Bela
Lugosi, Um Dos Primeiros Vampiros.
Os vampiros. Esses
seres assustadores da noite, mortos que espalham o medo por aí consumindo o
sangue das pessoas! É impressionante como eles nunca saem de moda. Me lembro de
já ter visto vários filmes de vampiros como os de Christopher Lee (o nosso
conde Dooku de “Guerra nas Estrelas”) fazendo Drácula e Peter Cushing (o
governador Tarkin do episódio 4) interpretando Van Helsing! Lembro-me de “A
Hora do Espanto”, em meus tempos de adolescência e seu remake recente, com Colin Farrell. Lembro-me do ícone “Nosferatu”,
do cinema expressionista alemão da década de 1920 e seus desdobramentos com
Klaus Kinski e até William Dafoe. Lembro-me até de uma comédia com George
Hamilton, “Amor à Primeira Mordida". Sempre há algum filme de vampiro por
aí, é impressionante. As atrizes de cinema mudo que faziam mulheres mais
“fatais” com a maquiagem muito carregada eram chamadas de “vamps”.
Definitivamente, o vampiro é um verdadeiro fenômeno cultural.
Mas quero chamar a
atenção aqui para um vampiro num filminho de 75 minutos lá de 1931. Pois ele
foi interpretado por um baita ator vindo do leste europeu, mais especificamente
a Hungria: falo de Bela Lugosi. Esse ator, nascido com o nome de Béla Ferenc
Deszõ Blaskó em 1882, fugiu de casa aos onze anos e também abandonou a escola
para trabalhar na mineração. Mais tarde, começou a trabalhar em pequenas
companhias teatrais o que o levou para o cinema mudo húngaro. Mas a Primeira
Guerra Mundial interrompeu a sua carreira. Reza a lenda que ele se feriu três
vezes na guerra e passou a ficar viciado em morfina por causa disso. Após a
guerra, ainda fez uns doze filmes na Hungria, mas teve que sair do país por
suas opções políticas, passando uma temporada na Alemanha e, depois indo para
os Estados Unidos, onde interpretou Drácula no teatro, o que atraiu a atenção
do diretor de cinema Tod Browning que chamou Bela para interpretar o vampiro no
cinema.
Essa versão de Drácula
de 1931 com Bela Lugosi é notável por dois aspectos principais. Em primeiro
lugar, a fotografia é de Karl Freund, alemão, que vivenciou todo o processo do
cinema expressionista em terras teutônicas. Foi Freund o câmera de
“Metrópolis”, por exemplo. E, se há um casamento que deu certo no cinema é o do
expressionismo com o vampirismo. “Nosferatu” está aí para não me deixar mentir.
Os elementos expressionistas do Drácula de Lugosi estão evidentes, seja no uso
do contraste claro-escuro, seja em cenários teatrais opressores e rebuscados,
seja no uso de sombras como personagens.
Mas o cenário
expressionista foi acrescido da interpretação de Lugosi, soberba, bárbara! Seu
olhar fixo e penetrante inspira medo até hoje! Essa força do olhar era
amplificada por uma iluminação forte em cima dos olhos num rosto praticamente
mergulhado no escuro, o que causava uma devastadora dramaticidade na cena. A
linguagem corporal de Lugosi também era algo impressionante, principalmente
quando ele ia em direção a suas vítimas, com toda uma gestualidade no movimento
dos braços e das mãos, medonhamente arqueadas, como se fossem as garras de um
animal selvagem. Tudo isso contrastava com momentos em que o vampiro estava
monoliticamente parado em locais sombrios como florestas à noite ou porões de
casas, somente com o seu olhar maligno.
E curioso notar que o
personagem de Drácula nesse filme também muito cresceu em virtude do forte
sotaque europeu de Bela Lugosi. E isso aconteceu num momento em que os sotaques
estavam destruindo carreiras em Hollywood. É que o cinema falado acabara de
aparecer e as estrelas do cinema mudo, sobretudo de origem europeia, não
conseguiram se firmar no cinema falado pelos seus sotaques ou por suas vozes
consideradas engraçadas. Foi um período em que muitos astros perderam seu
emprego. Alguns deles chegaram a vender doces na porta dos estúdios onde
trabalharam como atores famosos e até se suicidaram com tiros na cabeça. Mas
com Lugosi, o sotaque funcionou, já que ele interpretava um personagem de filme
de terror justamente da Transilvânia, ou seja, do leste europeu, praticamente a
mesma procedência de Bela.
Vale ressaltar ainda
que outro ator, Dwight Frye, teve uma boa atuação. Ele interpretou o advogado
Renfield, que é o carinha que chega primeiro ao castelo de Drácula para
oferecer o contrato de aluguel do mosteiro de Londres, para onde Drácula irá
fazer suas vítimas. Após ser atacado pelo vampiro, Renfield se torna uma
espécie de lacaio do conde sombrio, e adora comer baratinhas, moscas e aranhas.
A interpretação de Frye foi muito boa, pois ele tinha que fazer um louco sádico,
mas ao mesmo tempo com crise de consciência das maldades que fazia a mando de
Drácula e com medo de ser punido por seu mestre, ou seja, um homem totalmente
atormentado por vários sentimentos ruins.
Obviamente, as
limitações da época trazem alguns pontos que hoje nos soam hilários, como o uso
de fantoches de morcegos que não convenciam, ou até a presença de tatus como
seres exóticos da noite. Mas isso não tira os bons méritos do filme.
Lamentavelmente, Bela
ficou preso à morfina e à Drácula, ainda fazendo alguns filmes de terror, até
quando o gênero entrou em decadência na década de 1940 e monstros de filmes
outrora sérios apareciam agora como personagens de filmes de humor (o
Frankenstein de Boris Karloff foi pelo mesmo caminho). Lugosi ficou
desempregado pouco depois e foi redescoberto por Ed Wood, diretor de fitas B,
que bancou a saúde de um vampiro já doente e velho. Lugosi morreu enquanto
participava das filmagens de “Plan 9 From Outer Space”, de Wood, em agosto de
1956. Ele foi enterrado com seu traje de Drácula, por decisão do filho e de sua
quarta esposa. O filme “Ed Wood” (1994), com Johnny Depp como Ed Wood e Martin
Landau como Lugosi nos mostra alguns detalhes dos últimos dias desse que foi um
dos maiores Dráculas do cinema. Ah! E vocês podem encontrar o filme do Drácula
de Lugosi baratinho nas Lojas Americanas (sem querer fazer merchandising).
Um Grande Ator
Rosto nas trevas e somente os olhos iluminados.
Dramaticidade extrema
Linguagem corporal. Braços estendidos e mãos
arqueadas
Implacável com suas vítimas
Foto autografada
Decadência com outros monstros, como o
Frankenstein de Karloff
Bela Lugosi com Ed Wood
Em seu leito de morte. Finalmente seu verdadeiro
caixão e descanso eternos
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