Oslo,
31 de Agosto. Tese Sobre Um Suicídio.
Imagine um país onde
você tem tudo à disposição. Bom sistema educacional, saúde, oportunidades de
emprego, estabilidade econômica. Um verdadeiro paraíso. Mas, mesmo com tudo
isso, esse país tem altas taxas de suicídio. Existe um lugar tão contraditório?
Sim! Esse lugar é a Noruega. País desenvolvido por excelência e uma população
aparentemente muito triste, a ponto de várias pessoas estarem dispostas a tirar
a própria vida. Algumas especialistas tentam teorizar esse paradoxo e lançam
mão de argumentos como o frio excessivo, céus cinzentos sem a presença do Sol
na maior parte do ano, muitos meses com longas noites de inverno, em virtude da
latitude elevada. Pois bem. O filme “Oslo, 31 de agosto” busca falar dessa tristeza
do povo sueco, materializada na figura do personagem Anders, um viciado em
drogas que está numa clínica de reabilitação. Após dez meses de tratamento, ele
recebe autorização da clínica para sair para fazer uma entrevista de emprego e
rever amigos e família. Mas nosso personagem não está ainda muito bem resolvido
com o mundo e com si mesmo. Tanto que o filme se inicia com recordações de sua
infância narradas em off e depois uma tentativa de suicídio fracassada de nosso
protagonista ainda na clínica.
O que vemos a seguir é
uma viagem de Anders por um mosaico de várias situações. Primeiro, ele visita
um antigo amigo, companheiro de vícios, que agora trabalha com textos sobre
filosofia, é casado e tem dois filhos. Anders vai revelar a esse amigo próximo
a vontade de se suicidar. O amigo revela que sua aparente vida feliz não é uma
maravilha total, havendo problemas de relacionamento com sua mulher, muito
trabalho, pouco sossego para realizá-lo, problemas de saúde das crianças, etc.
Anders irá então para a entrevista de emprego, que se revela um total desastre,
onde ele confessa ao dono da revista ao qual tenta seu emprego seu passado com
as drogas, saindo repentinamente da entrevista, mesmo com o entrevistador
gostando de seus textos. Nosso protagonista em seguida vai a um pequeno
restaurante e escuta as conversas das pessoas, onde nenhuma ainda alcançou a
felicidade plena: uma amiga confidenciando a outra as dificuldades de
relacionamento com o namorado ou a cômica e extensa lista que uma garota
confidencia a outra do que precisa para ser feliz. Fica claro pela extensão da
lista que é praticamente impossível que ela consiga aquilo tudo
simultaneamente. Enquanto perambula pela cidade o desespero de Anders vai
aumentando, pois sua namorada não retorna suas ligações para retomar contato. E
assim, Anders enche a caixa postal da moça com recados jamais respondidos. Ele irá
a uma festa à noite para reencontrar o amigo próximo com quem conversou durante
o dia, mas o amigo não aparece. Ele então puxa um papo com a aniversariante que
está deprimida por ter chegado aos trinta. Depois sai com convidados e
participa de uma noitada onde se aproxima de uma moça. Mas quando todos decidem
tomar banho numa piscina, ele não entra e se afasta. Como sua tentativa de
suicídio foi num lago, a piscina deve ter sido uma alusão imediata. Sua vida
vazia, sua má integração à sociedade com experiências totalmente frustradas e o
silêncio glacial da namorada o empurraram novamente às drogas. O fim do filme é
emblemático: Anders se droga e depois aparecem vários cenários do filme por
onde nosso personagem passou totalmente vazios, numa alegoria de um provável
suicídio.
Qual é a mensagem que o
filme passa? Que, às vezes, fazemos uma ideia muito utópica do que é a
felicidade. Nos enchemos de expectativas que dificilmente se cumprirão em sua
plenitude e nos tornamos potencialmente infelizes, a ponto de ficarmos cegos
com as oportunidades de preenchermos um pouquinho os vazios que a infelicidade
nos provoca. Ou, dito no popular, volta e meia fazemos tempestade em copo
d’água. A verdadeira felicidade está nas coisas pequenas e na busca por
ambições moderadas que não frustrem totalmente nossas expectativas. Passou-se a
impressão de que todas as amarguras e depressões expressas pelos personagens do
filme poderiam ser evitadas se eles abordassem a vida de uma forma menos
radical. Ou seja, precisamos levar a vida na flauta e, se não conseguimos
alcançar tudo o que almejamos, paciência. Que valorizemos nossas pequenas
conquistas e lutemos por outras. Mas, se não a conseguirmos, pelo menos fica o
alento de que tentamos. Apesar de tudo, ainda vale a pena viver.
Saber aproveitar melhor
as oportunidades.
Às vezes, a felicidade
pode estar à sua frente...
Anders: melancolia, falta
de perspectiva e tendências suicidas.
Tentando o suicídio.
Com família
aparentemente feliz
Organizando as ideias
com o amigo
Aniversariante
balzaquiana deprimida com a idade
Buscar a felicidade nas
coisas pequenas...
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