Varieté.
Uma Obra-Prima Do Cinema Alemão.
O Instituto Goethe do
Rio de Janeiro, em parceria com o cine Odeon e o CCBB, fez uma mostra de filmes
intitulada “Asas do Tempo: Imagens de Berlim”, onde vários filmes que têm a
capital alemã como pano de fundo foram exibidos. Essa mostra ocorreu
paralelamente à exposição “Zeitgeist”, no CCBB sobre arte alemã berlinense
contemporânea. Para inaugurar a mostra cinematográfica, foi exibida uma versão
restaurada do célebre filme alemão “Varieté”, de 1925, estrelada por Emil
Jannings e Lya De Putti. Por se tratar de um filme mudo, a sonorização dele se
deu em plena sala do Odeon e por um DJ berlinense, Jan Bauer, que gosta de
fundir instrumentos clássicos com música eletrônica. Uma das habilidades de Bauer
é justamente fazer improvisações sonoras para filmes mudos. E, apesar de haver
algumas falhas em sua aparelhagem durante a execução do filme, pode-se de dizer
que seu trabalho ficou muito bom, onde os sons eletrônicos retratavam bem o
ambiente que o antigo filme mostrava na tela. Eu até digo que seu trabalho
lembrou muito alguns trechos musicados por Giorgio Moroder para a sua versão de
“Metrópolis” de 1984.
Mas, no que consiste a
história de “Varieté”? Vemos aqui a vida de Boss Huller (interpretado por
Jannings), o dono de um pequeno circo de variedades, que por uma dessas peças
que a vida nos prega, é obrigado a acolher a pequena órfã Berta-Marie
(interpretada por De Putti) . A menininha, aparentemente muito inocente, de
bobinha não tinha nada e começa a flertar com Boss. Logo, ela arruma um posto
de dançarina, onde a moça é muito cobiçada pelos homens, o que desperta a ira
de Boss. O dono do pequeno circo havia sido acrobata mas abandonou a carreira
depois de um acidente. Cheio daquela vida, ele decide abandonar seu pequeno
negócio de entretenimento, sua esposa e parte com Berta-Marie para uma nova
vida de acrobacias. Suas apresentações irão despertar o interesse de Artinelli,
um acrobata que precisa de um novo parceiro, já que seu colega de apresentações
faleceu. Ao conhecer Boss e Berta-Marie, Artinelli logo se apaixona pela moça e
inicia um caso com ela. Boss descobre,
mata Artinelli a facadas e se entrega. Fica dez anos preso sem dizer uma
palavra sequer em sua defesa. Com o pedido de clemência feito por sua esposa, é
chamado a contar a sua história e recebe o perdão da justiça.
“Varieté” é um típico
produto cultural da época da Repúbica de Weimar, nome dado à Alemanha do
período entreguerras. Dirigido por Ewald André Dupont e escrito pelo mesmo
Dupont a partir de um romance de Felix Hollander, não podemos classificar esse
filme como especificamente expressionista, mas existem vários elementos
expressionistas nele, como a interpretação antinatural dos atores, com o
objetivo de externar ao máximo as emoções e os sentimentos, onde o olhar tem
uma importância fundamental, assim como nuances de claro e escuro (a roupa dos
acrobatas era bem branquinha, tendo um crânio humano negro em destaque, assim
como o voo dos acrobatas claros, sob o teto negro do picadeiro). No tocante à interpretação dos atores, Emil
Jannings foi um dos mestres de sua época e podemos ver todo o seu talento nesse
filme, ainda quando comparamos com suas atuações em outros filmes da mesma
época. Lya de Putti estava lindíssima, com a proporção dois para um entre olhos
e boca e o batom pintando os lábios em formato de coração, bem ao estilo da
época. Não podemos nos esquecer de que este é um filme datado, com atuações um
tanto específicas para seus dias, que hoje podem parecer engraçadas. Outro
fator de estranhamento é a velocidade das imagens, já que as câmaras em 1925
filmavam a apenas 16 quadros por segundo, e a sensação de rapidez é muito
grande, principalmente quando víamos a plateia aplaudindo os acrobatas. Ainda
assim, “Varieté” é um grande filme, onde é mostrado que um crime passional
podia muito bem ser passível de absolvição. Outras épocas, outras mentalidades.
Mas não deixa de ser um clássico do cinema que aconselho muito você procurar
nos dvds, blu rays ou internets da vida. E não deixe de ver um pequeno
fragmento do filme após as fotos.
Cartaz do Filme
Boss e Berta-Marie. Amantes
Mas o amor pode se tornar doentio
Festas típicas dos anos loucos
Aventuras no trapézio
Voos sob uma lona negra
Triângulo amoroso
Muitas dúvidas...
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