Remoção.
Anatomia De Uma Exclusão.
Excelente documentário
brasileiro na área. O filme “Remoção”, de Luiz Antônio Pilar e Anderson Quack,
aborda o processo de remoção de favelas da Zona Sul durante a década de 1960,
que deu origem a comunidades da Zona Norte como a Vila Kennedy, Vila Aliança e
Cidade de Deus. É mostrada de uma forma bem responsável toda a covardia de um
processo de exclusão social de uma população marginalizada e pobre, que ocupava
espaços na área nobre da cidade que estavam cada vez mais valorizados. Assim,
era necessário retirar “aquela gente” dali. Mas o documentário não teve uma
visão parcial. Um de seus realizadores, Anderson Quack, ele mesmo filho de dois
moradores “removidos”, fala que se procurou ouvir todas as partes envolvidas,
desde a professora Sandra Cavalcanti, responsável na época pelas operações de
remoção, passando pelos arquitetos e demais membros do poder público que
participaram de todo o processo, indo até os moradores que sofreram todas as
consequências de ter a sua moradia transferida para outro lugar, como ficar
muito distante de seu emprego e não contar com toda uma infra-estrutura em seus
novos locais de moradia. Ao dar voz a todas as partes envolvidas, o
documentário tem o grande mérito de dar oportunidade ao espectador de tirar
suas próprias conclusões, evitando um tom apelativo na abordagem desse assunto.
Vale ressaltar aqui também que foi feita uma minuciosa pesquisa histórica, com
boa documentação iconográfica sobre as favelas removidas, nos dando uma boa
noção da transformação do espaço urbano na zona sul carioca, e de como
prefeitos do início do século XX como Haussmann, de Paris, e Pereira Passos, do
Rio, foram inspiradores na “civilização” dos espaços da cidade já durante a
década de 1960. “Remoção” é um documentário que nos mostra toda a demagogia do
poder público, ao fazer promessas mentirosas aos moradores removidos, assim
como sua truculência, que demole as habitações dos moradores e leva as pessoas
em caminhões como animais de carga. Impossível não se lembrar dos navios
negreiros ao ver toda a população pobre sendo transferida em condições tão
precárias, não menos precárias que as condições de suas novas moradias. Mas o
filme também mostra pessoas que ficaram felizes com o processo de remoção, não
se tornando, portanto, um lugar comum que apenas critica a elite e defende o
menos favorecido. O documentário tem outro privilégio. Não transformou o povo
removido em vítima. A forma como ele se apropriou do novo espaço mostra também
um jeito de resistir a toda uma violência sofrida.
Só é de se lamentar que
“Remoção” ainda não tenha sido lançado comercialmente. O próprio Anderson Quack
se mostra cético quanto a essa possibilidade. Nós torcemos para que os dois
diretores consigam alavancar uma carreira comercial para o documentário, pois
temos aqui um material de excelente qualidade que merece ser visto por muitas
pessoas. Material que pode, inclusive, ser premiado, como já o foi no RECINE
(Festival Internacional de Cinema de Arquivo). Material que nos ajuda a entender
um pouco mais de nossa sociedade e suas injustiças. Material que mostra como a
violência não pode ser vista apenas como “coisa de pobre”, mas sim uma
responsabilidade de todos nós.
Poder público atua de
forma impiedosa no privado.
Conjuntos
habitacionais. Muitas vezes não deram certo.
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