Como
Um Leão. A História De Um Africano, Que Poderia Ser De Um Brasileiro.
Bom esse filme francês
de 2012, “Como um Leão”, de Samuel Collardey. Um filme que serve para
desmistificar a fábula de que o futebol é um eldorado fácil e imediato para
qualquer miserável do Terceiro Mundo. Muitos de nossos adolescentes hoje em dia
não querem mais saber de estudo, pois acham que podem virar jogadores de futebol
e ganhar muito dinheiro, quando sabemos que a esmagadora maioria dos jogadores
de nosso país ganha salário mínimo. O sonho de uma carreira na Europa também
pode se tornar um grande pesadelo. É o que vemos nesse filme.
A história trata do
senegalês Mitri, um menino bom de bola que vive numa vilazinha de interior. Um
dia, um ex-jogador camaronês, fazendo a pose de olheiro, chega à pequena vila e
escolhe Mitri numa peneira. Ao entrar em contato com a avó do adolescente de
quinze anos, o tal olheiro fala que é necessário dinheiro para levar Mitri para
a Europa, e esse dinheiro seria um investimento para um contrato de 30 a 50 mil
euros. A avó vende seu pomar, que tirava o sustento para a família e pediu
dinheiro emprestado para toda a vila. Um dos amigos de Mitri disse que tudo era
uma enganação e que seu irmão havia passado muitas dificuldades na Europa. Mas
Mitri não lhe deu ouvidos e partiu feliz da vida para a França.
Ao chegar ao Velho
Mundo, já foi barrado no aeroporto, mesmo tendo um passaporte e um visto. Na
verdade, o camaronês era o maior picareta e havia traficado um menor para a
França, para a fúria do agente francês que recebeu Mitri no aeroporto. Logo que
pôde, esse agente se livrou de Mitri, que ficou à deriva na Europa. Depois de
ser ajudado pela assistência social, Mitri acabou encontrando um treinador de
futebol de um timezinho amador extremamente temperamental, que tinha sido
jogador profissional no passado e expulso de seu clube. A partir daí, Mitri vai
ter que matar um leão por dia para mostrar o seu talento até virar um jogador
de futebol profissional, passando por muitos percalços como o racismo até de
seus colegas e a necessidade de pagar a dívida da avó que inclusive acaba
morrendo na pobreza.
O grande mérito desse
filme é mostrar que não basta ser bom de bola para ganhar uma carreira de
sucesso na Europa. É necessária muita dedicação, disciplina e cabeça fria para
enfrentar todas as adversidades que um imigrante africano pode passar na
Europa. Africanos que são tratados como seres de última categoria no velho
continente. Se os jogadores consagrados já recebem chuvas de bananas nos
estádios, o que não acontece com os jogadores que ainda buscam seu lugar ao
Sol? E no caso de Mitri, ainda havia o fator de ele ser muçulmano, e ele não tomava
banho no vestiário com seus colegas após o jogo (no islamismo, um homem ver
outro nu é um grande pecado), sendo chamado de porco por eles e sendo altamente
tripudiado.
O filme opta pelo happy end. Mitri acaba alcançando o
estrelato e se torna um jogador profissional. Mas se ele não tivesse chegado
lá, tendo uma vida muito difícil e sofrida na Europa também não seria nenhuma
surpresa. De qualquer forma, o filme cumpre a função social a qual ele se
propõe ao mostrar uma trajetória de Mitri altamente atribulada por todos os
problemas sociais que os imigrantes ilegais passam na Europa. Isso torna “Como
um Leão” um filme fundamental.
Mitri, que mata um leão
por dia
Mitri e seu treinador.
Muita afetuosidade e dureza.
Operário da Peugeot.
Raro momento de
diversão.
Nas filmagens.
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