Lunchbox.
Desencontros e Desilusões.
O maior produtor de
filmes do mundo, a Índia (não, não são os Estados Unidos!) lança mais uma
pequena preciosidade. Dessa vez, temos o razoável “Lunchbox”, de Ritesh Batra.
Você então se pode perguntar: se o filme é razoável, por que ele é uma
preciosidade? Para isso, vamos cair de cabeça nesse mundo oriental tão distante
de nós.
A trama conta a
história de um funcionário do governo, Saajan Fernandes (interpretado por
Irrfan Khan), que está prestes a se aposentar depois de trinta e cinco anos de
serviço. Viúvo, Fernandes é uma pessoa amarga, antipático com as crianças na
vizinhança da rua, próximas a sua casa, e com todo mundo. Ele será substituído
pelo jovem Shaik (interpretado por Nawazuddin Siddiqui), um rapaz solícito e
falastrão que deverá ser treinado por Fernandes, mas que o evita totalmente. A
vida de Fernandes provavelmente se encaminharia para a aposentadoria e o
ostracismo caso não houvesse um serviço de entrega de marmitas na Índia muito
conhecido por não falhar nunca. Mas no caso de Fernandes, falhou. Ele passou a
receber, por engano, marmitas de Ila (interpretada pela belíssima Nimrat Kaur),
que está infeliz no seu casamento e procura fazer comidas com temperos
especiais para chamar a atenção do seu marido. Ao perceber a indiferença do
marido, Ila percebe o erro do envio da marmita e manda um bilhete por ela,
citando o engano. Fernandes receberá o bilhete e os dois começarão uma interessante
relação onde um irá se amparar no outro. A vida dos dois se transforma com essa
relação. Ila sonha em viajar para o Butão, um lugar que tem a fama de ser muito
feliz. E Fernandes vai se tornando uma pessoa mais alegre e aberta, inclusive
iniciando um relacionamento mais próximo com Shaik, outro ponto positivo no
filme. Só é de se lamentar que, na hora em que Fernandes e Ila marcam um
encontro, Fernandes desiste de falar com ela, pois começa a perceber o peso da
velhice e a visão da jovem e bela Ila o desencorajou a falar com ela. Dói muito
ver Ila aflita bebendo copos e copos de água à espera de Fernandes e ele lá, no
balcão do bar, olhando a aflição de Ila à distância, sem sequer se dar uma
chance. Ila ainda irá procurar Fernandes no emprego, mas ele já havia se
aposentado e passaria a morar em outro lugar, onde o desencontro dá margem a
mais uma desilusão. Apesar de não haver o óbvio ululante do happy end, o que acho sempre que é uma
virtude, esse relacionamento poderia dar mais caldo, eles realmente poderiam
ter se encontrado e concluído que a vida a dois não daria certo e cada um iria
para o seu lado. Entretanto, optou-se pelo desencontro total, numa alusão a uma
vida mais real e crua. De qualquer forma, os dois transformaram suas vidas no
relacionamento com os bilhetes, já que Fernandes iniciou uma aposentadoria com
a mente mais aberta e Ila fez planos de pegar sua filha e se mandar, como diria
aquele poeta baiano, sem lenço e sem documento para o... Butão!!!
No mais, o filme tem a
virtude de mostrar uma Índia contemporânea, onde o inglês é uma espécie de
segundo idioma, em virtude da globalização e do fato de a Índia ter sido uma
colônia inglesa. Vemos o subdesenvolvimento em trens lotados, na miséria
reinante. Vemos desilusões com uma suposta desvalorização indiana para os
talentos, uma espécie de letargia provocada por uma falta de perspectiva,
expressas até em suicídios, o esquecimento das tradições, com ainda alguns
bolsões de sobrevivência da cultura original.
Assim, o filme é uma
preciosidade por abordar questões da Índia contemporânea e por ser um pouco
mais realista quanto ao destino das relações humanas. E o filme é razoável
talvez por ter sido um pouco realista demais e não viajar um pouquinho mais na
maionese do romance lúdico entre Fernandes e Ila, pelo qual torcemos muito e
nos deixa com cara de pastel no desfecho.
Fernandes, a marmita e
o bilhete.
A belíssima Ila.
Mais Ila...
Tudo de bom!!!
O simpático Shaik.
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