Instinto
Materno. Corujices E Tragédias.
Um filme romeno no pedaço.
“Instinto Materno” (“Pozitia Copilului”, 2013), dirigido por Calin Peter
Netzer, mostra a curiosa história de Cornelia (interpretada por Luminita Gheorghiou),
uma mãe hipercoruja que bajula com todas as forças o seu filho Barbu (interpretado
por Bogdan Dumitrache), que já está na casa dos trinta anos e não suporta essa
excessiva presença materna. Podemos presenciar diálogos altamente tensos entre
mãe e filho, onde Barbu lança todo o tipo de patadas contra a mãe, que não entende
toda aquela agressividade e se ressente disso. A situação entre os dois se
tornará bem pior quando Barbu atropela e mata um menino de quatorze anos,
deixando o filho revoltado em estado de choque, o que aumenta ainda mais o “instinto
materno” e protetor da mãe, que tentará todos os meios, lícitos ou não, para
que o filho não seja preso.
O filme aborda com
muita eficiência o conflito de gerações. Enquanto Barbu quer mais privacidade
para a sua vida, Cornelia não enxerga que o filho já criou suas próprias asas e
abandonou o lar. Ou talvez já tenha enxergado isso, mas se recusa a aceitar. Isso
provoca conflitos com todos, seja com o marido, seja com a nora Carmen, a quem
Cornelia trata mal como o fazem as sogras das piadas de salão. O que fica muito claro é que há momentos em
que a mãe não tem mais como ajudar o filho, ou seja, é impossível resolver
alguns problemas que só o filho pode resolver. O filme romeno se torna monótono
em alguns momentos, pesando mais em dramaticidade na sua parte final. O grande atrativo
do filme é justamente a difícil situação provocada pelo atropelamento e a morte
do adolescente por Barbu. As relações entre Cornelia e Barbu com a família do
menino morto são carregadas de um sofrimento exacerbado, onde todos têm e não têm
razão ao mesmo tempo. A dor coletiva destroça as almas humanas e fragiliza a
todos e não conseguimos em nenhum momento tomar partido desta ou daquela
família. Num momento, achamos que todos são vítimas de uma terrível fatalidade,
noutro momento que a família do menino é muito severa com Barbu e, em um
terceiro momento, que Barbu merece a prisão e Cornelia é uma tremenda duma
fresca. O conflito de juízos de valores nesse tema torna um filme aparentemente
sem graça em algo especial. Pena que isso se deu mais ao final e a narrativa
foi meio arrastada em seu início e meio. Cansou, mas quem ficou até o fim teve
uma boa experiência. O mais curioso foi escutar o idioma romeno e perceber a
quantidade de palavras parecidas com as do nosso idioma, indício da herança latina
no leste europeu. Por todas essas curiosidades, vale a pena dar uma chegadinha
ao cinema para conferir essa película. Mas é preciso ter um pouco de paciência,
devo confessar.
Cornelia, mãe
hipercoruja.
Barbu, retrato da
melancolia.
Carmen, uma nora
atormentada.
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