Crônica
do Fim do Mundo. Terço De Mundos Já Desmoronados.
O filme colombiano
“Crônica de Fim do Mundo” começa com tons de comédia e com uma brincadeira
alusiva ao “fim do mundo” em dezembro de 2012, supostamente previsto pelos
maias. Mas o filme deixa de ser uma comédia e vai tomando tons mais pesados e
melancólicos à medida que sua trama se desenlaça, não sendo, portanto, uma
história trivial.
Vemos aqui a vida do
aposentado Pablo (interpretado por Victor Hugo Morant), que não sai mais de
casa e vive com seus livros velhos e reproduções de pinturas. Ele tem um filho,
Ángel (interpretado por Ángel Vásquez Aguirre), que tem um pequeno bebê com sua
esposa Cláudia (interpretada por Claudia Aguirre). Ángel ainda cuida de seu
pai, a contragosto de Claudia, que acha o idoso uma criatura muito estranha por
não sair de casa há anos (Ángel chega a filmar com um celular a rua quando
dirige para mostrar ao pai as mudanças que ocorreram na cidade com o passar do
tempo). Com a proximidade do fim de 2012 quando, segundo a profecia maia, o
mundo acabaria, nossos personagens se comportam de forma complexa. Pablo faz
ligações para todos seus amigos do passado, buscando relembrar antigas
desavenças e despejando ofensas contra seus antigos amigos, já também na
velhice, com muitos deles doentes ou até falecidos. Ángel tem que encarar duas
situações espinhosas: a não aprovação de um projeto de trabalho, o que lhe
significa o desemprego, e toda a dor de seu amigo Ramiro (interpretado por Juan
Carlos Ortega), por ter perdido a namorada e não passar mais o “fim do mundo”
com ela. Já Claudia continua transtornada com as atitudes de Ángel, que dá mais
atenção para o pai e amigo do que para ela e o filho. Logo, logo, as vidas de
nossos protagonistas, que já não vão bem, acabam por implodir por completo.
Claudia se separa de Ángel, deixando-o sozinho e distante do filho. Ramiro não
termina com a namorada e ainda terá que apagar uma tatuagem enorme com o nome
dela (foi uma última tentativa desesperada de reconquistá-la, onde o dinheiro
da tatuagem foi dada por Ángel) e Pablo, ao ligar para um antigo amigo e
ofendê-lo, falou na verdade com seu filho (o amigo já havia morrido) que tinha
uma bina em seu telefone, localizando o número e endereço de Pablo, lhe fazendo
ameaças. Com o tempo, descobrimos que, além disso, Pablo é viúvo e perdeu a
esposa num atentado terrorista, sendo esse o motivo por não mais ter saído de
casa. Dessa forma, a profecia maia de fim do mundo é apenas uma alegoria dos
dramas pessoais dos personagens que estão destroçados pelos desmoronamentos de
seus mundos particulares que já ocorreram antes da data prevista pelo antigo
povo pré-colombiano. Para nossos personagens, seus mundos já acabaram faz
tempo. Ángel ainda faz uma tentativa de reaproximação com sua esposa, mas o
filme acaba antes de uma resposta mais definitiva de Claudia. Entretanto, as
perspectivas não pareciam nada boas. Fica para o espectador a especulação. Para
mim, o tom altamente melancólico ao final da história não traz muitas
esperanças.
Vemos, então, que
“Crônica de Fim do Mundo” pode até começar como uma comédia, mas sua verdadeira
força está na melancolia ao final provocada pela forma como as vidas dos
protagonistas vão desabando como castelos de cartas.
Cartaz do Filme.
Pablo destilando
desaforos contra seus algozes do passado... amargura...
Ángel. Oprimido por
várias forças
Ángel e Claudia.
Casamento não suporta crise...
Ramiro. Mundo também
desmoronado
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