Alemão.
Ação e Thriller Tupiniquins.
Um bom filme de ação e
suspense nos moldes do cinema americano, mas com temática 100% nacional. Essa é
a impressão de “Alemão”, filme brasileiro que aborda o complexo de comunidades
da zona norte às vésperas da invasão promovida pelo governo.
Vemos aqui a história
de cinco policiais que se infiltraram no morro para fazer serviços de
inteligência, com o objetivo de facilitar a ação da invasão. O filme deixa
claro que muitos policiais foram infiltrados. Toda a operação era secreta e foi
comandada pelo delegado Valadares (interpretado por Antônio Fagundes), cujo
filho Samuel (interpretado por Caio Blat) era um dos cinco policiais
infiltrados no complexo. O problema é que um mensageiro do delegado foi
abordado por traficantes e fugiu de moto, deixando para trás uma mochila com as
informações de todos os policiais infiltrados. Desesperados, os policiais se
escondem numa pizzaria de fachada de um deles. O filme toma proporções de
grande suspense, pois enquanto os traficantes caçam os policiais, estes vivem
momentos de grande tensão, onde a desconfiança mútua faz com que os próprios
policiais ameacem uns aos outros e o diálogo é sempre cheio de muita agressividade.
Por outro lado, há a tentativa em vão por parte do delegado em localizá-los, já
que o chefão do tráfico, Playboy (interpretado por Cauã Reymond), manda
desligar internet e sinal de telefones celulares da comunidade, deixando o
complexo incomunicável. Para tornar a situação ainda pior, uma faxineira da
pizzaria (Mariana, interpretada por Mariana Nunes) vai pegar o dinheiro de seu
trabalho e fica presa na pizzaria (mulher errada na hora errada). Mais um
elemento que envolve tensão à trama é o fato de que um dos policiais
infiltrados, Carlinhos (interpretado por Marcello Melo Jr.), se envolve com a
irmã do braço direito de Playboy, que a usará como refém para chantagear o
policial. Uma história com um bom roteiro (embora haja uma ou outra passagem
inusitada para um contexto de estado paralelo) que mostra bem a qualidade de um
cinema brasileiro realmente bom.
Quanto aos atores, um
bom elenco. Antônio Fagundes, dispensa apresentações. Cauã Reymond foi um dos
produtores do filme e fez um baita laboratório na comunidade para compor seu
personagem. Dentre os policiais, Caio Blat, Otávio Muller, Gabriel Braga Nunes,
Marcello Melo Jr., e Milhem Cortaz, o nome ideal para filmes policiais brasileiros,
com a voz que parece eternamente precisar de pastilhas para garganta. Já o
vimos em “Assalto ao Banco Central” e em “Tropa de Elite”.
Um detalhe curioso aqui
é o uso de imagens reais de telejornais falando da invasão do Alemão, discursos
de autoridades, manifestações na comunidade e os protestos de rua do ano
passado, etc., imagens essas que buscariam dar uma “ilusão de realidade” ao
enredo do filme. A impressão seria realmente essa (uma ilusão) não fosse a
inquietante legenda que aparece bem ao início do filme onde é dito que, apesar
da história “se amparar em pesquisas de jornais, telejornais e arquivos, esse
filme pode ser considerado uma ficção”. Aí, temos uma impressão de que, algo
semelhante ao que aconteceu no filme (policiais do serviço de inteligência
descobertos dentro do morro e cercados por traficantes) acabou acontecendo realmente.
E desconfiar que tudo o que vimos não foi uma história de ficção, mas talvez
algo real, é a maior das inquietações, angústias e tensões que vemos em
“Alemão”. Este detalhe acaba tornando esse filme sobre o tráfico e a
criminalidade carioca um pouco diferente dos demais, pois a legenda inicial
parece nos dizer: “Olha só, vocês verão toda a situação apresentada no filme,
mas nada disso aconteceu, OK?”, quando realmente pode ter acontecido. E isso é
o que mais acaba incomodando a gente.
Por essas e por outras,
vale a pena dar uma conferida em “Alemão”, bom produto de nosso cinema
brasileiro com B maiúsculo.
Cauã Reymond, como o
traficante Playboy e seus comandados.
Antônio Fagundes como
delegado Valadares. Mãos atadas e drama familiar.
A equipe de policiais,
a faxineira e o diretor José Eduardo Belmonte.
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