Tudo
Vai Ficar Bem. E O Tempo Passa, Passa...
O lendário diretor
alemão Wim Wenders está de volta. E, dessa vez, lançando mão de atores do
cinema americano para contar uma história com o tempero e a cadência dos filmes
europeus, dando a essa película um charme todo especial. O filme em questão é
“Tudo Vai Ficar Bem”, e tem como ator principal o bom James Franco,
imortalizado como o Harry Osborn do “Homem Aranha” interpretado por Tobey Maguire.
No que consiste a trama
do filme? Vemos aqui o escritor Tomas Eldan (interpretado por Franco), um cara
que passa por um imenso bloqueio criativo, se exilando para buscar inspiração.
Só que, ao fazer isso, ele também se distancia de sua namorada, Sara
(interpretada por Rachel McAdams), o que provoca uma pequena crise no casal.
Mas tudo ficaria muito pior quando ele, sem querer, atropela um garotinho e o
mata, alterando drasticamente a vida da mãe do menino, Kate (interpretada pela eficiente
Charlotte Gainsbourg). A morte da criança faz Tomas entrar em parafuso e tentar
o suicídio. Mas também lhe dá uma inspiração que o tornará daí em diante um
escritor de sucesso. O que vemos no filme em seguida é a trajetória de Tomas em
sua vida pessoal e profissional, colecionando muitos fracassos na primeira e
mais sucessos na segunda.
Esse é um interessante
filme de Wenders, pois, apesar da cadência muito lenta, ele consegue prender a
atenção do espectador com uma história aparentemente banal. O personagem de
Tomas é uma pessoa complicada de se viver, e o acidente só piorou as coisas.
Nós acompanhávamos com muita curiosidade cada lance da vida do escritor, o
protagonista principal, um personagem humano com virtudes e defeitos que feria
e era ferido. Um detalhe curioso é que o filme tinha saltos no tempo de dois e
quatro anos, onde podíamos presenciar velhas crises sendo superadas bem ao
estilo “o tempo cura tudo” (alguns dizem que se essa frase fosse verdadeira, as
farmácias venderiam relógios). Esses largos saltos temporais também serviam
para mostrar como a vida de uma pessoa pode sofrer radicais alterações com o
tempo e tomar um rumo que em nada estava previamente planejado. Esse é também
um daqueles filmes que acende a luzinha de emergência em nossas cabeças dizendo
que a vida é curta demais e devemos aproveitá-la ao máximo, não a desperdiçando
com atitudes e decisões erradas. Mas, ao mesmo tempo também nos mostra que
somente aprendemos a aproveitar a vida com nossos erros. E, no caso de Tomas,
todos os conflitos pessoais de sua vida serviam de combustível para seu êxito
profissional como escritor, como se precisássemos de uma espécie de “sacode”
para liberarmos nossa força criativa. Existia um raciocínio semelhante nas
reflexões sobre a criatividade na cultura brasileira dizendo que elas são mais
fulgurantes nos piores momentos de crise, como a censura de uma ditadura, por
exemplo. O filme envereda por um caminho semelhante, pois pareceu que Tomas só
conseguiu ser mais criativo depois de passar pelo trauma do atropelamento. Assim,
Tomas conseguia sucesso profissional, mas não conseguia levar sua vida pessoal
em águas calmas.
Ufa! Toda essa reflexão
num filme praticamente paradão em termos de ação. Isso soou muito europeu. Mas
o legal foi ver os atores mais presentes no cinemão americano atuando numa
película reflexiva. Fiquei muito feliz pelo presente que James Franco recebeu
de Wenders ao interpretar o personagem Tomas, principalmente depois daquele
fiasco horroroso que ele teve que engolir no filme “Entrevista”, que foi
altamente sofrível. Esse ator merece bons papéis sempre.
Assim, “Tudo Vai Ficar
Bem” é um filme que, apesar do ritmo lentíssimo, merece a conferida dos
cinéfilos de plantão porque, em primeiro lugar, é um Wenders; em segundo lugar,
porque é mais uma película reflexiva; e, em terceiro lugar, porque podemos ver
atores do naipe de um James Franco, Charlotte Gainsbourg e Rachel McAdams
atuando juntos num filme de enredo muito “europeu”. Tenha paciência com a
cadência e não deixe de prestigiar. E não deixe de ver o trailer após as fotos.
Cartaz do Filme
Tomas, um escritor em busca de inspiração
Dificuldades de relacionamento com a namorada
Uma mãe que perde um filho
Enfrentando dores de frente
Novos tempos, novas vidas
Franco com Wenders nas filmagens
No Festival de Berlim
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