Sem
Filhos. Comédia Para Quem Odeia Crianças.
Uma co-produção
argentina e espanhola paira em nossas telas. “Sem Filhos” é uma comédia
comercial e despretensiosa, com o único intuito de divertir levemente. Não é lá
grande coisa, é altamente previsível e cheia de clichês. O leitor pode estar se
perguntando: então não devo nem chegar à porta do cinema em que este filme está
passando? Também não é para tanto. Você vai ter uma tarde agradável e rir um
pouquinho. Às vezes, o cinema também serve para desopilar o fígado, distrair,
desestressar. E um filme levinho desses consegue cumprir esses papéis.
Vemos aqui a história
de Gabriel (interpretado por Diego Peretti), um carinha meio porra louca que
tem uma loja de instrumentos musicais. Ao tirar seu passaporte, ele encontra
uma antiga amiga de infância, Vicky (interpretada pela boa atriz espanhola Maribel Verdú, que deu um show como a vilã da
Branca de Neve “toreadora” da película muda e em preto e branco “Branca de
Neve”). Logo se percebe que existe uma atração mútua. Mas Vicky rapidamente
desaparece. E até que isso não foi de todo ruim, pois Gabriel está casado e sua
esposa está grávida de uma menina. Muitos anos se passam, Gabriel está separado
e vive com sua filhinha Sofia, de apenas nove anos (interpretada por Guadalupe
Manent), uma menina muito fofinha e esperta (olha aí um clichê). Um belo dia,
Vicky entra na loja de Gabriel de propósito para matar as saudades e convidá-lo
para uma festa. Foi o pretexto para que os dois engatassem um namoro.
Entretanto, havia um problema: Vicky detestava crianças. E Gabriel vai ter que
“encobrir” a presença da filha em sua vida para continuar seu relacionamento
com Vicky.
O que a película tem de
diferente? Ela levanta a velha questão: filhos, tê-los ou não tê-los? Se há
gente que tem uma paixão doentia por crianças, o inverso também acontece. A
comédia se torna atraente principalmente por ser um tema do qual ninguém fica
indiferente. Em países de origem latina, sobretudo aqui na América, todo mundo
quer ter filhos (parece até uma epidemia). Já em países anglo-saxões da Europa,
ninguém quer ter filhos. O caso da Alemanha chega a ser alarmante quanto ao
envelhecimento da população, indo ao ponto de se ter que importar mão-de-obra
estrangeira para a construção civil. Por sua vez, em terras americanas e
latinas, têm-se filhos demais, criando graves problemas sociais devido a
inadequadas estruturas sócio-econômicas, antes que me chamem de neomalthusiano.
Ou seja, cada cultura encara de forma diferente a questão da natalidade.
Pode-se dizer que o filme apresenta essas duas visões de mundo. Gabriel,
argentino, o paizão coruja, que não tem outro assunto senão a sua filhinha,
inclusive não se importando mais em ter um relacionamento afetivo com outra
mulher. E Vicky, a “galega” espanhola independente, que não finca raízes
(embora as procure) e não suporta a má educação e gritaria das crianças. Gabriel
tem a visão mais “sul-americana” da natalidade, de paixão praticamente insana
por crianças (embora não devamos generalizar). Vicky, por sua vez, retrata uma
posição mais “europeia” de uma repulsa igualmente insana por crianças. E, no
meio disso tudo, a filha de Gabriel, Sofia, que, seguindo o clichê de “crianças
de mentalidade adulta”, enfrenta o problema da forma mais irônica possível,
sendo a pessoa mais centrada no meio de dois adultos instáveis. E a graça da
comédia reside aí. Mas fica a impressão de que já vimos isso antes. E muitas
vezes. Lembro-me até de uma novela da Globo lá de 1983, “Corpo a Corpo”, onde Antônio
Fagundes e Débora Duarte faziam um histérico casal em crise e quem tentava
colocar os dois no prumo era o filho, interpretado por um Selton Mello
pré-adolescente. Víamos situações hilárias, onde o filho falava com uma voz bem
grossa, formal e sóbria com o pai frases do tipo: “vocês têm que ser mais
maduros, discutir a relação”, etc. E isso porque não havia a intenção de ser
uma coisa engraçada. O filme segue a mesma linha, embora tenha a intenção de
ser engraçado, só que, curiosamente, foi menos hilário que “Corpo a Corpo”.
Os atores até que foram
bem. Diego Peretti, que interpretou o papel de Gabriel, foi bem explícito nas
características erráticas e caóticas de seu personagem, que se perdia e se
embananava nas tremendas saias justas em que se metia, sendo um bom alvo para a
sua filha Sofia. Esta, por sua vez, era uma menina muito fofinha e esperta, exalando
bastante doçura e despertando simpatia, apesar dos clichês de criança adulta,
que tornavam a coisa um pouco caricata e chata. Já Maribel Verdú, com seu corpo
esguio e atuação firme, despertava muita simpatia e dava grande plasticidade ao
filme.
A comédia tem um
desfecho óbvio, daquele que já sabemos que vai acontecer quando se vê o
trailer. Mas, o que importa? O filme não se presta a voos intelectuais, mas sim
a entretenimento puro, como em tantas outras coisas óbvias que a gente vê por
aí. Quem está a fim apenas de se divertir, tirar um aborrecimento qualquer,
pode ir ver “Sem Filhos” sem medo. Mas, ainda assim, fica a pergunta: “filhos,
tê-los ou não tê-los?”. Qual é a sua opinião?
Cartaz do filme
Cartaz no Brasil
Gabriel e Sofia. Pai e filha
Começando um namoro com Vicky
Mas a mulher não gostava de crianças...
Uma relação conflituosa com Sofia.
Será que elas vão se entender??
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