O
Fantástico Mundo De Juan Orol. Surrealismo? Não, Bons Filmões B.
Um espanhol nascido na
Galícia, despachado para Cuba pela mãe, que queria casar novamente. Sozinho,
ele teve que se virar para sobreviver. Foi jogador de baseball, pugilista,
piloto de corrida. Fracassou em tudo. Vai para o México para ser toureiro.
Quase morre, e consegue um emprego sujo de polícia secreta com os parentes da
esposa. Mas descobre uma câmara de cinema e é totalmente seduzido pela sétima
arte, tornando-se produtor, ator, diretor, roteirista e o maior nome dos filmes
B do México, sendo constantemente espinafrado pela crítica sua vida inteira.
Esse é o retrato do cineasta Juan Orol, apresentado no deliciosíssimo filme “O
Fantástico Mundo de Juan Orol”, dirigido por Sebastian del Amo e produzido no
ano de 2012.
Por que o filme é tão
delicioso? Porque podemos ver a vida do cineasta contada da mesma forma que
eram seus filmes, ou seja, numa linguagem altamente folhetinesca, sendo isso
uma grande homenagem. A dramatização excessiva, caricata, profundamente
engraçada, nos faz rir até em momentos trágicos de sua vida, como a morte do
filho. Por ser altamente espalhafatoso e caricato, ele foi até rotulado como
uma espécie de surrealista dos trópicos. Mas não é o que parece. O nosso amigo
Orol deve ter sido mesmo um grande realizador de filmes B, bem ao estilo de
nosso Zé do Caixão ou Simião Martiniano, onde não havia espaço para teorias,
mas sim muita intuição, tentativa e erro e uma perspectiva autodidata, forjada
num contexto de baixo orçamento. Os filmes de Orol eram regados a muitos
números musicais com mulheres esculturais dançando ritmos latinos perante à
câmara e uma violência gratuita com tiroteios de metralhadoras ao estilo
pastelão e dramalhão, ou seja, algo tão ridículo que vira cult. É muito legal também perceber que a vida do cineasta foi
narrada de acordo com as tecnologias cinematográficas de cada época. Assim, sua
infância foi feita bem ao estilo do cinema mudo, com intertítulos e tudo para
os diálogos. Sua adolescência e acesso à carreira cinematográfica eram todas em
preto e branco. E os anos de sua velhice foram em cinema colorido. Muito bem
bolado.
Mas, apesar do tom
escrachado e exacerbado de sua biografia, podemos perceber que detalhes
verídicos de sua vida estavam lá, como a morte da primeira esposa, todas as
dificuldades e endividamentos que ele sofreu para fazer seus filmes, as crises
em seus cinco casamentos, geralmente com as novinhas de corpo escultural que
ele escolhia para ser suas atrizes, o incêndio na cinemateca nacional que
destruiu suas películas já na velhice. Assim, se não podemos acreditar em tudo
o que vemos, sentimos que algumas passagens são bem reais. De qualquer forma, é
um filme sobre um homem que ama o cinema, sendo um prato cheio para todo o
cinéfilo. Uma das melhores coisas do mundo é quando o cinema produz filmes que
falam dele mesmo (“Cinema Paradiso” é um dos exemplos mais latentes) e “O
Fantástico Mundo de Juan Orol” não foge a essa regra. Pelo menos, o filme nos
informa ao final que a obra desse cineasta não se perdeu, apesar do incêndio, e
houve um trabalho de restauração de grande parte de seus filmes. Agora, é
procurar no Youtube. Uma das características mais interessantes de seus filmes
é que, bem ao início, o próprio Orol se dirigia ao público, apresentando sua
criação e a sua história, sendo que podemos ver um trecho original dessa
apresentação ao início da película.
Dessa forma, “O
Fantástico Mundo de Juan Orol” é um filme que vale muito a sua atenção. Não
deixe de assistir, principalmente se você é um cinéfilo apaixonado.
Juan Orol (interpretado
por Roberto Sosa).
Fracassou como
pugilista.
Foi apadrinhado pelo
General Cruz.
Então,
mais tarde, decidiu ser cineasta.
Cercado
a vida inteira por mulheres belíssimas.
O
verdadeiro Juan Orol.
Na
velhice.
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