Um
Episódio Na Vida De Um Catador De Ferro Velho. Globalização Da Miséria.
O título quilométrico
desse filme traz implícito o fato de que, quando falamos em miséria, podemos
vê-la em qualquer parte do mundo, em todos os níveis. E nos identificamos com povos
tão distantes quanto os da Bósnia, lá no longínquo leste Europeu através da
pouca ou nenhuma assistência que os menos favorecidos têm. Vamos falar um pouco
desse filme de denúncia.
A trama fala da vida do
catador de ferro velho Nazif Mujic (os nomes dos personagens são os mesmos
nomes dos atores em todo o elenco), de origem cigana, casado com Senada, e que
tem duas pequenas filhas, Semsa e Sandra. Ele vive na periferia coberta de neve
e lixo, de onde ele tira seu sustento, sempre realizando um trabalho muito
braçal, seja cortando lenha para a esposa, seja catando muito ferro velho,
cortando carcaças de carros a machado, e ganhando irrisórias quantias pelos
muitos quilos de ferro. Um dia, Senada diz que está com dor no estômago. Mas
ela está grávida e, na verdade, o bebê está morto. É imperativo que Senada faça
um aborto para salvar sua vida, mas Nazif não tem o dinheiro para pagar a
cirurgia. Começa, então, toda uma via
crucis de Nazif, com Senada e as filhas a tiracolo para providenciar a
cirurgia e salvar a esposa. Ele conseguirá a cirurgia usando um cartão de
seguro da cunhada, depois de recorrer a uma instituição que amparava ciganos, e
enfrentar muita burocracia. Mas Nazif ainda terá que pagar um dobrado (e
sucatear o próprio carro) para pagar os remédios do pós-operatório e o corte da
luz por falta de pagamento. É impossível não comparar a situação dos ciganos da
Bósnia com a nossa combalida saúde brasileira. A questão da cirurgia lembra
muito as homéricas brigas na justiça com os planos de saúde daqui que não querem
autorizar procedimentos que as pessoas têm direito. Ou então nossa saúde pública,
que despreza as pessoas da forma mais cruel. Todo mundo conhece uma história
dessas. Ainda, como os mais pobres são desassistidos em todo o lugar, num total
desprezo pela vida humana. É como dizia um amigo de Nazif: “Deus, por que você
sempre dá sofrimento aos mais pobres?”.
O próprio Nazif dizia que, na época da guerra dos Bálcãs, a situação era
melhor, mas ele não havia conseguido qualquer tipo de benefício desde então,
restando a ele apenas a parca renda de catador de ferro velho. O filme não opta
por um final infeliz, mas tem um interessante desfecho, terminando como
começou: Nazif fazendo seus trabalhos braçais, cortando lenha. Ele conseguiu
resolver o problema emergencial de sua esposa, mas as rotinas de miséria e
muito trabalho continuam. Nunca a pobreza foi tão globalizada.
Nazif e Senada: unidos
na miséria.
Tensão pela falta de
dinheiro e a necessidade urgente de uma cirurgia paga.
Trabalhando duro...
Destruindo carcaças de
carros a machado... cenário deprimente...
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