Camille
Claudel. Escalada De Uma Tragédia.
Um tormento só. A
anatomia de uma vida trágica. A sensação de impotência diante de um fim
apocalíptico e inevitável. Essas são as impressões de “Camille Claudel”, filme
francês de 1988 dirigido por Bruno Nuytten, estrelado pelo grande par Isabelle
Adjani e Gérard Depardieu. Essa obra de quase três horas foca os anos de
juventude de Claudel, seu encontro com Auguste Rodin, sua decadência e mergulho
na loucura, terminando com sua internação no hospício. Um outro filme mais
recente, “Camille Claudel 1915”, esse estrelado por Juliette Binoche e
realizado em 2013, aborda mais os dias
em que ela estava internada, mas isso é outra história. Vamos agora analisar o
filme que fala de seus anos iniciais.
A história começa com a
família de Camille a procurando desesperada nas ruas, onde nossa protagonista
roubava barro das obras públicas para poder fazer suas esculturas. Fica aqui
claro o espírito livre de Camille e à frente de seu tempo (a segunda metade do
século XIX), que era amparado pelo seu pai, mas repudiado com veemência pela
mãe, que ostensivamente destratava e amaldiçoava a filha. Mas a moça não se
fazia de rogada e continuava na sua carreira de escultora, indo trabalhar e
tomar aulas com Auguste Rodin, o famoso escultor, que tinha a fama de ser
mulherengo. A aluna promissora, que fazia as esculturas por instinto, não
precisando tomar aulas para fazer grandes obras de difícil elaboração, logo
despertou a atenção do mestre que começou a cortejá-la. Apesar dos alertas de
sua amiga, Camille caiu de corpo e alma nos braços de Rodin, misturando sua
vida afetiva e pessoal, com sua vida profissional e artística. Só que havia um
sério problema: Rodin era casado, e o caso com a artista despertava a ira da
esposa, que chegou a colocar a mão da escultora no carvão em brasa. Camille,
então, deu um ultimato a Rodin: ou ela ou a esposa. Obviamente, Rodin tentou
enrolar e Camille se afastou de sua paixão, não sem violentamente sofrer por isso.
Tal sofrimento aparecia em suas esculturas, que abordavam temas cada vez mais
tristes. A depressão de nossa protagonista só afastava ainda mais Rodin, que
decidiu romper definitivamente. A partir daí, foi o começo do fim para a
artista, que já apresentava os primeiros indícios de loucura. Ela acusava Rodin
de prejudicá-la profissionalmente, quando acontecia justamente o contrário. A
moça, desesperada, era extremamente agressiva com autoridades próximas à Rodin
e depois se debulhava em lágrimas, num misto de arrependimento e medo provocado
por um sentimento de perseguição. Suas idas à casa de Rodin à madrugada,
quebrando vidros com pedras e dando altos gritos desesperados também passaram a
fazer parte de seu itinerário de insanidades. Tresloucada, a pobre moça se
tranca em seu atelier não saindo dele
por dias, semanas, meses. Um galerista, impressionado com suas obras, ainda
organiza uma última exposição com suas peças, mas é um fracasso de público.
Para piorar, a escultora aparece com maquiagem pesada e um vestido colorido,
dando grandes gritos na exposição, para desespero de seu irmão Paul, famoso
escritor, que lhe era muito próximo na juventude e que havia produzido um
discurso para defendê-la. Mas a loucura latente de Camille era indefensável. O
fracasso na exposição, acrescido da morte do pai, foram demais para a moça, que
destruiu suas esculturas de gesso no atelier,
refugiando-se definitivamente por lá. Isso forçou a família a interná-la. Ela
ficaria o resto de sua vida no hospício, sendo transferida de um sanatório para
outro, passando os últimos trinta anos de sua vida isolada do mundo exterior,
longe de seu atelier e de sua família, da qual sentia muita falta.
Ufa, essa história real
é muito triste. Mas o filme é uma obra monumental (sem querer fazer qualquer
trocadilho com a arte da escultura), pois consegue mostrar como a escultora era
uma mulher à frente de seu tempo, como suas obras eram de uma maravilha e grandeza
e como sua trajetória de vida foi conturbada, caótica e triste. Tudo isso com
uma Camille Claudel estonteante na pele de Adjani e um Rodin magnificamente
interpretado por um elegante Depardieu. Um filme para ver, guardar e emocionar.
Outro cartaz, bem mais
dramático.
Camille em sua fase
inicial.
Rodin em seu atelier
O encontro dos amantes.
Almoçando na casa dos
pais de Camille. Amassos na hora da sobremesa.
Rodin, impressionado
com um pé esculpido por Camille.
Decadência no barro.
Ataques de loucura
Uma alma atormentada e
assustada.
A verdadeira Camille Claudel. A expressão dos olhos
já diz tudo.
Mais uma foto original
Suas esculturas exprimem muita tristeza
ARTISTA MARAVILHOSA A FRENTE DE SEU TEMPO
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