Viva
A Liberdade. Mão Dupla De Auge E Ostracismo.
O que é ser livre para
você? Estar em paz com a sua consciência? Mudar o mundo? Rever um antigo amor e
jogar tudo para o alto? Essas são questões que o bom filme italiano “Viva a
Liberdade” aborda. O conceito de liberdade é realmente muito relativo. A prisão
de um pode ser a redenção do outro. O problema é quando e onde podemos nos
encaixar em situações que nos tornam livres.
Vemos aqui a história
de um político italiano, Enrico Oliveri, interpretado por Toni Servillo, o
mesmo ator que foi o protagonista de “A Grande Beleza”, que ganhou o Oscar de
melhor filme estrangeiro no ano de 2014. Esse político encontra-se deprimido e
desgastado, fazendo um tratamento médico à base de antidepressivos, com sua
popularidade em baixa nas pesquisas de opinião nas eleições e sendo severamente
criticado pelos eleitores. Enrico irá jogar tudo para o alto e fugir para
Paris, escondendo-se na casa de sua ex-namorada, para desespero de seu assessor
Andrea (interpretado por Valerio Mastrandrea), que não sabe do paradeiro do
político. A esposa de Enrico então sugere a Andrea que ele procure o irmão gêmeo,
Giovanni Ernani, um professor de filosofia que passou internado um tempo em
tratamento psiquiátrico, pois talvez o irmão ruim das ideias de Enrico possa
ter uma noção de onde o político esteja. O problema é que o professor foi
confundido com seu irmão por um jornalista num restaurante e o entrevistou. A
entrevista recuperou a imagem de Enrico e a crença do povo italiano em dias
melhores. Andrea então teve a ideia de substituir Enrico por seu irmão
professor Giovanni. Enquanto isso, Enrico aproximava-se cada vez mais da
ex-namorada, que trabalhava em cinema, forma de arte muito apreciada pelo
politico. Só que a mulher era casada com um diretor de cinema consagrado, muito
admirado inclusive por Enrico, formando um triângulo amoroso não muito
convencional.
Aí vemos estabelecidas
várias noções de prisão e liberdade. Para Enrico, o irmão político, a prisão
está na fama da vida pública, nas negociações e querelas políticas. Ele foge de
todo isso buscando nos braços da antiga amada sua forma de liberdade, embora
caia na armadilha opressora do triângulo amoroso. Já Giovanni, o irmão
professor, tem como prisão o ostracismo, as ideias sepultadas num pequeno
quarto (antes a prisão era o próprio manicômio!). Sua liberdade começa na
contramão do caminho de seu irmão político, ou seja, a liberdade do professor é
justamente a vida pública e sua fama, onde ele pode divulgar suas ideias para
muitas pessoas, que passarão a ter uma visão mais otimista da política italiana
e do futuro. São pensamentos que libertam o povo e renovam a política. E que
pensamentos são esses? Justamente o reconhecimento da crise, da desilusão e da
luta por um mundo melhor, sem as hipocrisias dos políticos profissionais. Com
isso, o filme mostrou de forma crítica que os valores da classe política estão
tão distorcidos que somente um filósofo louco poderia ser corajoso o suficiente
para fazer um discurso moralmente coerente no meio político.
Enrico, o irmão
político, por sai vez, também vislumbrou uma liberdade e melhora de si, afastando-se
daquele mundo asséptico do poder e se aproximando de suas paixões, ou seja, o
antigo amor e o cinema, arte que ele muito adorava, trabalhando inclusive como
assistente de contrarregra numa filmagem. Assim, para o político, a prisão é a
fama da vida pública e a má situação de seu partido, e a liberdade é a vida
anônima, ao passo que para o professor é justamente o contrário, a fama da vida
pública é uma forma de liberdade e a prisão é o ostracismo dos textos
empoeirados no quartinho.
Pela forma como esses
dois pólos de liberdade e prisão interagem na figura dos personagens irmãos, não
é necessário dizer que Toni Servillo mais uma vez deu grande show,
interpretando os dois irmãos gêmeos de forma deliciosa. O político introvertido
que vai se abrindo aos poucos e o professor alegre e levemente louco, que se
torna cada vez mais racional e coerente à medida que percebe que é uma voz de
esperança ao povo italiano, encontram em Servillo atuações na medida correta,
sem exageros ou caricaturas. Esse senhor italiano elegante e carismático dá
muito charme aos seus personagens, quaisquer que sejam suas características. E
é sempre muito bom vê-lo nos filmes europeus.
Dessa forma, não perca
mais esse filme de Toni Servillo no cinema. É o tipo de película que a gente
vai assistir por causa do ator. E vale muito!
Cartaz do filme.
Servillo já começa bem.
Um político criticado
pelos eleitores.
Que tirava o sono de
seu assessor Andrea.
Mas surge Giovanni, o
irmão louco.
Que conquista a tudo e
a todos.
Informal na
formalidade.
Já Enrico relaxava...
E trocava ideias com a
antiga namorada...
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