O
Gebo e a Sombra. Manoel de Oliveira Volta a Atacar!!!
E lá vem ele de novo! O
mais famoso cineasta português, o centenário Manoel de Oliveira, nos brinda com
mais de um de seus filmes. E, desta vez, vemos uma reflexão sobre a condição
familiar e outras questões mais profundas sobre a vida, no bom filme “O Gebo e
a Sombra”. Mas, vale lembrar aqui que essa produção é de 2012 e só agora chega
às nossas telonas. Por que tamanho atraso? Gostaria de saber...
Bom, o que deve ser
mencionado aqui em primeiro lugar, é o elenco. Vemos aqui uma verdadeira
constelação de lendas do cinema. Em primeiro lugar, temos o prazer de rever
Claudia Cardinale (que estava lindíssima em “Era Uma Vez no Oeste”), a lendária
Jeanne Moreau (inesquecível em “A Noiva Estava de Preto”, de François
Truffaut), Michael Lonsdale (o vilão de “007 Contra o Foguete da Morte”, onde
nosso James Bond, interpretado por Roger Moore, vem ao Rio de Janeiro e destrói
o bondinho do Pão de Açúcar), a deslumbrante Leonor Silveira, figurinha fácil
nos filmes de Oliveira e um dos rostos mais bonitos do cinema, além de Ricardo
Trepa, o nosso fotógrafo Isaac de “O Estranho Caso de Angélica”. Com um elenco
desses, a gente vai para o cinema somente para ter o prazer de rever atores que
fazem nosso sangue cinéfilo amá-los com todas as forças.
E a história? Vemos
aqui Doroteia (interpretada por Cardinale), uma mãe amargurada por seu filho
João (interpretado por Trepa) ter saído de casa e desaparecido. A rotina de
Doroteia é ficar trancafiada numa casa muito humilde junto com sua nora, Sofia
(interpretada por Silveira) e as duas totalmente sufocadas pela rotina e
ausência de João. O pai, Gebo (interpretado por Lonsdale), é um contador que
trabalha de favor em sua empresa, por estar muito velho. Ele é obrigado a
sustentar a casa e a aguentar o mau humor de Doroteia, que muito sofre e faz
sofrer. Gebo confidencia a Sofia que viu João na rua, mas num estado
deplorável, mergulhado em criminalidade e comportamento violento. O pai e a
nora decidem nada contar a mãe, pois temem que ela não aguentará tamanha má
notícia. Mas João aparece do nada e deixa Doroteia toda feliz. Só que essa
felicidade não durará muito. Numa manhã, Doroteia, Gebo, seu amigo Chamiço
(interpretado por Luís Miguel Cintra) e a amiga Candidinha (interpretada por
Moreau) conversam sobre assuntos que vão da politica à arte. Tais conversas
irritam João, que acha que todos estão praticamente mortos ali, prisioneiros de
suas rotinas e banalidades. Quanto a ele, sua opção pela marginalidade lhe
imprimiu uma vida sem rotinas desgastantes, mas também levou a sofrimentos e
sentimentos ruins como a fome e um apreço insano pela violência, o que choca
seus pais e esposa. Gebo guarda uma valise cheia de dinheiro de seus chefes, o
que atrai a atenção de João. Depois de uma discussão com Sofia, João, ladrão
declarado, rouba a valise e some. Para que Doroteia não saiba que João
enveredou pelo caminho da criminalidade e violência, Gebo assume a culpa pelo
roubo e acaba preso. Desfecho melancólico e pessimista que ratifica uma das
reflexões do filme: a pobreza e a rotina levam a uma vida de sofrimento. O mais
curioso aqui é que o que poderia quebrar a rotina e trazer alegria para aquela
casinha miserável era justamente a volta de João e, ironicamente, ele acabou
trazendo ainda mais sofrimento, de forma que essa liturgia agônica parece ser
um beco totalmente sem saída. De felicidade, restam apenas os bons momentos de
alegria naquele café da manhã com Doroteia, Gebo, Sofia, Candidinha e Chamiço,
isso antes de João dar as caras.
Dessa forma, o filme
nos dá uma interessante lição. A felicidade é um conceito muito relativo. Às
vezes, o que achamos que nos trará felicidade é justamente o motivo de nossas
maiores tristezas. E quando nos queixamos da vida que levamos, podemos reavaliar
e percebermos que tudo anda muito bem. Nós é que não nos contentamos e
reclamamos demais da vida. Devemos buscar sempre o equilíbrio. Nem ambição
demais, nem resignação total. Essa é uma das muitas mensagens que Manoel de
Oliveira nos traz desta vez. Ele realmente é o cara!!!
Cartaz do Filme.
No café da manhã.
O mestre dirigindo...
Mas também descontraído
com a sua belíssima Leonor Silveira.
Jeanne Moreau, ainda
divina.
Descontração na
filmagem. Ricardo Trepa tieta Jeanne Moreau.
Claudia Cardinale,
divina
Leonor Silveira e
Michael Lonsdale: cinema de atores....
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