A
Ovelha Negra. Protegendo As Bichinhas.
Um filme muito peculiar
estreou em nossas telonas. “A Ovelha Negra” (“Hrútar”) vem lá da longínqua
Islândia, uma terra bem diferente da nossa em muitas coisas, a começar pelo
clima glacial, que até me dá uma pontinha de inveja, principalmente quando me
lembro desse calor inclemente que faz por aqui. E a Islândia tem outra
peculiaridade. A população de ovelhas é maior que a de humanos, sendo a criação
desses bichinhos de grande importância econômica para o país. E o filme vai
abordar justamente esse tema.
Vemos aqui a história
de dois irmãos criadores de ovelhas, Gummi (interpretado por Sigurour
Sigurjónsson) e Kiddi (interpretado por Theodór Júlíusson). Os dois vivem num
estado de constante beligerância. E a situação só se faz piorar porque há um
concurso anual na região em que moram para se premiar o melhor carneiro. Kiddi
venceu o concurso com um carneiro negro, deixando seu irmão em segundo lugar
por uma estreita diferença. Gummi, inconformado, foi na calada da noite
examinar o carneiro de Kiddi e suspeitou que ele estivesse com scrapie, uma
doença contagiosa que atacaria todos os animais da região. Quando os veterinários
da cidade examinam as ovelhas e detectam o scrapie, todos os criadores são
obrigados a sacrificar seus rebanhos, o que provoca não só um violento trauma
econômico, mas também psicológico, pois, como vimos, a criação de ovelhas está
muito arraigada à cultura local. E isso só vai piorar ainda mais a relação
entre os dois irmãos. Gummi, entretanto, não aceita a situação e vai resistir
ao sacrifício em massa, o que vai trazer outras consequências ao desenrolar da
história.
Esse filme pode ser
classificado mais como um drama com leves pitadas de comédia. Geralmente, películas
lá daquelas bandas setentrionais geralmente apresentam atores com atuações um
tanto robotizadas para nossos olhos latinos e tropicais. Mas o que impressionou
é que aqui isso não aconteceu. Muito pelo contrário. Os atores que
interpretaram os dois irmãos tiveram boas atuações, altamente emotivas. Kiddi
transbordava frustração e tristeza, seja em seus momentos de agressividade,
seja em seus momentos de bebedeira. E Gummi, o protagonista, emocionava ao se
abraçar e chorar com as bichinhas que precisavam ser sacrificadas. Ele também
foi responsável por alguns lances cômicos do filme, ao fazer divertidas caras e
bocas durante as situações mais inusitadas. Definitivamente, a película foi
mais centrada nesses dois personagens e nas ovelhas, é claro. Só é de se
destacar a resistência dos dois irmãos ao frio. Eles passavam por situações
literalmente congelantes, onde qualquer um viraria picolé (já imaginaram o que
é um inverno na Islândia?) e sempre sobreviviam. Definitivamente, é um lugar
onde comprar geladeira é um baita desperdício de dinheiro.
Além de uma boa
história para se contar, o filme apresenta outra virtude: tem uma belíssima
fotografia, que registra as paisagens descampadas da Islândia, onde vemos um
infinito gramado que cobre montanhas e planícies, onde as casinhas e celeiros
dos dois irmãos brotavam, branquinhas. Foi realmente uma coisa bonita de se
ver.
Eu creio que, por ser
uma película relativamente curta (cerca de 93 minutos), o diretor e escritor do
roteiro Grimur Hakórnarson optou por um desfecho meio que em aberto, o que
sempre nos dá aquela sensação do “ué, já acabou?”. Mas vou repetir o que eu já disse
em outras resenhas de filmes que tinham final semelhante, de que isso não é de
todo ruim. Pelo contrário, pode ser algo até interessante, pois dá margem ao
espectador para fazer especulações sobre o que aconteceu depois do final. E
cada um sai da sala com sua leitura própria de interpretação do filme. Tal
desfecho, em algumas situações, propicia uma interação maior do público com a
película. É uma espécie de convite que o filme faz ao público para entrar em
sua própria diegese, ou seja, a realidade referente à da narrativa ficcional.
Assim, “Ovelha Negra” é
um interessante filme, pois nos coloca frente à frente com uma realidade muito
distante de nós (a da Islândia), tem uma interpretação de atores que chama a
atenção, uma excelente fotografia e a possibilidade que dá ao espectador para
alçar voos maiores de sua imaginação. E não deixe de ver o trailer após as
fotos.
Cartaz do Filme
Gummi, um apaixonado por seus carneirinhos e ovelhas
Kiddi, em luta constante com Gummi
Um concurso aumenta a rivalidade entre os irmãos...
Desespero ao ter que sacrificar as bichinhas
Isso só vai piorar a relação entre os irmãos
O que fazer???
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