Body.
Psicografando Na Polônia.
Um filme polonês que
ganhou o prêmio de melhor diretor no Festival de Berlim. “Body” traz a nós um
tema muito caro a vida religiosa brasileira, altamente variada: a questão da
mediunidade e do kardecismo. Nosso país inclusive é citado na película como
tendo muitos médiuns e que possui hospitais onde são feitas cirurgias
espirituais, um tema que parece ser muito distante da realidade polonesa.
Vemos aqui a história
de Janusz, um investigador de polícia especializado em trágicos homicídios (interpretado
por Janusz Gajos), que leva uma vida muito conturbada com sua filha Olga
(interpretada por Justyna Suwala). O passado dos dois é marcado pela morte da
mãe e esposa e Olga culpa o pai por essa morte. Como resultado, a moça tem
sérios distúrbios psíquicos e sofre de bulimia, tendo que ser tratada em um
hospital. Sua terapeuta, Anna (interpretada por, vamos lá, Maja Ostaszewska,
eita!) é, digamos, uma espécie de bicho grilo que se veste com roupas muito
coloridas e tem uma característica muito peculiar: é uma médium e psicografa
cartas de espíritos do além bem ao estilo de Chico Xavier aqui no Brasil. Ao
perceber a psique extremamente atormentada de Anna e todo o seu ódio ao pai nas
sessões de terapia, Anna busca procurar Janusz para tentar uma terapia
conjunta. É aí que Anna sente uma presença a mais rondando Janusz, ou seja, sua
finada esposa. Mas a frieza e ceticismo de Janusz vai ser um enorme fator
complicador para se estabelecer uma ponte entre ele e sua esposa, o que, para
Anna, era determinante para aliviar as dores de Olga.
O filme tem situações
muito angustiantes, sobretudo nas cenas de terapia que Anna faz com suas
pacientes. As moças, cadavéricas, pareciam personagens vindos de um campo de
concentração, impressão essa reforçada ainda mais por se tratar de um filme
polonês onde os nazistas da Alemanha instalaram campos de concentração (as
lembranças de Auschwitz aparecem de forma muito clara aqui, mesmo parecendo que
isso nada tenha a ver com o filme; só que as cenas das meninas esquálidas são
muito fortes). Olga era a própria imagem da derrota, da frustração e da mágoa.
Janusz, por sua vez, incomodava por sua frieza, mas também era digno de uma
certa pena, por não saber o que fazer com seus problemas. Seu ofício de cenas
muito fortes e traumáticas parece que o levou a se blindar de qualquer emoção
forte, tornando-o totalmente incompetente quando ele precisava lidar com
questões mais delicadas que envolvessem carinho e afeto, o que era altamente
destrutivo na relação com Olga. Já Anna, a médium bicho grilo, se especializou
em lidar e curar pessoas que sofrem de distúrbios psíquicos, mas ela também tem
suas fraquezas psicológicas, pois a tragédia igualmente rondou sua vida. Legal
mesmo era o animal de estimação dela, um tremendo dum cachorrão que se
comportava como uma verdadeira criança e supria suas carências afetivas.
Por se tratar de uma
cultura muito distinta da nossa, a interpretação dos atores causa uma certa
estranheza. Parece um monte de robôs desfilando na tela. Mas, ainda assim, Anna
era muito cativante, principalmente depois que ela cita nosso país como exemplo
de local onde o espiritismo tem muita força, criticando uma suposta
insensibilidade do povo polonês. Agora, o que foi mais admirável no filme foi
seu desfecho. Mas falar sobre isso aqui seria um baita de um spoiler. Só vou
dar uma pequena dica: foi uma coisa bem ao estilo “mirou no que viu, acertou no
que não viu”. Além disso, só posso dizer que a coisa ficou muito legal e o
desfecho vale a pena o ingresso para um filme que já caminhava para o enfadonho
em virtude da forte barreira cultural. Assim, “Body” é um bom filme que merece
ser visto e foi digno da premiação que recebeu, pois ele se amparou na boa
interpretação dos atores, sendo uma das razões dessa boa interpretação o
trabalho da direção. Procure o DVD que você não vai se arrepender. E não se
esqueça de ver o trailer depois das fotos.
Cartaz do Filme
Janusz, um policial insensível
Olga, afundada em traumas
Anna, dublê de terapeuta e médium
Em Berlim...
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