devedores, desvenda
a personalidade pedófila de uma de suas vítimas. Aliás, a ninfa toma atitudes
realmente bem cruéis ao longo do filme, onde a imoralidade não está na
compulsão pelo sexo, mas sim em como ela usa o sexo como uma arma para destruir
as pessoas. Seu forte desejo não tem limites e, se Joe precisar passar por cima
de todos para atingir o seu prazer, ela o fará. Essa é a verdadeira imoralidade
que o filme discute e não cenas explícitas de viés pornográfico que visam
atacar a moralidade cristã, se bem que “Ninfomaníaca” é mais erótico que
pornográfico. Talvez o lado mais cruel disso apareça quando nossa tarada
trabalha para Dafoe e ele pede que uma sucessora seja formada, sendo que a
escolhida é uma frágil menina que tem complexos em virtude de seu defeito numa
das orelhas. A menininha será apadrinhada por Joe para se tornar uma maligna
herdeira das práticas venais de coerção contra os devedores. Entretanto, nesse
momento, a ninfomaníaca fraqueja e conta o plano a mocinha, que se revela uma
víbora ainda mais perigosa apunhalando, inclusive, nossa protagonista pelas
costas. Nesse mar de perversidade não se salva nem nosso virgem bibliófilo, que
é morto pela tarada Joe ao tentar estuprá-la. Assim, que conclusão podemos
tirar de “Ninfomaníaca”? Quem é o verdadeiro vilão? O sexo? A imoralidade
humana? Creio, como já disse, que a imoralidade humana é a grande vilã do
filme. E o sexo? Ele é um mero instrumento por onde essa imoralidade age. A arma
não é má, mas sim é mau quem puxa o gatilho.
Cartaz do Filme
Joe e Seligman. Amizade
encerrada de forma trágica.
Uma Thurman: a melhor
coisa do filme inteiro.
A ninfa em ação...
Sadomasoquismo...
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