Aos
Ventos Que Virão. Cangaço, Coronelismo E Violência.
Um bom filme brasileiro
com pouca divulgação. “Aos Ventos Que Virão”, uma produção de 2012, dirigida
por Hermano Penna, mostra a trajetória de um ex-cangaceiro após a morte de
Lampião e o fim do cangaço no sertão nordestino. José Olímpio de Brito teve que
fugir de sua terra natal, pois era perseguido implacavelmente pelo sargento
Isidoro, que caçava e matava todos os cangaceiros sobreviventes. Migrando para São Paulo, trabalhará como peão de
obra e sofrerá todas as discriminações do mundo por ser nordestino. Humilhado,
decide voltar para sua terra natal, onde ingressará na carreira política e
transitará entre a razão das instituições e a tradição de violência de sua região.
O filme faz uma verdadeira
radiografia de nossa História recente, enfocando especificamente as condições subumanas
do Nordeste brasileiro, cujo ambiente seco e inóspito decorrente da exploração predatória
da colonização portuguesa ajuda a gerar uma violência desenfreada promovida por
coronéis que mandam e desmandam em suas regiões. A população pobre reage a essa
violência, surgindo as quadrilhas de cangaceiros, se tornando aos olhos do povo
uma perspectiva de futuro e um exemplo da impetuosidade e desafio às instituições
do governo e aos poderosos, embora devamos nos lembrar que os cangaceiros não faziam
uma resistência sistemática ao poder constituído e até se aliavam a alguns coronéis.
Mesmo assim, os cangaceiros foram uma pedra no sapato do governo, sendo
sistematicamente massacrados. O ambiente violento do Nordeste permaneceu após o
fim do cangaço, assim como as práticas coronelistas, durante o governo JK. O
uso de fraudes no sistema eleitoral como o atraso da entrega de títulos de
eleitor para favorecer os candidatos dos coronéis também é denunciado. É curioso
perceber, nos créditos finais, que apesar do filme ser uma história de ficção,
ele é baseado em fatos reais. Dessa forma, vemos claramente as permanências de algumas
instituições da República Velha no Nordeste em pleno governo populista de fins
da década de 1950 e uma prática excessiva da violência por parte de elites oligárquicas
que ainda mandavam em rincões do interior do sertão. É um filme que nos ajuda a
lembrar que tais fatos não ocorrem de forma estanque no tempo, como alguns
livros de História parecem nos ensinar. Mais uma vez o cinema cumpre sua função
social, sendo uma boa peça ilustrativa do que se é ensinado nas escolas. Vale muito
a pena dar uma conferida neste filme.
José Olímpio e sua
mulher. Buscando um recomeço e fugindo da violência.
Dias de cangaço.
Sempre em fuga.
Saudades de Lampião.
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