Os
Pássaros. Desequilíbrio Ecológico A Serviço Do Suspense.
Mais um Hitchcock
restaurado. Dessa vez, é o divertidíssimo “Os Pássaros” (perdão aos mais
puristas, mas vejo esse filme mais como de humor do que de suspense), que é um
verdadeiro terreno livre para o inusitado. Sempre vale a pena recordar essa
obra de 1963. Vamos a ela!
Vemos aqui a história
de Melanie Daniels (interpretada por Tippi Hedren), uma socialite que conhece,
numa pet shop em San Francisco (da qual o próprio Hitchcock sai como figurante
com três cachorrinhos), o elegante figurão e advogado Mitch Brenner
(interpretado por um Rod Taylor no auge da forma, que foi estrela do
inesquecível “Máquina do Tempo”, de H. G. Wells e estrelou uma série de TV
chamada “Missão Secreta”, que passou na Globo na década de 1980). Os dois
começam uma conversa, que chega a um leve flerte e termina com um bate-boca
provocado por Mitch, que revela ser um sujeito bem atrevido e engraçadinho. Apesar
do desfecho não muito amigável, Melanie compra um casal de periquitos para
deixar na porta do apartamento de Mitch, endereço que ela descobriu depois de
anotar a placa do carro do advogado. Lá, ela descobre por um vizinho que Mitch
está passando o fim de semana em uma cidadezinha nos arredores de San Francisco
chamada Bodega Bay. Ela então viaja para lá e o encontra, onde descobre que ele
tem uma irmã caçula além de uma mãezona coruja (interpretada por Jessica Tandy)
que não quer perdê-lo de jeito nenhum para alguma pretendente. Até agora, a
história tem muito mais tons de um dramalhão sem fim. Mas toda essa lenga-lenga
é só um pretexto para reunir os protagonistas em Bodega Bay, onde o ataque dos
seres emplumados ocorrerá. Alguns sinais sobre a violência dos pássaros se dão
ao longo do filme. Vemos altas concentrações aéreas de gaivotas, corvos,
passarinhos. Galinhas que se recusam a comer ração. Uma gaivota que dá uma
bicada no cabelo de Melanie ferindo-a e desmanchando seu penteado barroco (algo
que os pássaros farão pelo resto do filme, como eles odiavam aquele penteado
rebuscado que hoje parece coisa da vovó – e era mesmo!).
Os ataques eram realmente
muito hilários! Primeiro, as gaivotas ou corvos (ou até os dois juntos) se
reuniam. Depois, começava o sobrevoo, com direito a muitas bicadas na cabeça e
cadáveres com os olhos arrancados. Pardais, canários, cambaxirras e similares
atravessando chaminés e invadindo salas. Ataques a postos de gasolina que
vazavam bombas de combustível e provocavam explosões, porque sempre tem algum
cretino inconveniente com um charuto aceso próximo a um posto de gasolina com
combustível vazando! Hordas de gaivotas e corvos querendo invadir casas
literalmente no bico. Aí, os bichinhos se acalmavam, se reuniam e se preparavam
para um novo ataque. Tudo isso sob os olhares aterrorizados dos personagens que
provocavam mais risos do que angústia. Sei não, mas ver uma gaivota ou um
pardal atacando uma pessoa me parece o mesmo que ser atacado por um ursinho de
pelúcia (ou um coelhinho, tal como em “Monty Python”). E com o agravante de
galinhas fazendo greve de fome... Somente os corvos impunham algum respeito
como seres malignos. Ainda assim, é muito engraçado ver um corvo dar uma bicada
na mão de Rod Taylor quando ele passa pelas aves em sua fase mais calma.
O mais curioso é que o
inexplicável permaneceu inexplicado. Por que a raiva toda daquelas aves? Por
que o ódio a penteados rebuscados? E às crianças? Elas eram muito malcriadas?
Pareciam tão boazinhas no filme! Não houve qualquer explicação satisfatória
para isso. O que mais chegou perto de um argumento foi uma conversa num pequeno
restaurante onde uma senhora cujo hobbie era
a ornitologia (quem já viu o desenho – não tenho o hábito de falar anime – do pica-pau sabe que ornitólogo
é o especialista em pássaros) mencionou, muito de relance, a interferência
humana como um possível motivo daquela revolta toda. Assim, uma ópera do
absurdo que é uma revolta das aves talvez pudesse ter uma explicação num
possível desequilíbrio ecológico provocado pelo homem que levou àquela fúria
emplumada. Assim, o filme “Os Pássaros” pode ter sido um dos primeiros thrillers com consciência ecológica da
história do cinema!
Palhaçadas e babaquices
à parte, a película “Os Pássaros” não deixa de ser uma obra-prima do mestre do
suspense, que sempre também tem muito bom humor (essas duas facetas de
Hitchcock ficam explícitas nesse filme). Em que pese a graça de algumas cenas,
outras também expressam alguma tensão, tal como a sequência do ataque a Melanie
que a deixou em estado de choque. Algumas cenas de ataque claramente tinham os
efeitos especiais rudimentares da época, mas em outras tínhamos pássaros
verdadeiramente treinados. E reunir aquele monte de gaivotas e corvos na parte
final deve ter sido realmente um trabalho muito penoso (desculpem-me, mas não
resisti ao trocadilho).
Assim, no melhor estilo
“Vale a Pena Ver de Novo” e “Sessão da Tarde”, é altamente recomendável dar uma
conferidinha neste famoso (e, na minha opinião, divertido) filme de Hitchcock.
Ataque aos penteados
barrocos!!!!
Começa com um...
E, depois, a patota
toda!!!
E aí, o ataque!!!!
Rod Taylor, como o galã
Mitch Brenner
Jessica Tandy, como a
mamãe coruja...
Tippi Hedren, como a socialite Melanie Daniels.
Sob vigilância atenta…
O mestre do suspense
com seus bichinhos…
Era, também, um grande
zoador...
Fazendo uma ponta no
início do filme...
Dirigindo no set de
filmagem.
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