Heli.
Violência Mexicana Nua E Crua.
Um filme extremamente
violento, de uma crueza e covardia extremas. É o que podemos falar da produção
mexicana “Heli”, que ganhou o prêmio de melhor diretor (Amat Escalante) em
Cannes do ano de 2013. Ao entrarmos no cinema e presenciarmos o “18” negro ao
lado do cartaz, já sabemos que a coisa irá ser barra pesada.
A história fala de um
rapaz mexicano chamado Heli (interpretado por Armando Espitia), que trabalha
numa fábrica de automóveis e vive com a namorada Sabrina (interpretada por
Linda González), seu pequeno filho, a irmã Estela (interpretada por Andrea
Vergara), de apenas 12 anos e o pai. Estela namora o soldado Beto, que está
envolvido na guerra contra as drogas e conseguiu pegar dois tabletes de cocaína
apreendidos pela polícia para vender e fugir com Estela para se casar. Mas ele
será descoberto por policiais que são traficantes e a casa de Heli é invadida
por eles, já que a droga estava escondida na caixa d’água. Mas Heli descobriu a
droga e a jogou fora. O que segue é uma sucessão de cenas de extrema violência,
onde a execução de um poodle dado por Beto a Estela, com o policial quebrando
seu pescoço, é a cena mais leve. O pai é assassinado a rajadas de metralhadora
e vemos a seguir muitas cenas de tortura e o enforcamento de Beto. Heli, depois
de muito ser torturado, é deixado vivo. Estela desaparece nas mãos dos
policiais e regressará depois de algum tempo, estuprada e grávida, não dizendo
uma palavra sequer em virtude do trauma. Heli é interrogado pela polícia, mas
ele não conta toda a história, pois teme que a polícia ache que sua família
esteja envolvida com traficantes se a história da cocaína na caixa d’água for
revelada. Entretanto, a volta dos policiais a sua casa ameaçando-o faz com que
ele decida contar toda a história à polícia. Só que Heli ficará decepcionado
com a policial, que diz que o processo será moroso em virtude da burocracia e
também pelo fato de que a policial está mais interessada nos atributos físicos
do rapaz. O trauma que a família de Heli sofreu foi tão grande que até as
relações íntimas do rapaz com sua namorada ficarão prejudicadas (Sabrina não
quer engravidar de Heli). Nosso protagonista acaba surtando com tamanha pressão
e consegue achar um de seus algozes, matando-o estrangulado, assim como
consegue voltar a se relacionar com sua namorada, com Estela abraçada ao bebê,
totalmente muda, ouvindo tudo na sala ao lado do quarto. Fim.
Ops, aqui nós vemos a
mesma sensação mencionada na resenha do filme brasileiro “Entre Vales”. Parece
que a história acabou no meio, não? O desfecho não foi satisfatório? Mas o que
podíamos esperar? Heli se vingando de todos os policiais, trucidando-os com
armas de grosso calibre? Não, este é um filme mais pés no chão, embora Heli
tenha matado um de seus algozes estrangulado, e nem vemos o rosto do infeliz. Assim
como em “Entre Vales”, nossos personagens sofreram violentos traumas e o filme
acabou justamente no momento em que eles apenas começavam a reconstruir suas
vidas, pois nem sempre nos recuperamos plenamente de nossos traumas. O fim do
filme em tal momento mostra-se extremamente oportuno para dar uma impressão
maior de realidade, para que a coisa não pareça ficcional demais. Ainda porque
a proposta do filme é denunciar a violência extrema do tráfico de drogas no
México de hoje, algo que soa familiar em alguns países da América do Sul que
falam português. A diferença que vemos aqui com relação a “Entre Vales” é que a
tragédia atingiu mais personagens no filme mexicano, ao passo que, no filme
brasileiro, a tragédia atingiu mais um personagem central. O filme mexicano
também parece passar uma descrença maior com relação a um bom futuro, ao passo
que em “Entre Vales” as perspectivas parecem um pouco mais otimistas.
Para finalizar, o bom
filme “Heli” mereceu o prêmio de melhor diretor em Cannes no ano passado e sua
maior virtude foi denunciar a violência do narcotráfico no México
contemporâneo. Só lamentei profundamente os dois cachorrinhos assassinados no
filme. Não suporto violência contra animais...
Cartaz do filme, com a
fofíssima Estela (Andrea Vergara).
Beto e Estela.
Heli sendo ameaçado.
Estela e Heli com o seu
diretor...
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