Os
Filhos do Padre. Planejamento Familiar Às Avessas.
Um planejamento
familiar às avessas. Esse é o melhor resumo de “Os Filhos do Padre”, uma
divertida comédia da Croácia, algo que não temos muito contato por aqui. Vemos
neste filme que os povos aparentemente sisudos do leste europeu podem ter
bastante senso de humor e temos aqui uma grata surpresa. Vamos falar um
pouquinho desta película inusitada.
A história fala do
padre Don Fabijan (interpretado por Kresimir Mikic), que foi chamado para
substituir o padre Don Jakov (interpretado por Zdenko Botic), de uma paróquia
numa pequena ilha no Adriático. Mas o padre titular por lá permanece e nosso
Don Fabijan fica como uma espécie de padre suplente, que muito sente não ser
tão popular quanto Don Jakov. Outra coisa que incomoda Don Fabijan é a alta
taxa de mortalidade da ilha e a taxa de natalidade em zero, num claro sinal de
que a população está encolhendo. Don Fabijan assiste a tudo, meio sem ter o que
fazer, até que, um dia, ele recebe em seu confessionário Petar (interpretado
por Niksa Butijer), o dono de um quiosque que vende, entre outras coisas,
preservativos e se acha culpado pela morte de pessoas que nem terão uma chance
de nascer. Nesse ínterim, o padre tem uma ideia e combina com Petar furar todas
as camisinhas com um alfinete para que as mulheres possam engravidar. Mas o
plano não dá certo, pois as mulheres usam anticoncepcionais na farmácia de
Marin (interpretado por Drazen Kuhn), um croata veterano de guerra
ultranacionalista, que sofreu em campos de concentração sérvios e muçulmanos.
Assim, Don Fabijan planeja sabotar as caixas de anticoncepcionais com
vitaminas, tendo o apoio de Marin, pois o farmacêutico quer aumentar a
população croata a qualquer custo para que os inimigos não tomem seu país. O
filme tem lances muito engraçados como o linguajar de baixo calão de Petar com
Fabijan e como o padre imagina as relações sexuais entre os membros da
comunidade. A questão étnica e os preconceitos entre os povos do leste europeu
também são abordados com muito humor, principalmente no que toca à visão dos
croatas sobre os albaneses. Mas o filme também mostra como a interferência do
padre Fabijan na vida das pessoas com relação a aumentar a taxa de natalidade
pode prejudicá-las. E a trama, que aparece muito engraçada em seu início, se
torna mais pesada e sombria ao seu final, dando uma impressão de que o início e
fim do filme destoam de uma certa forma. Mas essa discordância nos mostra como
essa história não se propõe a ser apenas uma comédia com simples função de
entretenimento. É um filme que também faz pensar e faz algumas críticas aos
procedimentos da Igreja Católica. Vemos, por exemplo, um bispo que visita a
ilha e se preocupa muito mais com casos de pedofilia, perdoando até Don
Fabijan, que acabou sendo flagrado com um dos preservativos. E também o estupro
cometido por Don Jakov, que acabou resultando no suicídio da menina estuprada.
O estupro também acabou sendo mantido em segredo pelos padres, pois eles
aproveitaram o expediente do sigilo na confissão para guardar segredo do crime
cometido, procedimento moralmente inaceitável nesse contexto, mas aceito pela
Igreja Católica. Fica curioso aqui também perceber os problemas de natalidade
nesta parte do mundo, onde os nascimentos precisam ser estimulados, ao
contrário do que acontece aqui no nosso terceiro mundinho, onde precisamos
justamente desencorajar a natalidade.
Por essas e por outras,
“O Filho do Padre”, outro filme que está discretamente no circuito, é uma
história que merece ser vista e desfrutada pelos cinéfilos de plantão...
Cartaz do Filme
Padre Fabijan em ação
Fabijan e Petar.
Tomando intimidade com
o tamanho GG.
Trio implacável. Petar,
Fabijan e Marin.
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