Que
Estranho Chamar-se Federico. Doce Caixinha de Memórias.
Excelente filme na
área. O semidocumentário “Que Estranho Chamar-se Federico”, do mestre do cinema
italiano Ettore Scola fala da sua relação com um dos maiores diretores da
História do Cinema Mundial: Federico Fellini. E por que eu chamo de
semidocumentário? Porque Scola não optou por fazer um documentário clássico,
apenas com narrações, imagens de arquivo e trechos de filmes do seu amigo e
ícone. Ele também tentou reproduzir e dramatizar encontros e situações que
estão lá no fundo de sua memória. Vemos, sempre com a ajuda do narrador que
perambula pelas imagens e conversa com você, espectador, os jovens Fellini e
Scola chegando, cada um a seu tempo, no jornal em que começaram a trabalhar os
seus textos e charges, a ida de Fellini ao teatro, os encontros de Scola e
Fellini nos bares da vida quando eles já se conhecem mais intimamente. Tudo
isso dentro de uma atmosfera que sempre nos remete aos grandes filmes de
Fellini, como as ruas noturnas de Roma forradas de motos (alusão a “Roma”, de
Fellini). Scola conta histórias deliciosíssimas sobre Fellini, dramatizadas e
recuperadas com imagens de arquivo, o que transforma o filme numa experiência
altamente íntima do espectador para com essas lendas do cinema italiano. Um
exemplo disso foi a dramatização que Scola fez dos passeios noturnos de carro
que ele e Fellini faziam juntos, dando carona para os mais variados tipos
romanos, indo desde uma prostituta que fazia planos de abandonar a profissão
para viver em outra cidade com o amado numa casa (olha “Noites de Cabíria”
aí!!!!) chegando até a um artista que reproduz com giz no chão grandes obras da
arte universal, que desdenha do cinema (apenas a sétima arte) e está
atormentado porque não consegue fazer as mãos de suas pinturas na proporção
certa (ou muito pequenas ou muito grandes). Esses passeios de carro são, a meu
ver, o ponto alto do filme, pois situações do fundo da memória de Scola vêm à
tona e ele consegue compartilhar conosco o que ele vivenciou, num milagre que
só o cinema consegue.
Dentre outras
curiosidades, o relacionamento entre Fellini, Scola e Marcello Mastroianni
também é citado. Enquanto Fellini tratava Mastroianni como seu alter ego,
obrigando-o a fazer dietas, Scola levava o grande ator italiano para comer o
que quiser, o que rendeu ao diretor uma bronca da mãe de Mercello, que
simplesmente aparece do nada na praia que foi o cenário final de “La Dolce
Vita” e onde estão os dois diretores sentados junto com o ator em cadeiras a
beira-mar. Simplesmente exótico, engraçado, imprevisível, ou seja, felliniano.
Um momento marcante
apareceu nas imagens dos Oscars ganhos por Fellini, que, na opinião do
documentário, foram uma espécie de regozijo e motivo de orgulho para o italiano
médio, para o trabalhador, o funcionário público, o professor, que são
obrigados a engolir os desmandos de uma elite corrupta que está no poder.
Até as imagens do
funeral de Fellini foram usadas, talvez as mais fellinianas de todas, ou seja,
o seu caixão guardado por dois policiais altamente paramentados, um exemplo de
autoridade que Fellini sempre dizia que o artista deveria transgredir. Como
Fellni não aprovaria um desfecho tão sem esperança, “sem um raio de Sol”, Scola
imaginou uma situação em que Fellini foge do próprio enterro, seguido pelos
policiais pelos estúdios da Cinecittá. O grande diretor consegue despistá-los e
termina o filme girando num pequeno carrossel. E a imagem do carrossel se
mescla com imagens caleidoscópicas dos grandes sucessos de Fellini, onde podemos
matar as saudades de astros como Marcello Mastroianni, Anita Ekberg, Vitorio
Grassman, Alberto Sordi, Anna Magnanni, Umberto Tognazzi, etc., etc., etc. Um
documentário com ares de milagre! Memória viva pululando em nossas retinas!
Cartaz do filme.
Imagens lúdicas e
fellinianas
Scola na direção
Números de dança com
dançarinas gordinhas, gordinhas.
Na direção.
Dramatização de
situações reais.
Cena final: Fellini
foge do próprio enterro para brincar no carrossel.
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